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Transformando o mercado de tecnologia: uma conversa com Carla de Bona, co-fundadora da {reprograma}

Carla de Bona destaca o impacto da {reprograma} na inclusão de mulheres trans no setor de tecnologia e revela estratégias para promover diversidade no ambiente corporativo.

Veja também a matéria com Liana Alice, mulher trans, ex-aluna e atual coordenadora de Ensino da organização, que revela os desafios das mulheres trans no setor de tecnologia.



No dia 29 de janeiro celebra-se o Dia Nacional da Visibilidade Trans, uma oportunidade crucial para direcionar atenção às reivindicações e desafios enfrentados pela população trans. Neste contexto, Pimenta Rosa entrevistou Carla de Bona, diretora de Inovação e co-fundadora da {reprograma}, que fala sobre a iniciativa que vai além de ensinar programação, mas que transforma vidas, especialmente as das mulheres trans.


Diante do alarmante dado de que cerca de 80% das pessoas transexuais já se sentiram discriminadas em algum processo seletivo para emprego formal, a {reprograma} destaca-se como uma ponte entre a capacitação e a inserção no mercado de trabalho. Com mais de 23 mil inscrições e 2 mil alunas formadas, incluindo 10% de mulheres trans e travestis, a organização oferece muito mais do que cursos de tecnologia: constrói caminhos sólidos para o empoderamento profissional.


Nesta entrevista, Carla de Bona compartilha insights sobre como a {reprograma} tem impactado positivamente a vida das mulheres trans no mercado de trabalho, qual o papel das empresas na promoção da diversidade e como a iniciativa se conecta com o setor empresarial para facilitar a inserção das alunas trans no mercado de tecnologia.


Qual o papel das empresas no combate à discriminação e na promoção da diversidade, especialmente para a população trans?

 

As empresas desempenham um papel crucial no enfrentamento da discriminação e na promoção da diversidade, especialmente quando se trata da população trans. Essa responsabilidade vai além de uma simples adesão a normas éticas; ela é fundamental para a criação de ambientes de trabalho saudáveis, inovadores e produtivos. Uma maneira eficaz de promover a inclusão é estabelecer políticas claras e abrangentes que abordem especificamente a discriminação relacionada à identidade de gênero. Estas políticas devem ser comunicadas de forma transparente e acessível a todos os colaboradores, criando, assim, uma cultura empresarial que valorize a diversidade. É crucial que as empresas ofereçam treinamentos regulares sobre diversidade e inclusão, focando nas questões enfrentadas pela população trans. Esse conhecimento proporciona uma compreensão mais profunda e sensível, contribuindo para uma cultura corporativa informada. Além disso, nas práticas de recrutamento, as empresas devem adotar uma abordagem ativa para promover a diversidade, buscando candidatos de diversas origens e identidades de gênero. Incluir a diversidade como um critério positivo nas decisões de contratação é essencial.


A flexibilidade de gênero também desempenha um papel importante, reconhecendo e respeitando as diferentes identidades de gênero presentes na equipe. Isso pode envolver a inclusão de opções de nomes sociais nos sistemas corporativos, bem como a utilização de banheiros de acordo com cada identidade de gênero. As empresas também devem garantir que todos os funcionários, independentemente de sua identidade de gênero, tenham acesso igualitário a benefícios, oportunidades de promoção e recursos de desenvolvimento profissional. Facilitar grupos de funcionários que se concentrem em questões específicas da população trans pode ser uma maneira eficaz de proporcionar apoio, mentorias e um espaço seguro para discussões.

 

Manter a transparência sobre as práticas de diversidade e inclusão, incluindo relatórios regulares sobre a representação de pessoas trans e travestis, é crucial para garantir responsabilidade e promover progresso contínuo. Assumir essas medidas não apenas combate a discriminação, mas também contribui para a construção de ambientes de trabalho mais justos, respeitosos e diversificados. Essa abordagem beneficia não apenas os funcionários, mas também fortalece a reputação e a competitividade da empresa no mercado.

  

Como a iniciativa se conecta com empresas para facilitar a inserção das alunas trans no mercado de trabalho?

A {reprograma} realiza o 'speed hiring', uma feira de contratação com entrevistas rápidas para permitir que as alunas interajam com empresas parceiras em busca de talentos. Além disso, estabelecemos parcerias com empresas de tecnologia, resultando em programas de recrutamento específicos para as alunas formadas. Também oferecemos uma plataforma de contratação para facilitar a conexão das formandas com o mercado, programas de mentoria para orientação profissional, eventos de networking para construção de conexões, suporte na preparação para entrevistas e assistência financeira, incluindo empréstimos de computadores e acesso a bolsas de estudo para cursos adicionais. Todas essas iniciativas têm como objetivo facilitar efetivamente a inserção e o sucesso das alunas no mercado de trabalho de tecnologia.


Quais são os desafios enfrentados por mulheres trans no setor de tecnologia, e como a {reprograma} trabalha para superá-los?

As mulheres trans e travestis enfrentam diversos desafios no setor de tecnologia, refletindo a necessidade contínua de superar barreiras de discriminação e promover uma maior inclusão. Alguns dos desafios comuns são:

Preconceito e Discriminação:

Mulheres trans e travestis frequentemente enfrentam preconceitos e discriminação no ambiente de trabalho devido à falta de compreensão e aceitação da identidade de gênero.

