Laura Finocchiaro: "Não existe um mercado independente. Ou é mainstream ou é invisível"
- Pimenta Rosa
- 16 de abr.
- 16 min de leitura
Na segunda parte da entrevista exclusiva ao Pimenta Rosa, Laura denuncia os obstáculos enfrentados por músicos fora do circuito comercial, critica a fragmentação da comunidade LGBTQIAPN+ e clama por reconhecimento às mulheres e à cultura independente.

Foto divulgação
Com 42 anos de carreira, 19 álbuns lançados e centenas de composições espalhadas por coletâneas no Brasil e no exterior, Laura Finocchiaro segue movida por uma inquietação criativa e por uma crítica afiada ao sistema cultural vigente. Se, por um lado, o reconhecimento vem com a inclusão de sua música em produções como Onda Nova e reprises da TV Colosso, por outro, a artista não poupa críticas à precariedade do cenário para artistas independentes — sobretudo mulheres e pessoas LGBTQIAPN+. 'Não existe um mercado independente. Ou é mainstream ou é relegado ao nada', dispara.
Na segunda parte da entrevista exclusiva ao Pimenta Rosa, Laura fala sobre sua atuação à frente do programa O Brasil de Laura, na web rádio Antena Zero, onde destaca vozes femininas e independentes invisibilizadas pela indústria. Com franqueza e emoção, ela denuncia a ausência de estrutura para quem está fora do eixo comercial, cobra políticas públicas mais eficazes e compartilha sua visão sobre a fragmentação da comunidade LGBTQIAPN+: 'Com tanta letrinha, ao invés de unir, parece que separa'. Ao mesmo tempo, reafirma seu compromisso com a arte como ferramenta de resistência, afeto e transformação. 'Sem me corromper, pretendo ser reconhecida. Quero passar a minha filosofia de amor e não violência.'
Veja, agora, a segunda parte da entrevista!

‘Gayvotas Futebol Clube’ carrega uma forte simbologia de resistência e inclusão. Como foi compor uma canção com esse contexto?
Um grande orgulho, porque eu substituí a compositora, que a princípio seria convocada para esse trabalho: Rita Lee. Eu já estava num patamar sendo vista e escutada como uma pessoa que compõe uma música pop brasileira de qualidade. Em primeiro lugar, foi um grande orgulho. Segundo, era a tradução do meu próprio mundo, porque eu venho, meu corpo musical e a minha cabeça foi construída no final dos anos 70. Eu nasci em 62. No final dos anos, começo a me entender como gente, a entender a sociedade heteronormativa, que para eu assumir a minha postura como guitarrista, cantora, compositora e assumidamente bissexual, eu teria que ter muita personalidade, muita ética e orgulho. Eu vivi e fiz, e levantando a minha guitarra, eu empunho e empunhei e ela se torna a minha arma, a minha própria música.
Para mim, não foi difícil compor a música, porque eu trago no meu espírito, esse espírito da onda nova, de liberdade, de ruptura de preconceitos, em busca sempre de um mundo melhor, mais tolerante e mais justo para todas e todos e todes. Então, para mim, quando eu escrevo: ‘Onda Nova, jogar com o coração na frente, Onda Nova, jogar a emoção para cima’... Imagina, eu fazia faculdade de Educação Física, estudava yoga, já fazia macrobiótica, não comia carne, tinha estudado do-in, automassagem, toda a técnica de voz, de autoconhecimento para poder me tornar uma pessoa de palco e ter uma atitude, uma performance ok, que tivesse a ver com a minha própria música nos palcos, porque na época, nos anos 80, a gente tinha, como eu tenho até hoje, uma atitude performática nos palcos.
Então, precisa do corpo para expressar a lei da voz. E essa conexão entre corpo, alma e espírito, tudo isso, faz parte dessa composição. Tudo muito orgânico, porque eu sou essa pessoa, essa onda nova que traz a boa nova da liberdade, que busca a liberdade e justiça.
Então, foi só traduzir o que eu já sentia, e essa gana de mostrar o poder da mulher, porque eu já enfrentava o preconceito por ser uma mulher, guitarrista, cantora, compositora, atuando desde o início dos anos 80. E imagina o preconceito que eu enfrentei, ainda mais vindo do Rio Grande do Sul, um Estado conhecido como machista. O Brasil inteiro é, mas no Sul isso ainda é muito mais forte. Então, enfrentando tudo isso, só me empoderou, só me deixou muito mais forte e muito mais confiante de que o meu trabalho tinha uma relevância, porque, afinal de contas, eu estava chegando na cidade, há um ano, recém-chegada e recebendo um convite desse para fazer a canção de abertura de um longa-metragem.
