Jovanna Baby desfilará pela Paraíso do Tuiuti no enredo sobre Xica Manicongo

Escola destaca a história da primeira travesti do Brasil em desfile que exalta resistência e ancestralidade negra e trans

A ativista e ícone LGBTQIA+ Jovanna Baby foi convidada para desfilar na Marquês de Sapucaí pela GRES Paraíso do Tuiuti. A escola de samba, que se prepara para apresentar um enredo sobre Xica Manicongo, a primeira travesti registrada no Brasil, trará para o carnaval de 2025 uma celebração à resistência, ancestralidade e à luta pela identidade de pessoas trans e negras.

Jovanna Baby compartilhou sua emoção nas redes sociais ao comentar sobre o convite: 'É um misto de emoções únicas. A reparação está em curso. Ser convidada para desfilar na elite do carnaval carioca é simplesmente arrebatador. Xica resiste em nossos corpos trans negros. A felicidade me define', afirma, emocionada.

O convite veio em um momento importante para o país, que mais uma vez lidera o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans e travestis, destacando a urgência de um debate sobre transfobia e a luta por igualdade.

O enredo, intitulado 'Xica Manicongo: O Traviarcado e a Resistência Negra', foi desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos e resgata a trajetória de Xica Manicongo, uma mulher trans africana trazida como escravizada ao Brasil colonial. A narrativa aborda sua luta contra a opressão, sua afirmação como mulher e sua força em preservar sua ancestralidade e identidade, mesmo sob a repressão da Igreja e da sociedade da época. Xica, registrada inicialmente como Francisco Manicongo, desafiou as imposições de gênero e culturais da época, transformando-se em um símbolo de resistência.

Com referências ao candomblé, ao catimbó e à cultura bantu, o enredo faz uma ponte entre o passado e o presente, mostrando como as lutas travadas por Xica ainda ecoam nas reivindicações da comunidade trans nos dias de hoje. "Nada há de ter sido em vão. O futuro é travesti", afirma a narrativa apresentada pela escola.

A presença de Jovanna Baby no desfile carrega um simbolismo ainda mais forte por sua trajetória como uma das figuras mais emblemáticas do movimento trans no Brasil. Há décadas, ela luta contra a transfobia e o racismo para garantir direitos e dignidade à população trans e travesti. Para ela, a participação no desfile é um marco de reconhecimento e representatividade: "Bora transicionar a passarela do samba, a Marquês de Sapucaí", declarou com entusiasmo.

Além de ser uma celebração artística e cultural, o desfile promete ser um ato político e social, chamando a atenção para o cenário de violência enfrentado pelas pessoas trans no Brasil. A história de Xica Manicongo, ao ser levada à maior festa popular do país, reafirma a força de uma comunidade que resiste e reescreve sua história a cada dia.