Festa da Chiquita: 20 anos de patrimônio e memória
Esse ano o evento realizará sua 47• edição e trará a temática de resgate do valor histórico da festa para a tradição e perpetuação do orgulho LGBTQIAPN+ na capital do Pará
Rubens Alves
Especial para o PIMENTA ROSA
A “Festa da Chiquita” é um evento tradicional na capital paraense há mais de 50 anos. O evento surge nas avenidas de Belém no período do carnaval, através dos blocos que movimentavam as ruas em 1974, período em que a comunidade LGBTQIAPN+ era estigmatizada pelas leis e governos da época. Muito por conta disso, o evento que hoje é idealizado por Eloi Iglesias, sempre foi atribuído a adjetivos como força, resistência e luta pelo espaço de todos em sociedade. Após três anos, a atração migrou para a Praça da República, localizada no bairro da Campina, e se mantém até hoje em espaço público, movendo ao longo de sua existência mais de 50 mil espectadores em uma programação que já faz parte da agenda cultural no período do Círio de Nazaré.
Em 2004, a festa foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Unesco como patrimônio imaterial cultural do estado do Pará, mas não é de hoje que o evento traz consigo pautas importantes para a comunidade. Este ano, a temática irá explorar todo o valor histórico e cultural que a Chiquita impactou desde os primeiros anos de sua existência. Fazendo seu aniversário de 20 anos como patrimônio, a celebração faz parte da história de diversas pessoas que passaram pela festa, o movimento surge como resistência e hoje pode trazer consigo orgulho da revolução que fez e ainda faz conquistando cada vez mais espaço, não só nas ruas como no meio cultural.
Eloi Iglesias, idealizador da festa desde 1974, comentou sobre a importância da festa para a história do Pará.
'É importantíssimo que a gente fale cada vez mais o quanto a Chiquita possui valor inestimável não só para a comunidade LGBTQIAPN+ como para a história de Belém. Trabalhamos muito para ter nosso lugar de fala e conseguir discutir de forma ampla nossos direitos e o orgulho que devemos carregar conosco. Não existem mais armários, nós já saímos de lá faz tempo, e é imprescindível que possamos transmitir isso para a geração que estão vindo e trazendo consigo novas narrativas'
Tradicionalmente, a Festa da Chiquita ocorre após a romaria da Transladação, no sábado, e contará com uma ampla programação e atrações de fora do estado que prometem agitar a madrugada do dia 12. A festa traz consigo o conceito de pagã, saindo do lugar de profana, estigmatizada e colocada como algo afastado da igreja. Esse ano promete se reinventar ainda mais dentro de sua proposta, ampliando o debate sobre saúde mental para pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ e fomentando a cultura e orgulho de segurar a bandeira da diversidade, dialogando com as pessoas que marcam presença há anos, como também com a juventude que está descobrindo esse universo.
Festa Gloriosa
O carnavalesco e apresentador Milton Cunha lembra com muito orgulho do dia em que, ao lado da cantora Gretchen, recebeu o Veado de Ouro, honraria máxima da Festa da Chiquita. Para ele, o evento divulga a alegria e a própria religiosidade do Pará, já que os integrantes da Chiquita esperam e bebem em silêncio a transladação da Virgem de Nazaré, que sai do Colégio Gentil Bittencourt em direção a catedral basílica. Somente após a passagem da santa que começa a festa em si.
'É uma festa gloriosa, muito importante culturalmente. É muito bonito ver o espaço para uma festa profana dentro dos festejos do Círio. O Elói Iglésias está de parabéns pelo evento. No meu ano, eu e Gretchen recebemos o Veado de Ouro. No ano passado foi o Paulo Vieira. A Festa da Chiquita divulga o Pará, divulga o período do Círio que é um momento muito especial para os paraenses', concluiu Milton Cunha.
Comments