Um grande presente e uma coisa muito fácil que foi compor essa canção, essa harmonia. A harmonia traduz também, não é só a letra. A minha composição, eu trabalho em cima do que um intervalo musical, um acorde, o que ele significa. Tudo é muito coerente dentro da minha composição. Eu traduzo o sentimento através dos acordes, da melodia e da letra. Eu fiquei muito feliz porque o resultado da música é muito maduro.
Aliás, vocês já ouviram? Vai lá nas minhas plataformas, dê o seu like e valoriza essa artista que impunha uma bandeira em nome da nossa liberdade, pioneira no movimento LGBTQIAP+ do Brasil. Não sei se vocês sabem, mas eu fui a primeira cantora e única a subir no palco da 1ª Parada, que não era nem parada, em 1996, 30 pessoas na Praça Roosevelt, e eu estava lá empunhando a bandeirinha em nome do respeito à diversidade.
Depois a diretoria da Parada me chamou para cantar no primeiro encontro, que foi no ano seguinte, para 1500 pessoas. Eu estava lá cantando, tudo sem cachê, tudo por amor. Depois é que veio Edson Cordeiro, começou a subir nos trios comigo, a partir de 97.
Eu abria e encerrava as paradas, sem nunca receber nada em troca. O mundo é tão machista e o nosso movimento tem uma questão de misoginia tão forte, que no livro da parada, que marca os 10 anos da 1ª Parada de São Paulo, o meu nome não consta. Simplesmente por eu ser mulher, por eu ter tido uma atitude de amor e não comercial, e sim por paixão à causa, eu fui desvalorizada. Meu nome não aparece nessa história. Mas eu sei, e quem viu, viu. E um dia eu ainda pretendo lançar meu livro contando tudo o que aconteceu nessa época.
Você tem um histórico de destacar vozes femininas e LGBTQIA+ na sua carreira. Você acredita que a indústria musical está mais aberta para artistas independentes e da comunidade LGBTQIA+ hoje em dia?
Não, não está mais aberta. Ela está usando o nosso movimento, construído com sangue, suor e muita luta. A indústria percebe que isso tem o pink money, porque até o pink money não entrar nas paradas, porque ele foi aparecer quando o prefeito Kassab, que é enrustido, que tem a sexualidade enrustida e todo mundo sabe disso, começou a botar dinheiro na Parada. Quando começou a surgir o dinheiro nesse movimento, as coisas começaram a mudar de figura. Quando a Rede Globo percebeu que esse movimento tinha um poder e tinha penetração, começou a trazer à baila na novela, trouxe o personagem Sandrinho, lá em 1990 e poucos. Logo, a gente já tinha feito as primeiras paradas quando esse personagem Sandrinho apareceu nas telas. Ou seja, o mercado sempre vai na cola da realidade, mas não é por consideração, não é por respeito, não é por nada. Segue sendo uma coisa em nome do dinheiro, do poder e do sucesso. Esse mercado devorador tira pedaço, mas não com nenhuma intenção social. É tirando pedaços, está dando dinheiro aqui, vamos aqui, vamos ali, mas a segregação continua.
Eu, como mulher, sigo sem espaço. Se eu não lutar todos os dias por um espaço, eu não consigo manter o meu trabalho. Não existe um mercado para essa nossa categoria de artista independente. Não existe. Aliás, é uma coisa que escrevo sempre para Margarete Menezes, a nossa ministra da Cultura, mas não existe resposta. O mercado independente não tem estrutura.
Os editais não são suficientes para manter a nossa arte de pé. É desolador e injusto ainda, muito injusto com as mulheres. Esse mercado está valorizando mais os artistas que vêm da letrinha G e da letrinha T, mas a letrinha L e as mulheres continuam invisíveis, ou seja, ainda é um país muito machista, misógino. Essa ainda é a minha luta. Quando você diz que eu tenho histórico de destacar vozes femininas, sim, mas não só vozes femininas e LGBTQIA+.
