Aumento da violência homofóbica ameaça comunidade LGBTQIA+ na Costa do Marfim
Campanhas de ódio nas redes sociais têm impulsionado ataques físicos contra homossexuais e transexuais, expondo vulnerabilidades em um país historicamente mais tolerante.

A Costa do Marfim, tradicionalmente vista como um refúgio de tolerância para a comunidade LGBTQIA+ na África Ocidental, enfrenta um preocupante aumento de atos homofóbicos. Conforme entrevue.fr, campanhas de ódio nas redes sociais têm gerado violência física, especialmente contra homossexuais e transexuais, com organizações relatando dezenas de ataques nas últimas semanas. A escalada de discursos odiosos, amplificados por influenciadores digitais, está levando a confrontos violentos nas ruas, especialmente em bairros mais pobres da capital Abidjan, evidenciando o impacto da intolerância virtual no mundo real.
Plataformas como TikTok, Facebook e YouTube se tornaram terreno fértil para a disseminação de discursos homofóbicos. Um dos principais catalisadores desse aumento de violência foi o influenciador Ibrahim Zigui, com mais de 230 mil seguidores no TikTok, que em suas postagens critica o que chama de 'exposição excessiva' da comunidade LGBT+, incitando a intolerância. Os termos locais depreciativos 'woubis' (para homens gays) e 'leles' (para lésbicas) são amplamente utilizados nessas campanhas.
O discurso de ódio virtual rapidamente transcendeu para a violência física. Em Yopougon, um bairro de classe trabalhadora em Abidjan, um salão de beleza gerido por mulheres transexuais foi brutalmente atacado por uma multidão, destacando o impacto direto que essas campanhas online têm sobre a vida cotidiana.
Organizações de direitos LGBT+, como o Movimento Social LGBT da Costa do Marfim, relatam pelo menos 30 ataques físicos desde o início de agosto. Brice Donald Dibahi, fundador da ONG Gromo, expressa profunda preocupação com a gravidade e a frequência dos ataques, considerando a situação sem precedentes no país. Louna, diretora da ONG Droit à la Différence (DADI) e mulher transexual, revela que as ameaças são constantes, com agressões verbais como 'Você está pervertendo a sociedade, então você não deve existir' se tornando comuns.
Em resposta ao aumento da violência, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) emitiu um apelo para que a população renuncie à violência e enfatizou a necessidade de proteger os direitos da comunidade LGBT+ sem comprometer os valores culturais marfinenses. No entanto, o governo da Costa do Marfim, que mantém uma posição neutra em questões de orientação sexual, observa a crise com apreensão, pois o Código Penal do país não reconhece oficialmente a orientação sexual como motivo de discriminação.
Embora a Costa do Marfim tenha historicamente mostrado maior tolerância em comparação com outras nações africanas onde a homossexualidade é criminalizada, essa recente escalada de violência evidencia os desafios profundos e persistentes enfrentados pela comunidade LGBT+. A crise atual revela uma sociedade cada vez mais dividida sobre questões de sexualidade e direitos humanos, reforçando a urgência de respostas políticas e sociais que promovam a inclusão e a segurança para todos.
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