Acesso Limitado a Oportunidades:

A falta de oportunidades igualitárias de carreira muitas vezes resulta em mulheres trans e travestis encontrando dificuldades para ingressar no setor de tecnologia ou avançar em suas carreiras.

Ambiente de Trabalho Não Inclusivo:

Ambientes de trabalho muitas vezes não são projetados para serem inclusivos, resultando em mulheres trans e travestis se sentindo isoladas e enfrentando dificuldades em se integrar às equipes.

Falta de Representatividade:

A ausência de representatividade de mulheres trans e travestis em cargos de liderança e em papéis técnicos contribui para a falta de modelos a seguir, dificultando a identificação e inspiração.


A {reprograma} aborda esses desafios de maneira proativa e eficaz:

Formação Especializada: oferecemos programas de formação especializados em programação para mulheres trans e travestis, proporcionando habilidades técnicas essenciais para ingressar e avançar no setor de tecnologia.

Conexão com o Mercado de Trabalho: conectamos diretamente as formandas ao mercado de trabalho através de nossa plataforma de contratação, facilitando oportunidades de emprego e reduzindo as barreiras de acesso ao setor.

Comunidade de Apoio: fomentamos uma comunidade de apoio onde mulheres trans e travestis podem compartilhar experiências, trocar conhecimentos e receber suporte, criando um ambiente mais acolhedor e solidário.

Incentivo à Representatividade: incentivamos e destacamos histórias de sucesso de mulheres trans e travestis que passaram pelos cursos da {reprograma}, demonstrando que é possível conquistar posições de destaque no setor de tecnologia.

Parcerias com Empresas Inclusivas: colaboramos com empresas que compartilham nosso compromisso com a diversidade e a inclusão, facilitando a colocação profissional de nossas formandas em ambientes de trabalho acolhedores e progressistas.



Transformando desafios em oportunidades:

Liana Alice e a luta por espaço na tecnologia



No cenário desafiador do universo tecnológico, onde a representatividade ainda é uma batalha constante, Liana Alice emerge como uma inspiração. Mulher trans e atual coordenadora de Ensino da {reprograma}, Liana compartilha sua jornada única e os obstáculos enfrentados por mulheres trans no setor de tecnologia.


Liana Alice, com sua jornada inspiradora, não apenas ilustra os desafios enfrentados por mulheres trans na tecnologia, mas também destaca o papel vital da {reprograma} na transformação desses desafios em oportunidades. Sua história ressalta a importância da inclusão e representatividade para construir um setor de tecnologia mais diverso, justo e inovador.


Para Liana, a experiência como aluna da {reprograma} foi mais do que uma imersão técnica; foi uma transformação pessoal e profissional. 'O curso não apenas aprofundou meu conhecimento em tecnologia, mas também desempenhou um papel fundamental na consolidação do meu crescimento profissional de maneira sustentável', destaca.


Participando da turma T9 de Javascript Frontend em 2020, Liana encontrou na {reprograma} além de um ambiente educativo, uma comunidade colaborativa.


'Descobri meu potencial e ‘merecimento’ para ter uma vida com estabilidade financeira e de carreira. Além disso, percebi que sou capaz de ensinar e trabalhar para o desenvolvimento de outras pessoas, compartilha.


Liana aborda os desafios específicos enfrentados como mulher trans ao ingressar no setor de tecnologia. 'Cada mulher trans possui uma experiência singular', ressalta. Mesmo sendo uma mulher branca de classe média, Liana enfrentou dispensas e desrespeito em alguns ambientes de trabalho e estudos após sua transição.


'Foi um choque perceber que, pelo simples fato de mudar meu gênero socialmente, seria tratada de forma pejorativa na maioria dos espaços, especialmente na época em que eu era menos ‘passável', revela.


A sorte de começar pela {reprograma} foi fundamental para Liana, pois criou uma rede de apoio que facilitou seu progresso no setor de TI. Apesar das situações problemáticas em outros ambientes, Liana destaca que o setor de tecnologia foi um dos menos problemáticos, especialmente por ter trabalhado online e em empresas mais diversas e inclusivas.


Desafios

Liana destaca o apoio da {reprograma} para superar os desafios do mercado de trabalho. A organização não apenas fomenta programas específicos para as necessidades das mulheres trans, mas também busca trazer diversidade para o ambiente educacional: 'É importante ‘se ver’ nas outras e perceber que é possível estar em posições respeitadas na sociedade. Temos um ensino preocupado tanto na técnica quanto no socioemocional, na empregabilidade social, no pertencimento, na inclusão e no coletivo', enfatiza Liana.


Como coordenadora de Ensino, Liana ressalta a importância da representatividade e diversidade na {reprograma}. Segundo ela, a presença da diversidade contribui não apenas para a autoconfiança das alunas, mas também para a formação de profissionais conscientes da importância da equidade no setor de tecnologia.


'A diversidade no corpo discente não apenas reflete a realidade plural da sociedade, mas também potencializa a troca de experiências e perspectivas, enriquecendo o aprendizado de todas', finaliza ela.

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