Pesquisa revela que a participação de trans nas empresas não ultrapassa 1%, tanto no quadro funcional quanto na liderança
Os dados fazem parte do estudo Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, que contou com mais de 26 mil respondentes, entre 2019 e 2021.
No calendário dedicado à valorização da diversidade, o mês de janeiro destaca-se por celebrar o Dia Nacional da Visibilidade Trans em 29 de janeiro. Instituída oficialmente em 2004, a data surgiu a partir da campanha 'Travesti e Respeito', uma iniciativa conjunta de ativistas transgêneros e do Ministério da Saúde, voltada à promoção do cuidado com Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Apesar da significativa trajetória desde sua criação, o Brasil, infelizmente, permanece no topo da lista de países que excluem de pessoas trans. No cenário corporativo, por exemplo, a população trans ainda enfrenta desafios consideráveis. Estudos conduzidos pela Gestão Kairós revelam que a participação de profissionais trans nas empresas não ultrapassa 1%, tanto no quadro funcional quanto na liderança (gerentes e acima). A CEO da Gestão Kairós, Liliane Rocha, destaca a necessidade de criar ambientes seguros para que os profissionais trans possam expressar abertamente sua identidade de gênero.
'Em nossa pesquisa, identificamos que a presença de profissionais trans na liderança é de 0,7%, e no quadro funcional, a ausência é quase total, com 0,4%. Com isso, percebemos que 99% dos profissionais se autodeclaram cisgêneros, evidenciando a cisgeneridade como norma e regra compulsória dentro das grandes empresas. Não temos como afirmar se as empresas definitivamente não estão contratando pessoas trans, mas o que pode estar ocorrendo é que os profissionais trans não sentem que o ambiente é seguro o suficiente para que possam falar abertamente sobre a sua identidade de gênero', diz Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós.
Em outro estudo - 'Publicidade Inclusiva – Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023' -, fruto da parceria entre a Gestão Kairós e o Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), os resultados mostram que 24% dos respondentes se autodeclaram LGBT, mas há a ressalva de que a pesquisa não diferencia especificamente as pessoas trans, exigindo uma separação mais detalhada nos dados.
Ainda que haja avanços perceptíveis, como a criação do ODP em 2021, Ariel Nobre, co-fundador e diretor-executivo da entidade, ressalta a necessidade de mais representatividade para a comunidade trans em diversos setores, especialmente na publicidade. A busca pela autonomia de representação continua, impulsionando a inclusão e presença de profissionais trans na liderança para promover uma transformação sistêmica no setor publicitário.
'Em termos de avanços, hoje nós temos mais oportunidades de contar nossas histórias e isso é muita coisa. Nossas vozes estão ecoando cada vez mais longe, mas nem sempre somos ouvidos. Cresce o interesse de marcas e agências para fazer campanha SOBRE nós. Por outro lado, ainda não temos autonomia de representação. Essas campanhas são conduzidas por equipes de criação, em sua maioria 100% cisgêneras', explica Nobre, artista, comunicador, homem trans e vegano.
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