Não sei se vocês sabem, eu fui a diretora e a produtora musical do primeiro reality show no Brasil, porque eu componho trilha sonora desde os anos 90, trilhas sonoras para os grandes estilistas antes de vir a moda essa coisa do stylist, do fashion no Brasil. Compôs trilhas sonoras para as desfiles de moda dos grandes estilistas como Glória Coelho, Reinaldo Lourenço, Lino Vila Ventura e muitos outros. A partir disso, comecei a ser chamada para compor trilhas sonoras para teatro, para programas de televisão, como a TV Colosso. Sou autora de dois grandes sucessos, aliás, de vários sucessos da TV Colosso, incluindo a música Malabi e a música Pulgas. E aí, a partir disso, a televisão me descobriu e fui contratada pelo SBT para a assinar a direção e a produção musical da Casa dos Artistas. Fiquei oito anos com o Silvio Santos, fiz mais de 20 reality shows, talvez seja a artista mais internada nos reality shows dentro do Brasil, porque eu fiquei 15 anos produzindo trilha sonora de reality show. Depois que eu saí do SBT, eu fui contratada pela televisão Record e produzi o reality show chamado A Fazenda. Nesses 15 anos de televisão, eu sempre promovi a música boa brasileira, dando ênfase, claro, aos artistas independentes, mas também aos consagrados que produzem música de qualidade. A minha promoção sempre foi da verdadeira música boa
Agora eu tenho um programa na Rádio Antena Zero, uma web rádio (antenazero.com), toda quinta-feira, às 23 horas, com reprise domingo, às 10 horas, chamado O Brasil de Laura. Nesse programa eu abro espaço para os artistas independentes e, claro, para as vozes femininas que seguem invisibilizadas pela misoginia e o machismo que impera nesse nosso país, e nesse nosso movimento, que está diluído nas letrinhas. Com tanta letrinha, ao invés de unir, parece que separa as letrinhas: L, G, B, D, Q, I, A, P, E, N, mais. Eu fui casada com a jornalista que cunhou a letra GLS. Essa jornalista se chama Suzy Capó. Eu fui parceira dela por nove anos. Ela foi a diretora do Festival Mix Brasil, ao lado do André Fischer, ela que trouxe o Festival de Nova York, e eu estava ao lado dela quando ela escreveu o primeiro release para divulgar o festival, e por isso ela cunhou a sigla GLS. Eu achava ela muito inclusiva, porque o S incluía tudo. Agora chegamos nessa extensão das letrinhas, mas em vez de nos unir, parece que a gente segue cada vez mais separados, vivendo cada um nas suas bolhas. Eu lamento muito, isso é uma coisa que tem me preocupado muito, o desafeto e a falta de amor desse movimento.
Você lançou 19 álbuns ao longo da carreira. Como tem sido essa trajetória no cenário independente?
Eu me considero uma artista de alta relevância, porque além de eu ser pioneira como mulher, empunhando uma guitarra como compositora atuante desde os anos 80 e com uma obra que figura com centenas de composições, e hoje, dentro do ECAD, eu sou uma das compositoras com mais composição registrada lá. Então, eu tenho um grande orgulho pela minha história, que foi montada pelo orgulho. Eu entendi o valor da palavra orgulho, porque se a gente não tem orgulho, a gente não consegue fazer a própria história. Mas a minha história foi cunhada sempre por amor, porque eu sou essa vegetariana que não come carne, que faz macrobiótica desde os anos 70, que busca uma cultura de paz, que lançou um disco de mantras em meio a tudo isso, com as bênçãos do Dalai Lama, Gandhi Rinpoche, um budista tibetano que já está no céu, mas que me deu as bênçãos para gravar um CD de mantras, mais escutado no mundo inteiro, que teve 80 mil cópias distribuídas pela editora Abril em 1996 e chama Tashi Dele Mantras de Roda. Esse CD é uma cura, são mantras de cura proferidos por Buda Shakyamuni há 2 mil e quinhentos.
O que eu estou te falando com isso? Que eu sou uma artista que tem Disco de Ouro, mas de uma forma independente, porque eu não me vendi nem para a Editora Abril, para ninguém, eu não me vendo, porque eu não concordo com a forma que a indústria do entretenimento produz cultura. Aliás, não produz conteúdo, produz lixo. Então, eu sou uma testemunha dessa indústria, do lixo que ela produz. E eu me orgulho por manter uma obra que tem conteúdo, que tem qualidade. Qualquer álbum que ouvir meu, desde o primeiro que eu gravei, quando eu participei do Rock in Rio 2, em 1991, abrindo o show de Prince, Santana, Alceu Valença, no Maracanã. Eu sou a única artista independente, mulher, a participar do Rock Rio, pioneira nisso também, e levei uma linguagem pioneira para o palco, em 91, que já misturava a linguagem da música brasileira com a música eletrônica.
