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  • Foto do escritorPimenta Rosa

Jordhan Lessa: uma vida de superação e luta pela inclusão LGBTQIA+ no Brasil

Ativista, quebrou barreiras e inspira a comunidade trans no país, ao se tornar o primeiro servidor público da cidade do Rio de Janeiro transgênero. Pai e avô, é escritor e palestrante com 10 anos de trabalho reconhecido e premiado.



No cenário de um Brasil diverso e multifacetado, Jordhan Lessa se destaca como uma figura notável, não apenas por suas conquistas pessoais, mas por seu compromisso incansável em lutar pela inclusão da comunidade LGBTQIA+. Nascido em 1967, Jordhan é um sobrevivente, pioneiro e ativista que quebrou barreiras em sua carreira e continua a inspirar pessoas em todo o país.


Um líder na luta pela inclusão da comunidade trans no Brasil, a jornada de Jordhan para se tornar o primeiro guarda municipal transgênero do Rio de Janeiro não foi isenta de desafios. No início, ele experimentou receio e apreensão sobre como seria recebido no ambiente de trabalho, temendo o preconceito que já havia enfrentado ao se identificar como lésbica.


Entretanto, aos 48 anos, ele tomou a decisão de viver autenticamente como quem realmente é. Embora o preconceito ainda persista, a forma como ele enfrenta essa adversidade mudou. Agora, Jordhan não permite que o preconceito o afete emocionalmente e continua a fazer seu trabalho tanto dentro quanto fora da Guarda Municipal do Rio de Janeiro, conquistando o respeito de colegas e superiores.


Cotas

Ao comentar sobre a decisão do Ministério Público da União (MPU) de instituir sistema de cotas para inclusão de pessoas transgênero nos concursos públicos assim como já acontece na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMRJ), Jordhan reconhece a sua importância, justificando que essas medidas são passos positivos, mas também destaca que há mais a ser feito.


No caso da PMRJ, permitir o uso do nome social é um avanço, mas há outras questões a serem abordadas, como o direito ao uso de banheiros. No entanto, o MPU está tomando medidas mais abrangentes ao incluir cotas não apenas em concursos, mas também para serviços terceirizados, reconhecendo a importância da diversidade nas instituições públicas.


Penso que são dois grandes passos que iniciam a caminhada por um longo caminho que precisa ser percorrido, porém são caminhos distintos. Não basta só permitir o uso do nome social, é preciso bem mais para que as nossas existências nas instituições de Segurança Pública sejam naturalizadas. Enquanto houver uma discussão sobre nossos direitos básicos, como por exemplo, o uso do banheiro, teremos que vencer várias batalhas por dia para nos mantermos vivos e minimamente equilibrados’, analisa.


Comunidade trans

A comunidade trans no Brasil enfrenta uma série de desafios significativos, incluindo discriminação e violência. Jordhan resume a experiência em uma única expressão: ‘manter-se vivo/viva/vive’. Segundo ele, além da violência física, as pessoas trans enfrentam outros tipos de violência, como a morte civil, psicológica, moral e afetiva.

A busca por paz e a constante necessidade de defesa e sobrevivência tornam a vida um desafio constante. Jordhan destaca que a comunidade trans está sempre buscando uma saída de emergência, pois nunca sabe quando terá que se defender ou fugir para continuar existindo.


Acho que posso resumir em uma única expressão: ‘manter-se viva/vivo/vive!’, porque não é só a morte física que nos é imposta, todos os dias, de alguma forma tentam nos matar de várias formas, morte civil, psicológica, moral, afetiva. A morte física é a síntese de todas as outras. Como viver, estou falando viver de verdade, não sobreviver, quando não temos paz? Eu sempre digo que uma pessoa trans está sempre buscando a saída de emergência, pois nunca sabemos em qual momento teremos que nos defender ou fugir para continuar existindo’, afirma.


O perdão e a gratidão

Em seu livro, ‘Missão Vencer – Gratidão’, Jordhan aborda os temas da gratidão e aceitação. Ele descreve como esses sentimentos o ajudaram em sua jornada de autodescoberta. Jordhan encontrou equilíbrio ao descobrir a verdade sobre suas origens e entender que uma mentira contada no contexto de 1967 foi a causa de seu sofrimento. Ele passou a perdoar e a sentir gratidão, o que o libertou para começar uma nova história a partir de sua verdadeira identidade.


Embora Jordhan seja humilde em relação ao rótulo de ‘exemplo’ ou ‘representatividade’, sua luta e conquistas o tornaram uma figura inspiradora para outros membros da comunidade trans. Ele enfatiza a importância de cada indivíduo se representar e ocupar espaços, fortalecendo uns aos outros.


Jordhan também desempenha um papel ativo no Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT) e no Conselho Municipal em Maricá, buscando promover a inclusão e os direitos da comunidade trans:


Tenho muito cuidado com esse lugar de ‘exemplo’ e ‘representatividade’. Não me acho exemplo, apenas luto com as armas que tenho que talvez pareçam mais diplomáticas, pois primo pelo diálogo e pela escrita para adentrar espaços que, para mim, de outra forma não seria possível’.


E continua:

Às vezes me parece que para alguns a impressão é que tudo já foi dito e entendido, mas não é bem assim, tem gente da nossa própria comunidade LGBTQIAP+ que ainda não entendeu as mudanças que ocorreram, imagina quem está de fora? Tem muito trabalho para ser feito se quisermos realmente mudanças significativas para todes, lembrando que falo de Brasil, esse país de dimensões continentais que vai muito além de suas capitais. Talvez os meus 56 anos (quase 60) e toda a bagagem acumulada me façam ter esse olhar mais conciliador’.



Transfobia e preconceito no Brasil

O Brasil lidera as estatísticas de assassinatos de pessoas trans, uma realidade que Jordhan encara com profunda tristeza. Ele destaca que as mulheres trans e travestis são as maiores vítimas, e os motivos por trás desses crimes incluem a revelação da identidade de gênero, que desencadeia os desejos de seus agressores. Mesmo homens trans não estão isentos de violência e discriminação. Além disso, a impunidade é um problema sério, pois a investigação de crimes contra pessoas trans muitas vezes é negligenciada.


Jordhan enfatiza a importância de educar a sociedade sobre questões de identidade de gênero e letramento LGBTQIA+. Ele argumenta que, embora muitas pessoas possam pensar que tudo já foi dito e entendido, há muito trabalho a ser feito. Ele atua como palestrante e mentor, buscando compartilhar conhecimento sobre diversidade e inclusão, e está desenvolvendo um curso para capacitar as pessoas trans com habilidades que possam ser um diferencial no mercado de trabalho.


Não basta contratar, é preciso manter, fazer com que a pessoa permaneça, cresça na empresa e seja tratada com o mesmo respeito e direitos dos demais colaboradores. Para que isso seja possível a sociedade precisa entender sobre questões que ainda estão revestidas de um preconceito atravessado por muitas outras camadas que vão desde o total desconhecimento até dogmas irracionais’, finaliza.

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