A arte como trincheira: Paulo Roberto Farias e a escrita em estado de urgĂȘncia
- Pimenta Rosa
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Literatura de guerrilha, vocação inegociĂĄvel, corpo em cena e palavra em trĂąnsito. Ă assim que se desenha a trajetĂłria de Paulo Roberto Farias â escritor, ator e militante da arte como forma de resistĂȘncia afetiva, polĂtica e existencial. Com trĂȘs livros publicados por editoras independentes e um vĂnculo visceral com seus leitores, Paulo atravessa os silĂȘncios impostos pela grande mĂdia com a mesma delicadeza com que embala os livros que envia pelos Correios, um a um, com dedicatĂłria e afeto.
Graduado em Teatro e mestre em Artes CĂȘnicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), integra os grupos OigalĂȘ e ATO Cia. CĂȘnica, tendo atuado em cerca de vinte espetĂĄculos profissionais. Em 2012, foi reconhecido com o PrĂȘmio Açorianos de Melhor Ator Coadjuvante pelo espetĂĄculo O Feio, consolidando sua presença de destaque na cena teatral gaĂșcha.
Na literatura, Paulo estreia em 2013 com 'A tessitura da noite' (Multifoco), novela indicada ao PrĂȘmio Livro do Ano da Associação GaĂșcha de Escritores na categoria narrativa longa. Em 2021, lança 'Deixa eu te falar da noite' pela editora Caos e Letras, romance que amplia seu pĂșblico e firma sua escrita como uma voz sensĂvel e contundente do nosso tempo. TrĂȘs anos depois, retorna Ă mesma editora com 'Um rio corre dentro do meu sonho', livro de crĂŽnicas que reafirma sua potĂȘncia narrativa, marcada pela escuta do cotidiano, pela delicadeza da observação e pelo lirismo comprometido com a vida.
Na entrevista que segue, Paulo Roberto compartilha as dores e as delĂcias de viver da arte 'aos trancos e barrancos'. Fala sobre o tempo como aliado na construção de sua escrita, os afetos que impulsionam seu trabalho e a relação direta que mantĂ©m com quem o lĂȘ e o assiste nos stories diĂĄrios, ou nas salas de teatro. Em tempos de desmonte das polĂticas culturais, ele reafirma a vocação como territĂłrio de insistĂȘncia, onde a arte resiste nĂŁo apenas como linguagem, mas como modo de existĂȘncia.
Confira a Ăntegra da entrevista.

Paulo Roberto, vocĂȘ se define como alguĂ©m que faz 'literatura de guerrilha', O que essa expressĂŁo representa para vocĂȘ e como ela molda a sua trajetĂłria como escritor?
Ă um trabalho braçal, de formiguinha: eu mesmo revendo meus livros e faço minha prĂłpria divulgação. Minhas redes sociais sĂŁo minha vitrine de livraria. Vou ao Correio toda semana postar os livros que vendi, sempre com dedicatĂłrias. Do mesmo jeito Ă© meu trabalho como ator, nĂŁo estou em grandes produçÔes, todos os mais de vinte espetĂĄculos em que atuei sempre foram produçÔes de grupos teatrais que trabalham muito para se manter. EntĂŁo o trabalho artĂstico que eu faço Ă© de guerrilha porque dependo dele para sobreviver, artĂstica e financeiramente.
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VocĂȘ escreve desde os dez anos, mas seus livros foram lançados anos depois de escritos. Como Ă© esse processo de maturação das obras e de espera por oportunidades de publicação?
O tempo da espera nĂŁo Ă© nem um pouco inativo. Confesso que Ă s vezes o aguardo pela publicação dos meus livros me causa grande ansiedade, mas reconheço tambĂ©m a importĂąncia desse tempo expandido no processo de criação. Comecei a escrever ficção aos dez anos motivado por uma professora, guardo ainda comigo uma dezena de cadernos da adolescĂȘncia, histĂłrias absolutamente influenciadas pelas novelas a que assistia na televisĂŁo. Hoje olho pra trĂĄs e fico admirado com meu primeiro livro, A tessitura da noite (Ed. Multifoco, 2013) que comecei a escrever quando recĂ©m tinha saĂdo da adolescĂȘncia â mas sei que isso sĂł foi possĂvel porque antes passei anos exercitando a escrita naqueles cadernos juvenis. Publiquei A tessitura da noite aos trinta anos, mas o livro ficou guardado cerca de sete anos desde a finalização atĂ© a aprovação por uma editora. Depois mais sete anos de espera atĂ© a publicação do segundo, o romance Deixa eu te falar da noite (Ed. Caos&Letras, 2021) â a publicação desse livro Ă© pra mim atĂ© hoje um reconforto quando penso na lentidĂŁo do processo atĂ© o livro chegar no leitor. Esse livro passou por uma mudança muito grande desde a primeira versĂŁo atĂ© a versĂŁo final â revendo a trajetĂłria dele fico aliviado que nĂŁo tenha sido publicado logo apĂłs a finalização da primeira versĂŁo. O terceiro e mais recente, Um rio corre dentro do meu sonho (Ed. Caos&Letras, 2024) Ă© um livro de crĂŽnicas e de memĂłrias que teve um processo de escrita mais complexo. A maior parte dele foi escrita quase sem que eu percebesse que estava escrevendo um livro, os textos surgiram antes da ideia de livro. SĂł quando eu percebi que tinha um bom volume de textos e que eles se relacionavam entre si Ă© que eu sentei pra dar a eles uma forma de livro. EntĂŁo tem textos ali que foram escritos ao longo de muitos anos, mas que sĂł foram formatados em 2023 quando finalizei o projeto. E quase sem que eu percebesse esse livro virou um outro, que eu prometi, aos quinze anos, que escreveria sobre meus avĂłs. Em uma das Ășltimas crĂŽnicas, eu conto essa histĂłria e transcrevo a primeira pĂĄgina da primeira versĂŁo que escrevi em 1998. EntĂŁo pra resumir: o tempo Ă© meu inimigo na medida em que tenho pressa de alcançar os leitores, mas Ă© tambĂ©m um dos meus maiores aliados.