Naquela época, eu batizei minha música como ‘etnobit’, porque eu trazia a etnia nas melodias, eu trabalhava em cima de etnias, de músicas de escalas orientais, vindas da África, do Oriente, trazia isso para a harmonia brasileira e ainda colocava os grooves eletrônicos. Então, eu chamo de ‘etnobit’ esse meu estilo, do meu primeiro LP lançado em 1992, de forma independente, com um contrato com uma multinacional, que foi a BMG Ariola, e foi o primeiro contrato da história de uma multinacional com uma artista independente, onde eu produzi tudo e eles só tinham que distribuir o LP. Claro que mal distribuíram, porque eles não sabem trabalhar sem ser com jabaculê. A grande indústria só trabalha em troca, pagando para tocar, pagando para distribuir, pagando, inclusive, para vender cópias. Como eu não faço isso, não pago nada para ninguém, acredito que a música tem que ser espalhada de forma orgânica, porque, inclusive, são concessões públicas que têm obrigação de propagar a cultura brasileira. Por isso, me tornei uma artista independente e sou uma artista de vanguarda, militante na causa, porque eu quero justiça e democracia na cultura brasileira.
É muito difícil. Eu trago esse orgulho ao mesmo tempo que trago uma revolta muito grande, inclusive com os colegas de classe, os que fazem sucesso, porque eu acho que eles deveriam usar a voz e o poder que eles têm para defender o mercado cultural brasileiro, e não só para pensar no próprio bico e fazer um sucesso sempre forjado na base de compra de poder e de compra de espaço, enfim. Eu sofro com isso, mas a minha espiritualidade me leva para um lugar sempre de muita paz. Eu medito, eu consigo lidar com esse sofrimento. Mas ele é visível, sabe? A gente tem uma revolta. Não existe um mercado independente, não existe um mercado paralelo. Ou é mainstream ou não é nada, é relegado a uma coisa assim... é um absurdo, inclusive nas plataformas. Se você quiser ter visibilidade dentro do Spotify tem que pagar, tem que pagar as playlists, os views. Um absurdo! Eu topo pagar a minha assessora de imprensa, no caso a minha querida Sheila Gomes, porque ela faz o trabalho profissional, vai pegar o meu release, vai distribuir para os jornalistas, vai distribuir para as redações, vai fazer follow, vai fazer jornalismo. Agora, essa história de copy-paste, pega um release, copia, cola, que é o que a gente está vendo hoje nos impressos, é muito triste, vai levando a cultura para um nada, um vazio absoluto.
Acho que esse cenário independente continua desamparado e é burrice, porque ele pode gerar milhões, porque as pessoas querem novidade. E porque dentro dessa indústria independente existe gente de altíssima qualidade. Basta você escutar meus programas na Antena Zero, em ‘O Brasil de Laura’, para perceber o que tem de gente talentosa dentro desse mercado independente. Não é possível continuar assim. A gente precisa, Margareth Menezes, a gente precisa que essa questão vá além dos editais. Os editais limitam a nossa criatividade e não ajudam a comunidade inteira.
Fica aqui o meu desabafo. Não existe um cenário profissional independente. É a gente se vira matando um cachorro por dia, um leão por dia, né? E tentando espaço, buscando espaço assim na marra. Mas não existe nenhuma estrutura que nos ampare. E governo Lula, democracia, isso é necessário que seja feito. E não só com as minorias. Então, eu faço parte de uma minoria, eu sou branca e mulher, né? Eu preciso desse amparo também. Por favor, aqui fica o meu desabafo.

Além do relançamento do single, você está preparando ‘Malabi’, música que também resgata uma composição dos anos 1980. O que pode nos contar sobre esse novo lançamento?
Primeiro lugar, a canção não é dos anos 80, a TV Colosso aconteceu em 1993, ficou no ar em 93, 94, 95, saiu do ar em 96, e foi um programa de altíssima audiência, e um programa que quebrou todas as barreiras e trouxe uma nova linguagem para o universo da música e da propagação de cultura para as crianças. Eu fui chamada para fazer a composição, e, na verdade, eu fui a primeira compositora da TV Colosso. Eu chamei a minha parceira, poeta gaúcha, Leca Machado, para escrever comigo as composições, e através do meu estilo, que já misturava a música eletrônica com a música brasileira, mas com conteúdo e com qualidade, levei esse estilo para dentro da TV Colosso. E aí foi pioneiro.
