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Foto do escritorPimenta Rosa

Venda por relacionamento é caminho acessível para a estabilidade financeira e vida digna

Relatos de Representantes de Beleza Avon revelam os impactos socioeconômicos e pessoais dessa atividade profissional em suas vidas e durante períodos de transição de gênero



O Mês da Visibilidade Trans é marcado pela celebração do orgulho e da resistência desta comunidade, mas também pela reivindicação de direitos básicos e amplificação de pautas sociais, como o enfrentamento à discriminação que essa população sofre no mercado de trabalho. Embora discussões sobre diversidade e inclusão sejam cada vez mais frequentes no universo corporativo, uma grande parcela das pessoas trans do Brasil ainda se depara com diversas barreiras na busca por emprego e uma vida digna.

De acordo com pesquisa realizada pelo projeto TransVida, do Grupo pela Vidda, em 2022, apenas 15% dos indivíduos transgêneros possuem trabalho com carteira assinada. O índice de evasão escolar também é alto -- apenas 49% dos entrevistados concluíram o ensino médio, enquanto somente 21,1% finalizaram uma graduação -- o que reduz significativamente o acesso a oportunidades de emprego. Dados de 2021 da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) também revelam que 88% acreditam que empresas não estão preparadas para contratar e reter profissionais trans em seu quadro de colaboradores.

É o que relata Paolla Bathory, Empresária de Beleza Avon, que saiu de Bom Jesus do Tocantins, uma pequena cidade do interior do Pará, para morar em Sumaré/SP em busca de sua independência financeira, ao mesmo tempo em que dava início ao seu processo de transição de gênero.


'Estava há muito tempo fora do mercado de trabalho. Enviava meu currículo, mas, quando chegava nas entrevistas e viam o meu perfil, não me contratavam. Hoje, a Avon é a minha principal fonte de renda', relata.


Ela conta que sua primeira tentativa de mudar de vida foi indo morar em Brasília/DF, mas que sofreu muito preconceito por ser trans. Na época, trabalhava como operadora de caixa de uma rede de supermercado, mas precisava esconder sua real identidade de gênero.


'Quando me assumi e entendi que era uma mulher trans, já não queria mais viver engavetada em um padrão. Foi quando me libertei'.

A partir daí, foi morar em São Paulo. Realizou um curso de maquiagem e começou a trabalhar como Representante de Beleza Avon, revendendo os produtos da marca, até evoluir para o cargo de Empresária da Beleza, passando a atuar, também, no auxílio a outras profissionais da força de vendas em suas atividades.


'Faço visitas a elas, prospecção, levo catálogos, tiro dúvidas e uso meus conhecimentos como maquiadora para ajudá-las com seus clientes. Também ensino a usar as redes sociais, fazer posts sobre promoções e a criar grupos de vendas no Whatsapp, além de mostrar os próprios aplicativos e benefícios que a marca oferece, como o programa de fidelidade e ferramentas de gerenciamento de negócios'.

Atualmente, o mercado de venda por relacionamento brasileiro é o sexto maior do setor, com 4 milhões de empreendedores, sendo 52% deles voltados para as vendas de cosméticos e cuidados pessoais, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD).

Para Paolla, a atividade lhe proporciona hoje o melhor momento de sua vida, pois agora consegue viver de forma mais confortável, pagando suas contas sem estar sempre no limite.


'É a estabilidade financeira que eu tanto queria. Está me ajudando a andar de cabeça erguida e a recuperar a dignidade que eu tinha perdido. Eu passei muito tempo me escondendo, com medo e vários tabus, tentando me encaixar em uma gaveta que não me cabia. Meus amigos me diziam que eu estava com depressão. Depois que me tornei empresária, comecei a conhecer pessoas, a cidade e voltei a sentir vontade de me arrumar e cuidar de mim. A Avon me proporcionou renda, lazer e respeito. É maravilhoso estar sendo remunerada e respeitada como mulher trans'.

Este também é o caso de Eva Pires, Representante de Beleza Avon, travesti e moradora da cidade de São Paulo. Segundo a profissional, a venda por relacionamento garantiu sua independência financeira durante a pandemia de Covid-19 sem precisar realizar um grande investimento para começar a empreender. Além disso, o início na atividade também coincidiu com a sua transição de gênero, sendo fundamental para tornar todo o processo mais tranquilo.


'Também sou professora de dança e maquiadora. Essas profissões acabaram sendo muito prejudicadas durante o isolamento social. Graças à renda que obtive como Representante, consegui não apenas me sustentar, mas também refazer meu guarda-roupa, já que havia doado todas as antigas roupas de quando ainda era designada como homem. Foi uma grande conquista', conta Eva.


Suas vendas são feitas tanto presencialmente quanto on-line.


'Coloco a internet ao meu favor. Utilizo como ferramenta a revista digital que a empresa oferece e vendo para pessoas de vários estados do Brasil por meio de lojas on-line. Também gravo vídeos e faço artes para postar nas redes sociais e possuo grupos no WhatsApp e no Telegram, onde envio as novidades para minhas clientes', conta Eva. A prática é conhecida como social selling e contribui para a otimização do negócio, enquanto preserva a interação e o relacionamento com os consumidores graças às facilidades das ferramentas virtuais. Segundo a ABEVD, 54% dos empreendedores do setor realizam suas vendas de forma on-line.

Além de tudo, o trabalho também contribuiu para melhora de sua autoestima, pois os produtos a auxiliaram a externalizar sua verdadeira identidade.


'Os cosméticos me ajudaram a me enxergar como realmente sou e a me sentir mais feminina, mais mulher'. Hoje, ela se sente como sempre quis ser. 'Com toda a minha bagagem e questões que vivenciei, eu sou Eva e ponto, independente de me aceitarem ou não'.

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