Primeira drag queen a vencer o Prêmio Shell de Melhor Ator, Alexia Twister celebra visibilidade, representatividade e a força coletiva da arte drag nos palcos
- Pimenta Rosa
- 24 de mar.
- 4 min de leitura
Vídeo postado no instragram de @aleixatwister
Com uma trajetória que desafia padrões e transforma o cenário artístico, Alexia Twister se consagrou como a primeira drag queen a conquistar o prestigiado Prêmio Shell de Teatro na categoria de Melhor Ator. Mais do que um reconhecimento individual, essa vitória representa um marco na luta por visibilidade LGBTQIA+ no teatro brasileiro. Em entrevista exclusiva ao Pimenta Rosa, Alexia compartilha os bastidores dessa conquista histórica, reflete sobre a importância da coletividade, e revela como sua jornada — que começou na adolescência — se tornou uma expressão de empoderamento, arte e resistência. Entre memórias, projetos futuros e a emoção de dar vida ao icônico Rei Lear em uma montagem composta exclusivamente por drag queens, Alexia prova que a arte drag vai muito além do palco: é uma ferramenta de transformação social.
Veja agora a íntegra da entrevista!
Como foi receber esse reconhecimento histórico, se tornando a primeira drag queen a conquistar o Prêmio Shell na categoria de Melhor Ator?
Era algo tão desejado, mas ao mesmo tempo tão distante. Só pela indicação, eu já estava muito feliz. Vencer significa muito mais para a visibilidade da arte drag, que tem sido construída por tantas artistas emblemáticas. E fazer parte deste time dá sentido a vida da gente. Ainda temos muito a alcançar e muitas para trazer conosco.
Em seu discurso de agradecimento, você destacou a coletividade dessa conquista. O que significa essa vitória dentro do contexto da representatividade LGBTQIA+ no teatro brasileiro?
Eu penso que o teatro tem se aberto para novas expressões artisticas, onde todos os corpos são contemplados, por exemplo. E ver um LGBTQIAPN+ em lugar de destaque, torna a nossa existência no mundo mais segura. Porquê nos sentimos representades, representadas. Isso nos impodera e passa a fazer diminuir o preconceito. Colabora para a educação da sociedade frente as nossas lutas.
Como surgiu o convite para interpretar Rei Lear nessa montagem da Cia. Extemporânea num elenco composto exclusivamente por drag queens?
O convite partiu da nossa diretora Inês Bushatsky, da Cia Extemporânea. O projeto e a Cia. haviam sido contemplados na lei de incentivo a Cultura Zé Renato. E a proposta era trazer a performatividade da drag para a famosa tragédia de Shakespeare. Eu já conhecia as meninas todas e fizemos a primeira leitura do texto adaptado pelo João Mostazo, em dezembro de 2023.
Você começou sua carreira artística ainda na adolescência. O que te levou ao universo drag?
- Na verdade eu comecei a dançar aos 8 anos de idade, com 12 anos iniciei a vida teatral. Com 17 anos comecei a fazer Drag porque encontrei nesta arte um espaço de expressão artística. Nos anos 90, um ator afeminado não tinha tantas possibilidades. Através da Drag eu compreendi que o meu feminino era a melhor parte em mim, e a partir disso um processo de auto amor e empoderamento passou a acontecer. É importante contar que a arte drag era muito delimitada na época. Hoje em dia a drag refere-se a subjetividade de cada artista. A expressão do feminino, ou do masculino no caso dos Drag Kings. Ou a binariedade em pauta com as Drag Queers. É lindo e libertador.
Seu nome artístico foi escolhido no momento de um concurso. O que Alexia Twister representa para você?
Meu nome me foi dado por meu amigo DJ Fernando Millanez. Ele simplesmente disse: "Alexia Twister " me inscrevendo em um concurso de novos talentos. O anos era 1996.
Ele dizia que Alexia por conta da cantora famosa de mesmo nome, nos anos 90 e Twister porque a grande estrela na época era a inesquecível Veronika e ele gostaria que eu me apresentasse com o mesmo estilo dela na época, "o bate cabelo" . Criado pela drag Márcia Pantera no mesmo período, o Bate Cabelo até hoje é realizado pelas drags em suas performances. Alexia me deu tudo. Hoje eu entendo que ela sempre existiu em mim e desde criança ela se manifestava nas brincadeiras. Ela é o meu feminino, minha força e amor.
Quais são seus próximos projetos? Há novas peças ou outros trabalhos a caminho?
Eu tenho um projeto com minha parceira de cena, a drag Thelores, todas as quartas-feiras na Casa Fluída, em São Paulo, o projeto Drags de Quarta. Começamos a viajar com o projeto e temos um novo projeto juntos que nasce a partir desta parceria, mas para a internet. Além disso eu continua me aprentando nas boates Blue Space e Tunnel.
A peça Rei Lear continua sua trajetória, por enquanto na estrada. Desde o ano passado, temos participado de festivais e apresentações nos Sescs do estado de São Paulo.
No final de março participamos do Festival de Teatro de Curitiba, uma dos maiores do Brasil e queremos muito uma nova temporada em São Paulo e no Rio, mas estamos trabalhando para isso ainda.
Outra peça que faço e tenho muito orgulho, é a peça Infantojuvenil "Alice No Seu Pequeno Grande Quarto das Maravilhas". Por ela ganhamos o prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte ) de melhor elenco Infantojuvenil o que também foi um marco. Fomos as primeiras drags premiadas pelo prêmio. Alice terá novas temporadas em São Paulo e também estamos viajando pelo estado com ela.
Além dela estamos iniciando os ensaios para um novo infantil.
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