Inclusive eu recebi o telefonema de um dos diretores da Som Livre, que se chamava Aramis, na época, que me ligou e falou, Laura, tu inovou o estilo de música para criança. Porque fui eu quem colocou o groove eletrônico, dizendo aqui, fui eu quem colocou essa ideia, essa sonoridade que mixa a sonoridade eletrônica com a acústica para as crianças, usando qualidade de conteúdo. Não era um baboseiro. Tem conteúdo que a gente fez, tem poesia. Isso foi disruptivo, isso foi pioneiro.
Então, a TV Colosso voltou para o Canal Viva, está sendo reprisada desde o ano passado, porque, é claro, a televisão precisa de coisas que têm qualidade e a TV Colosso tem qualidade. O trabalho do diretor Luiz Ferré em cima desses bonecos é de alta precisão, é um trabalho incrível. E não só voltou para o Canal Viva, como voltou agora para os palcos, com um grande patrocinador e uma empresa de produção de espetáculo musical que trouxe para São Paulo o espetáculo e vai rodar com ele nove estados brasileiros, agora nesse primeiro e segundo semestre. Então, assim, volta o sucesso da TV Colosso, e por isso, eu que havia produzido lá atrás para o programa, resolvi refazer uma produção e trazer para o século XXI. Então, fiz uma produção inédita para essa composição minha e de Leca Machado, e produzi lá no Recife, e trouxe uma outra sonoridade para uma labi mais contemporânea.
Mas eu vou falar disso daqui a um mês e meio, dois, quando eu conseguir colocar ele nas plataformas. Daí eu conto detalhes sobre essa produção, com quem eu fiz, como eu pensei, como eu produzi esse novo Malabi do século XXI. Enfim, é uma grandíssima honra, grande honra, participar desse programa que foi um marco na televisão brasileira e que me deu também um grande prestígio dentro da televisão e firmando como compositora, produtora musical e arranjadora de músicas para a grande massa, como foi esse trabalho.
Quais são seus próximos projetos e expectativas para o futuro da sua música?
A expectativa é de reconhecimento de uma artista que tem 42 anos de música, centenas de composições lançadas, não só no Brasil, mas em coletâneas que atingem o mundo inteiro e agora com as plataformas; Com esse filme que atinge também festivais internacionais, o Onda Nova, a minha música lá dentro dessa fita sendo divulgada, tocada, a TV Colosso indo, sendo transmitida por uma televisão de grande audiência, como a Rede Globo, tudo isso me dá, assim, muita confiança no meu trabalho, me mostra que estou no caminho certo, que é seguir estudando música, seguir produzindo música de alta qualidade, pensando nos parâmetros fundamentais da música, que significa harmonia, melodia, ritmo, afinação, a conexão dos intervalos e dos acordes com o sentimento, que era dessa forma até que eu produzi as trilhas sonoras para a televisão. Quando eu produzo um programa de TV e vou sonorizar uma imagem, eu não penso só no som pelo som, eu penso em todos esses parâmetros: intervalos musicais, o que significa o modo do acorde, da escala que está sendo usada. Tudo isso tem um significado. Então, eu espero ser reconhecida, eu espero que a minha obra chegue a mais pessoas, sem pagar, sem fazer corrupção. Isso é corrupção. Você pagar para que órgãos publiquem a sua música é corrupção, uma vez que esses espaços são públicos. Eu estou falando aqui de redes de televisão aberta e de rádios, de concessão pública.
Sem me corromper, eu pretendo ser reconhecida, eu pretendo conseguir passar a minha filosofia de amor, de uma cultura de não violência, de uma cultura aonde a mulher seja visível, a compositora seja escutada, as mulheres sejam respeitadas e a nossa comunidade do arco-íris, LGBTQIAPN+, seja respeitada, tenha espaço nas mídias, porque, aliás, toda cultura vem dessa comunidade, se você parar para pensar. Os melhores artistas são gays ou lésbicos, não querendo generalizar, mas ao curso da história, se você for estudar Hollywood, claro que todos os artistas eram e precisavam ser enrustidos, mas a maioria da comunidade, ou seja, a gente por ter o coração aberto, a gente eu acho que acaba sendo mais criativo. Então, essa comunidade é fundamental para a cultura mundial.
