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Psicanalista Luiz Alberto Py critica medida do governo peruano e alerta para implicações na saúde mental e direitos humanos

Foto do escritor: Pimenta RosaPimenta Rosa

Sua posição destaca a necessidade urgente de uma abordagem mais humana e informada sobre as questões de identidade de gênero, promovendo a saúde mental e os direitos humanos de todas as pessoas.



A recente decisão do governo do Peru, tomada pelo Ministério da Saúde em 10 de maio, de classificar a transexualidade e outros transtornos de identidade de gênero como doenças mentais, tem gerado intenso debate e preocupação entre especialistas e defensores dos direitos humanos. A medida inclui a transexualidade em uma lista de doenças que os planos de saúde devem contemplar, obrigando as seguradoras a oferecer tratamentos específicos para essas condições.


O psiquiatra, psicanalista, escritor e palestrante, com diversos livros publicados, e mais de 50 anos de experiência na área, Luiz Alberto Py, em entrevista exclusiva para o PIMENTA ROSA, compartilhou suas opiniões sobre as implicações dessa decisão para a comunidade transexual e para a sociedade em geral.


Luiz Alberto Py vê a decisão do governo peruano como um grande retrocesso. 'Classificar a transexualidade e outros transtornos de identidade de gênero como doenças mentais vai na contramão das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que em 2019 retirou a transexualidade da lista de transtornos mentais, classificando-a como uma condição relacionada à saúde sexual', afirma.


Segundo o psicanalista, essa classificação pode ter sérias consequências para a saúde mental e o bem-estar das pessoas afetadas. 'A patologização da identidade de gênero aumenta o estigma e a discriminação, agravando o sofrimento psicológico. As pessoas transexuais já enfrentam desafios significativos em termos de aceitação social e autoaceitação, e essa medida pode intensificar esses problemas.'


Py destaca os principais desafios psicológicos enfrentados pelas pessoas transexuais quando categorizadas como portadoras de doenças mentais:


Além do estigma, há o risco de tratamentos inadequados ou coercitivos, que podem causar mais danos do que benefícios. A decisão do Peru pode levar a uma marginalização ainda maior dessas pessoas, dificultando o acesso a cuidados de saúde adequados e respeitosos.

Questionado sobre a possibilidade de outros países adotarem políticas semelhantes, Py expressa preocupação. 'Se essa medida for vista como um precedente, pode encorajar governos a seguir o mesmo caminho, o que seria um grave retrocesso nos direitos humanos e na luta pela despatologização das identidades de gênero.'


O psicanalista alerta para os riscos das políticas públicas que classificam a transexualidade como uma doença mental em termos de direitos humanos. 'Essas políticas podem violar direitos fundamentais, promovendo a exclusão e a violência contra pessoas transexuais. A comunidade internacional precisa se posicionar contra essas medidas, defendendo a dignidade e os direitos dessas pessoas.'


Sobre os tipos de terapias e tratamentos mais adequados, Py recomenda abordagens que respeitem a identidade de gênero e promovam o bem-estar. 'Terapias afirmativas de gênero, que validam e apoiam a identidade das pessoas, são essenciais. A inclusão dessas condições nos planos de saúde deve garantir acesso a tratamentos de qualidade, sem patologizar a identidade de gênero.'


Py enfatiza a importância da conscientização para combater o preconceito. 'A sociedade precisa ser educada sobre a incongruência de gênero e os desafios enfrentados pelas pessoas transexuais. Iniciativas de educação e sensibilização podem promover maior aceitação e respeito.'


Para garantir um tratamento mais humano e inclusivo, Py recomenda que governos e instituições de saúde sigam as diretrizes da OMS e outras organizações internacionais de saúde. 'É fundamental promover políticas que respeitem a identidade de gênero e ofereçam suporte adequado, evitando a patologização e incentivando a aceitação e o respeito.' Ele reforça a importância de continuar a luta pela despatologização da transexualidade.


'A decisão do Peru é preocupante, mas é crucial que a comunidade global continue a trabalhar para garantir que todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero, recebam tratamento digno e respeitoso', conclui.

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