'Ainda Estou Aqui': a entrevista exclusiva de Fernanda Torres e Walter Salles à CNN
Com a cerimônia do Oscar, que acontecerá no próximo dia 03/03, se aproximando, a produção brasileira segue como uma das grandes apostas da temporada, carregando consigo uma poderosa mensagem sobre memória, resistência e justiça.
Na mais recente edição do programa apresentado por Christiane Amanpour*, na CNN, a jornalista entrevistou a atriz Fernanda Torres e o diretor Walter Salles sobre o filme Ainda Estou Aqui. A produção brasileira, que concorre ao Oscar 2025 em três categorias – Melhor Filme Internacional, Melhor Atriz para Fernanda Torres e Melhor Filme –, aborda a trajetória de Eunice Paiva, interpretada por Torres, e os desafios enfrentados por sua família durante a ditadura militar brasileira.
Durante a entrevista, Fernanda Torres enfatizou a importância de representar Eunice Paiva com fidelidade e dignidade. Viúva de Rubens Paiva, desaparecido político do regime militar, Eunice se reinventou como advogada e defensora dos direitos humanos e indígenas. Segundo Torres, a grande preocupação foi evitar qualquer traço de melodrama, preservando a força e a resiliência dessa mulher extraordinária.
Walter Salles, por sua vez, destacou a necessidade de reconstruir tanto a memória da família Paiva quanto a memória coletiva do Brasil. O diretor baseou-se no livro escrito por Marcelo Rubens Paiva, filho mais novo de Eunice, para construir um retrato autêntico e impactante dos eventos que marcaram essa história. Ele também ressaltou os paralelos entre o passado e o presente político brasileiro, reforçando que o filme dialoga com o contexto atual, em que movimentos de repressão ainda persistem, mesmo em democracias consolidadas.
Amanpour questionou Fernanda Torres sobre suas próprias memórias da ditadura militar. Filha de artistas, ela relembrou o ambiente de censura e medo que permeava sua infância, mencionando a interdição de peças de teatro e a perseguição de amigos próximos. Esse cenário reforçou a urgência de contar a história de Eunice Paiva, num momento em que o país enfrenta novas ondas de polarização e revisionismo histórico.
Uma das cenas mais emblemáticas do filme – exibida durante a entrevista – mostra Eunice e seus filhos na praia, enquanto veículos militares passam ao fundo. Para Salles, esse momento representa um presságio, um prenúncio do terror que se abateria sobre a família. Ele ressaltou que o filme evidencia como Eunice precisou lidar com a perda do marido e, ao mesmo tempo, proteger seus filhos da dura realidade.
Torres descreveu a complexidade de interpretar uma personagem que, apesar da dor imensa, mantinha-se firme para garantir o bem-estar dos filhos. Para a atriz, a contenção emocional de Eunice foi um dos aspectos mais desafiadores do papel. A carga dramática da atuação, segundo ela, aproxima-se das tragédias gregas, onde o público sente a angústia da protagonista sem que ela mesma a demonstre explicitamente.
Um dos momentos mais tocantes mencionados na entrevista é a cena em que Eunice decide sorrir para uma sessão de fotos de uma revista, recusando-se a ser retratada como uma vítima. Para Salles, esse gesto ilustra a resistência silenciosa da protagonista e a sua recusa em permitir que sua história fosse reduzida a um melodrama.
A entrevista também abordou as dificuldades de produção enfrentadas durante o governo Bolsonaro. Salles revelou que o projeto levou sete anos para ser concluído, sendo inviável sua realização durante a gestão de extrema-direita no Brasil. Somente com a volta da democracia, representada pela eleição de Lula, foi possível retomar as filmagens. O diretor enfatizou que Ainda Estou Aqui é, em si, um reflexo do retorno da democracia ao país.

*Christiane Amanpour é uma renomada jornalista e apresentadora britânico-iraniana, nascida em 12 de janeiro de 1958, em Londres, Inglaterra. Atualmente, ela é a âncora internacional chefe da CNN e apresenta o programa Amanpour, o programa de entrevistas de assuntos globais da CNN International, que também é transmitido em todo os EUA pela PBS. Verifique as listagens locais. A carreira jornalística de Amanpour abrange mais de três décadas, com um forte foco em reportagens internacionais. Ela cobriu numerosos eventos significativos, incluindo a Guerra do Golfo, a revolta curda no norte do Iraque e a Guerra da Bósnia. Sua reportagem foi creditada por trazer atenção global a esses conflitos. Ao longo de sua carreira, Amanpour recebeu vários prêmios e honrarias, incluindo o Prêmio Edward R. Murrow (2002) e o título de Comandante da Ordem do Império Britânico (CBE) em 2007. Ela é conhecida por suas reportagens aprofundadas e entrevistas provocativas, tornando-a uma figura respeitada no mundo jornalístico.
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