Camila Peçanha: a vez e a voz da favela e da comunidade LGBTQIA+ no Rio de Janeiro
Candidata a vereadora pelo PT/RJ, Camila compartilha sua trajetória de vida e apresenta propostas voltadas para a inclusão e igualdade na cidade do Rio de Janeiro.
Na coluna Eleição 2024 desse domingo trazemos Camila Peçanha, candidata a vereadora pelo PT/RJ, se apresenta oficialmente como uma nova força política na cidade do Rio de Janeiro. Nascida e criada na Vila Kennedy, Zona Oeste da cidade, Camila, de 28 anos, é uma mulher negra, lésbica, mãe, praticante do candomblé e estudante de direito. Sua candidatura surge como uma resposta às desigualdades sociais que enfrentou desde a juventude, quando, ainda adolescente, começou a trabalhar para sustentar sua família.
Com uma trajetória marcada pela superação de desafios e uma carreira construída em diversos empregos informais, traz para a campanha a experiência de quem viveu de perto as dificuldades da vida na favela. Agora, como candidata, Camila Peçanha propõe representar a juventude e a comunidade LGBTQIA+ na Câmara Municipal, com foco em projetos que garantam direitos, visibilidade e oportunidades para essas populações.
Segue a íntegra da entrevista.
Qual a importância de uma maior representatividade no parlamento na luta pelos direitos e visibilidade da comunidade LGBT?
Nós ainda estamos numa sociedade em que lutamos pela nossa qualidade de vida, pela nossa segurança e pela oportunidade de trabalho digno para a comunidade. Então, ainda precisamos muito, muito, muito de representatividade, não só no parlamento, mas em todos os espaços. Ter campanhas que hoje se colocam à disposição de construir uma cidade menos homofóbica, uma cidade que inclua a comunidade LGBT dentro do orçamento, é uma prioridade.
Quais são os maiores obstáculos de uma campanha LGBT?
Os maiores obstáculos de uma campanha LGBT, sem dúvida nenhuma, são ganhar as ruas, conquistar mentes e corações, e saber que, para isso, será necessário passar por pessoas homofóbicas e, no meu caso, como uma mulher lésbica, por pessoas lesbofóbicas. São pessoas que, de fato, ainda não entendem ou buscam não entender a legitimidade dos nossos corpos, do nosso amor, da nossa família. Acho que isso é um grande desafio, e a gente encara todas as vezes que ganha as ruas, principalmente nos cenários de comunidade, de favela.
Quais são os principais projetos e iniciativas que você pretende propor na Câmara Municipal para melhorar a qualidade de vida da população LGBTQIA+?
A nossa campanha tem como um dos pilares a comunidade LGBTQIPN+, e algumas das propostas que pretendemos executar na Câmara, caso eleita, incluem a implementação do CRD, o Centro de Referência à Diversidade, nas quatro regiões da cidade. A manutenção e ampliação de políticas públicas de geração de renda, incentivando a criação de cooperativas e empreendimentos de economia solidária para a população LGBT, com prioridade para travestis e transexuais, bem como o empreendedorismo individual e a inserção no mercado de trabalho. Existem muitas prioridades para a comunidade LGBT hoje, mas considero essencial a implementação dos CRDs nos quatro cantos da cidade e a manutenção e ampliação dessas políticas públicas, para que possamos focar na geração de renda para a comunidade LGBTQIA+, especialmente para pessoas travestis e transexuais. Isso é um passo importante para termos uma cidade mais igualitária para a nossa comunidade. Um dos principais pontos para combater a violência e a discriminação contra a comunidade LGBT+ é a educação. Precisamos investir em uma educação que fale sobre pessoas, que transmita aos nossos jovens e crianças o princípio claro do respeito à igualdade de gênero e à diversidade sexual. Acredito que esse é um ponto crucial para as medidas efetivas que precisam ser tomadas na cidade do Rio de Janeiro para combater a violência e a discriminação. Com a educação, conseguiremos modificar o cenário preconceituoso que hoje está imposto na nossa sociedade.
Que mensagem você gostaria de deixar para seus eleitores sobre a importância de votar em candidatos comprometidos com a causa LGBT?
Deixaria um enorme beijo, um enorme cheiro em cada um, mas, principalmente, deixaria a mensagem da importância de nos organizarmos. Historicamente, nosso país, a política, as leis foram divididas e pensadas por pessoas que não éramos nós. Agora, temos a oportunidade de fazer diferente, a oportunidade de eleger um número expressivo de candidatos LGBTs. Temos muitos candidatos bons, com propostas efetivas, com um olhar aprimorado e delicado, que precisamos para a nossa comunidade e para as especificidades dentro da nossa comunidade. Nós não somos todos iguais, somos iguais na luta, mas temos demandas específicas e singulares que precisam ser tratadas e abordadas dentro do nosso poder executivo na forma pragmática que merecem, e só conseguiremos isso quando elegermos mais candidatos LGBTs.
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