A jornada inspiradora de Jana Lima, pré-candidata à vereadora pela cidade de Natal (RN)
Doutoranda em Antropologia Social, sua trajetória é marcada por uma forte atuação nos movimentos sociais.
Esta semana, a coluna Eleições 2024 traz um bate-papo com Janaína de Lima, conhecida como Jana Lima. Mulher transexual, tem uma trajetória marcada pela luta popular e pelos movimentos sociais em Natal (RN). Desde cedo, Jana construiu movimentos populares nos bairros e estudantis na universidade, além de coordenar o Levante Popular da Juventude. Sua trajetória é marcada por uma forte atuação nos movimentos sociais, culminando recentemente na luta partidária e na perspectiva eleitoral como pré-candidata à vereadora em Natal. Jana se apresenta como uma representante dos movimentos sociais na Câmara Municipal de Natal, fruto de um processo de organização popular e muita formação política.
A pré-candidata também fez história ao se tornar a primeira mulher transexual gestora pública em um governo do Rio Grande do Norte. De 2019 até abril de 2023, ela liderou a Coordenadoria de Política Pública para a População LGBTQIA+ do estado, e foi presidenta do Conselho Estadual de Política Pública LGBT. No Comitê Intersetorial de Enfrentamento à LGBTfobia do estado, como presidenta, ajudou a implementar os ambulatórios trans, o conselho estadual, editais de cultura para artistas LGBTs, diversas políticas públicas que eram inexistentes, contribuindo e participando desse processo enquanto gestora.
Com uma formação sólida, tornou-se a primeira pessoa trans a se formar como jornalista na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde também concluiu o mestrado em Estudos de Mídia e atualmente está no doutorado em Antropologia Social. Além da gestão pública, tem uma contribuição significativa no campo da pesquisa científica, sempre com um olhar voltado para os direitos humanos e a realidade da população LGBTQIA+.
Como os projetos de sua autoria impactarão a comunidade LGBT+ e a população em geral?
Partindo da experiência que tive como gestora pública da política LGBT aqui no Estado, acompanhei muitas cidades e a falta de direitos sociais e políticas públicas para a nossa população. Contribuímos na saúde com os ambulatórios trans, na cultura, e até na segurança alimentar durante a pandemia, distribuindo cestas básicas para mais de 9 mil famílias LGBTs. A experiência que tive me ajudará na construção legislativa e na destinação de emendas que realmente transformem a vida das pessoas, fortalecendo políticas públicas que não fiquem só no papel, mas se tornem direitos conquistados pela população LGBTQIA+ e outros grupos vulneráveis.
Quais foram os maiores obstáculos que você enfrentou ao tentar implementar suas propostas?
Um dos principais caminhos da nossa luta é garantir a participação social. A população LGBTQIA+ precisa participar das discussões de orçamentos e políticas públicas, ocupando conselhos municipais e estaduais. Outro desafio é a organização popular, incentivando a formação de coletivos e a participação nos movimentos sociais. Além disso, a formação política é crucial para ampliar o acesso aos direitos e melhorar a qualidade da participação política nos espaços decisórios.
Como você pretende continuar a luta pelos direitos e pela visibilidade da comunidade LGBT+?
Continuarei a luta garantindo a participação social da população LGBTQIA+ nos espaços de decisão e debate. A organização popular e a formação política também são essenciais. Vou continuar promovendo formações em escolas públicas, universidades e periferias, construindo uma identidade coletiva e fortalecendo a luta pelos nossos direitos.
Quais medidas são necessárias para combater a violência e a discriminação contra a comunidade LGBT+?
O enfrentamento à LGBTfobia precisa ser intersetorial, abrangendo educação, saúde, cultura e geração de renda. Não pode ser apenas uma resposta da segurança pública. Precisamos de uma rede estadual de proteção social e de enfrentamento à violência contra a população LGBT, envolvendo assistência social, saúde e outros serviços públicos para garantir cidadania e dignidade.
Que mensagem você gostaria de deixar para seus eleitores sobre a importância de votar em candidatos comprometidos com a causa LGBT+?
Quero deixar a mensagem de que podemos sonhar com um futuro melhor. Enfrentamos muitas violências, mas também temos orgulho e resistência. Precisamos nos reconhecer como sujeitos que podem transformar a realidade. Não é um problema ser LGBTQIA+, o problema é a sociedade LGBTfóbica, racista e machista. A candidatura à Câmara Municipal é uma forma de garantir que nossas histórias sejam representadas e de construir uma cidade que valorize a diversidade e a luta da classe trabalhadora.
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