Eu espero ser reconhecida dentro dessa minha luta e que seja sempre uma luta em nome da democracia, de paz, de justiça, de equilíbrio, de troca, onde a gente possa sempre somar as forças para melhorar esse mundo que está desabando. Aliás, eu tenho uma composição que eu vou lançar em breve, que se chama Colapso: um mundo colapsado que a gente vive.
Enfim, os projetos são assim, esse ano eu lancei um single Onda Nova, ainda nesse semestre eu vou lançar o single de Malabi. No segundo semestre eu vou lançar um trabalho icônico meu, que, inclusive, foi mencionado como pioneiro na mistura da linguagem da música eletrônica com a música brasileira pela jornalista Erika Palomino. Essa declara dela faz parte do livro relançou por ela no ano passado: Babado Forte. Eu pretendo relançar essa obra porque ela só está lançada em CD, mas não nas redes. Um disco chama ‘Eco Glitter’, uma palavra que eu inventei lá nos anos 90, que eu fui pioneira ao produzir canções ao lado de, por exemplo, de Caio Fernando Abreu, um dos grandes autores que já está no céu, mas escritores e poetas. E, através da poesia dele, eu compus uma música que foi muito marcante nos anos 80, que chama ‘Jacira no Selvagem Verão’, que eu mostrava a questão da AIDS, esse selvagem verão que a gente vive. Esse trabalho, o ‘Eco Glitter’, eu inventei essa palavra, eco-glitter, porque eu já percebia como a gente vai harmonizar a questão do glitter, da vida urbana, da vida fashion, com a ecologia, com a natureza, porque essa é a minha preocupação. Como fazer um trabalho fashion, eletrônico, vivendo numa cidade urbana e, ao mesmo tempo, sem ofender a natureza, ajudando a cuidar do planeta? Porque a nossa maior questão agora é o planeta. Essa é a questão que tem que nos unir. Então, através do meu trabalho, eu pretendo, além de ser reconhecida daqui para frente, com o lançamento do ‘Eco Blitter’, eu pretendo discutir sobre isso, essa questão do planeta, que tem que ser o nosso que tem no futuro. Se a gente se desentende na doutrina, se a gente se desentende na questão política, vamos pelo menos nos unir em nome do planeta Terra, que está colapsado. E que sem ele a gente não é nada. A gente precisa de água, fogo, terra, água e ar para sobreviver. E a gente colapsou, a nossa humanidade consegue poluir todos os ambientes. A gente precisa agora se unir para resolver essa parada: como preservar o nosso planeta ao mesmo tempo que a gente quer fazer cultura, cultura urbana, se utilizando da tecnologia; como entrar em harmonia com tudo iss.o Essa é a grande questão que eu trago e com o lançamento de ‘Eco Glitter’, que está previsto para o segundo semestre, onde eu vou trazer canções que trazem essa questão que eu lancei em 98, eu pretendo abrir essa discussão.
Mas, assim, a minha expectativa é a de ser descoberta e de ser respeitada pela nossa própria comunidade que continua com alto grau de misoginia. Espero que a nossa comunidade aprenda a respeitar as mulheres e que me respeite, que saiba quem é Laura Finocchiaro, que estude um pouco a história, que olhe lá para trás e perceba a minha luta, o que eu venho pregando para que esse mundo seja mais igual e mais justo. Essa é a minha esperança, de reconhecimento e de união para que a gente defenda o nosso planeta Terra.
Deixo aqui meu beijo, agradeço a oportunidade, fiquei colérica nas respostas, claro, porque tocaram em pontos muito cruciais para mim, que mexem com o meu interior. E como eu sou uma artista orgânica e verdadeira, assim como a minha música é, eu convido vocês para conhecer a minha obra que está postada no meu site oficial, no meu portal www.laurafinocchiaro.com.br, no meu canal oficial no YouTube, Laura Finocchiaro, nas minhas plataformas do Spotify, do Deezer, e venha conhecer, mas venha escutar com o coração aberto para entender essa minha onda que segue nova e vai continuar nova, por amor, por respeito à humanidade, às diferenças. Então é isso: preservando a compaixão e o respeito ao ser humano. Deixo aqui o meu abraço, um beijo de paz de saúde e de sucesso para todas, todos e todos.
Comments