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Foto do escritorPimenta Rosa

A resiliência dos trabalhistas históricos: resgatando o PTB das sombras neoliberais

Atualizado: 12 de dez. de 2023

Eduardo Papa analisa a história do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, que será refundado nesta quinta-feira (14). A plenária acontece das 17h às 21h, no auditório do SindSaúdeRJ, na Praça Floriano 51, 8º andar, Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro.



Na história política do Brasil, Leonel Brizola de destacou como uma liderança na reorganização do país pós-ditadura. A usurpação da sigla PTB por Golbery do Couto e Silva desencadeou sua decadência associada à extrema direita. Vivaldo Barbosa e Brizola Neto resgataram o PTB, enfrentando a transformação do PDT em 'sigla de aluguel' sob Carlos Lupi. Hoje, a dificuldade reside na reorganização do partido e na mudança do cenário político e econômico, com a classe dominante na economia financeirizada. Eduardo Papa, professor e articulista, em seu artigo 'E viva o Partido Trabalhista Brasileiro!' vê uma oportunidade para o país: a reestruturação de uma alternativa política progressista que resgate valores de soberania e promova justiça social, sendo nacionalista sem ser chauvinista. Papa nos leva a uma perspectiva de que o resgate do PTB pode contribuir para uma nova era de prosperidade no Brasil.



 E viva o Partido Trabalhista Brasileiro!*


Uma das maiores imposturas da história recente do Brasil foi a usurpação da sigla PTB dos trabalhistas históricos que se reorganizavam, sob a liderança de Leonel Brizola, no processo de redemocratização, no ocaso da ditadura militar. Como a serpente não teve sua cabeça cortada, mas afastou-se sorrateiramente para espalhar seus ovos, uma das figuras mais nefastas do regime, talvez seu principal artífice, o General Golbery do Couto e Silva, garantiu que Brizola, Darcy Ribeiro, Doutel de Andrade e tantos outros que retornavam do amargo exílio, não pudessem se reorganizar para se apresentar ao povo brasileiro, sob a sigla coberta de glória pelos trabalhadores brasileiros, nos anos dourados de nossa história. Em uma pérfida manobra, a sigla PTB foi entregue a uma parente distante do caudilho Vargas, e iniciou um processo de decadência, que terminou com um fim melancólico, povoada pela extrema direita, milicianos e comandada pelo criminoso Roberto Jefferson e caterva.


Mas não há mal que sempre dure e os trabalhistas históricos como Vivaldo Barbosa e seus herdeiros como Brizola Neto, conseguiram resgatar a sigla da sarjeta. Assumiram na verdade uma tarefa hercúlea, de organizar um partido com todas as exigências burocráticas e, principalmente, a gigantesca missão de se apresentar à altura como herdeiros de uma tradição portentosa na história política do país. Uma posição hoje usurpada no PDT que se transformou em uma sigla de aluguel, com os negócios comandados pelo Sr. Carlos Lupi, que escalou para a política a partir da sua banca de jornal em Copacabana, onde Brizola comprava os jornais.


Não lhes falta espaço político para crescer na simpatia da população. Sou carioca e acho que posso dizer, com convicção, que aquelas centenas de milhares de pessoas que assistiam aos comícios do Brizola, aquelas centenas ou milhares de pessoas que frequentavam e participavam da vida de diretórios do PDT, um dos quais tive a honra de presidir, estão aí. Mais velhos é claro, derrotados pelo poder miliciano é verdade, mas estão aí, apoiaram o PT e o Lula, é claro, pois que, como toda a cidadania, enfrentavam uma ameaça existencial, Alguns se chegaram ao PSOL procurando, e encontrando, acolhimento e conforto, mas não encontraram ainda uma direção clara e direta, como a que o velho Brizola os oferecia.


Creio eu que a maior dificuldade deles não vai ser com os setores populares, o mundo do trabalho mudou, mas é possível buscar formas de aglutinação política transcendentes aos modelos de organização tradicionais, afinal décadas atrás os camponeses nordestinos não criaram suas ligas, com Francisco Julião? A maior dificuldade mesmo estará na classe dominante. Vargas e Goutart surfaram em uma época em que parte da burguesia brasileira trazia seu capital do campo para a cidade e apostava em uma industrialização. Hoje a economia é altamente financeirizada, o latifúndio exportador regrediu a um estágio de representação política que remonta aos tempos do escravismo e nosso país vive o maior processo de desindustrialização da história. Não vejo como possível a reedição do pacto social que sustentou o nacional desenvolvementismo dos anos 1950/1960.


Por outro lado, o cenário externo é favorável, com o desmantelamento do império e o surgimento do mundo multipolar, que parece uma realidade consolidada. Abre-se o espaço para novas parcerias e de maiores possibilidades para o aproveitamento das potencialidades de nosso país. Quem sabe não esteja perto da hora de o mito do país do futuro ter uma chance de virar realidade? Tudo está no devenir, o mundo vive um processo de mudanças profundo, em que as bases em que se assenta a economia mundial há 75 anos estão ruindo e novas relações de poder se estabelecendo.


Considero saudável para nosso país a reestruturação de uma alternativa política que resgate de nossa história os valores de soberania e autodeterminação, mas com uma perspectiva progressista, capaz de trazer a massa popular a participar como agente consciente do processo político; que alie necessariamente a justiça social ao progresso econômico; que seja nacionalista, mas não chovinista; para o qual a democracia não seja uma palavra vazia, mas a construção contínua de uma ferramenta para incorporar a cidadania ao processo de decisão; que abra espaço para a diversidade, sem que essa torne-se um elemento de diversionismo nos elementos fundamentais de unidade da massa popular, e que prestigie e se oriente pelo conhecimento científico, combatendo a ignorância e o analfabetismo político.



Enfim, que os ‘novos velhos trabalhistas’ sejam muito bem vindos em sua volta, que cheguem para ajudar o nosso povo a remover o entulho do neoliberalismo e neofascismo, com o qual ainda convivemos e ajudem na construção de uma nova era de prosperidade e paz para nossa gente, com a consciência que a tarefa exigirá muita luta.




*Eduardo Papa é professor de  História, jornalista e artista plástico    

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