Preconceito e mitos comprometem cuidados de saúde para mulheres lésbicas e bissexuais
Relatório do Ministério da Saúde revela baixa adesão a consultas ginecológicas entre a população LGBTQIA+, destacando a necessidade de combater mitos e garantir atendimento inclusivo.

Apenas 47% da população LGBTQIA+ realiza consultas periódicas com um ginecologista, um número significativamente inferior aos 76% das mulheres heterossexuais que se consultam anualmente, conforme dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), que constam no Relatório Atenção Integral à Saúde das Mulheres Lésbicas e Bissexuais, do Ministério da Saúde.
A baixa adesão a cuidados ginecológicos entre a população LGBTQIA+ deve-se, em grande parte, a mitos e preconceitos que envolvem a saúde feminina e as relações entre mulheres. 'Mulheres lésbicas, bissexuais e homens trans necessitam de um acompanhamento regular e completo. No caso de homens trans, esse cuidado precisa ser ainda mais multidisciplinar, envolvendo ginecologistas, endocrinologistas, psicólogos e assistentes sociais', destaca o Dr. Ricardo Bruno, Mestre e Doutor em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Diretor Médico da Exeltis Brasil.
Exames preventivos como mamografia, papanicolau e ultrassonografias são essenciais e devem ser realizados periodicamente. No entanto, a desinformação e o tabu em torno do assunto fazem com que muitas mulheres lésbicas e bissexuais acreditem erroneamente que estão isentas de riscos de infecções e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) devido à ausência de penetração em suas relações. Esse mito, porém, pode ter graves consequências para a saúde.
A utilização de acessórios sexuais como vibradores e outros sex toys, além da prática do sexo oral e a penetração com os dedos, podem causar infecções se não houver uma higienização adequada. 'Infecções podem surgir pela ação de vírus, bactérias ou protozoários, como sífilis, HIV, HPV e hepatites. A falsa crença de que mulheres lésbicas, bissexuais ou trans estão menos propensas a essas infecções prejudica a prevenção. O diálogo claro e respeitável entre profissional de saúde e paciente é essencial para evitar que essas práticas sejam ignoradas', enfatiza o Dr. Ricardo Bruno.
No caso da saúde de homens transgêneros, o atendimento deve ser ainda mais abrangente e individualizado, especialmente quando há tratamentos hormonais. O uso de androgênios, por exemplo, exige consultas trimestrais para monitorar possíveis alterações no perfil lipídico, glicêmico, coagulação sanguínea, funções renais e hepáticas.
'Enquanto houver presença do útero e dos ovários, as consultas e exames de rotina devem ser mantidos. O câncer de mama também é uma realidade para esta população, pois o hormônio masculino pode ser convertido em estrogênio, mantendo as condições para o surgimento da doença', explica o especialista.
Dr. Ricardo Bruno reforça que todos os exames de rotina para mulheres, independentemente de sua identidade de gênero, devem ser realizados anualmente. O uso da camisinha permanece fundamental para a saúde feminina, masculina e da comunidade LGBTQIA+. 'O profissional de saúde deve analisar cada caso com respeito e acolhimento', conclui.
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