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VocĂȘ menciona que vive da arte âaos trancos e barrancosâ, mas se recusa a viver fora da sua vocação. Qual Ă© o preço â e a recompensa â dessa escolha?
Eu vivo de teatro e de literatura, nĂŁo sei fazer outra coisa que nĂŁo seja atuar e escrever. E nem quero. JĂĄ faz alguns anos que tenho conseguido me manter assim, vou lidando com as contas e os perrengues como posso, Ă s vezes tambĂ©m com intervalos um pouco mais folgados. Como ator, eu nĂŁo produzo os espetĂĄculos em que atuo, e isso acarreta que acabo dependendo de convites e oportunidades que vĂŁo surgindo, agora por exemplo estou criando meu primeiro monĂłlogo e ao mesmo tempo estou no elenco de outros quatro espetĂĄculos que estĂŁo em repertĂłrio. E se precisar seguro com alegria e disposição o malabarismo de fazer quantos outros espetĂĄculos surgirem. Como escritor, sou publicado por duas editoras independentes, a Multifoco e a Caos&Letras, que sĂŁo Ăłtimas e muito competentes, sobretudo a Caos que tem um projeto grĂĄfico irretocĂĄvel, que criou capas impecĂĄveis pros meus dois Ășltimos livros â porĂ©m nenhuma delas tĂȘm distribuição em livrarias. Isso acaba limitando o alcance do meu trabalho, o livro sĂł chega em quem me conhece ou conhece a editora. Transito entre duas sensaçÔes sobre meu trabalho artĂstico: Ă s vezes sinto que pelo tempo em que estou no mercado eu deveria ser mais conhecido, queria ter mais oportunidades de divulgar meu trabalho na grande mĂdia, queria que meus livros fossem distribuĂdos em livrarias de todo o Brasil; por outro lado sinto tambĂ©m que jĂĄ alcancei a possibilidade de ser publicado por editoras que acreditam e apostam no meu trabalho, que tenho leitores incrĂveis e extremamente afetuosos que compartilham comigo relatos emocionantes sobre a experiĂȘncia de ler aquilo que escrevo.

Apesar da relevĂąncia dos temas que vocĂȘ aborda, como as enchentes no interior do estado, a grande mĂdia tem fechado as portas para o seu trabalho. Como vocĂȘ encara essa negligĂȘncia com a literatura independente?
Eu acho incrĂvel que nos Ășltimos anos a literatura brasileira tenha vivido um dos seus melhores momentos, cada vez mais os livros escritos por nossos autores tĂȘm alcançado o grande pĂșblico e alguns tĂȘm encabeçado as listas de mais vendidos. A escrita feita por mulheres e pela comunidade negra tĂȘm expandido cada vez mais seus espaços no mercado editorial e tĂȘm atingido uma qualidade inigualĂĄvel â tudo isso Ă© absolutamente maravilhoso. Mas a verdade Ă© que nem todas as pessoas que escrevem boa literatura hoje no Brasil conseguem ser publicados por editoras que lhes deem visibilidade na grande mĂdia, sem contar que as grandes editoras sĂŁo impenetrĂĄveis, a grande maioria delas sequer estĂĄ aberta a conhecer novos autores ou mesmo a avaliar originais. As portas estĂŁo fechadas para a maioria de nĂłs e sĂł consegue entrar quem descobre modos de arrombĂĄ-las. Quem consegue ser publicado por editoras independentes, como Ă© o meu caso, enfrenta tambĂ©m a dificuldade de conseguir espaço nos grandes meios de comunicação. Quando fiz o lançamento do meu livro novo aqui em Porto Alegre em dezembro de 2024, por exemplo, mandei o material de divulgação pra todos os grandes jornais da cidade, entrei em contato direto com os responsĂĄveis pela cobertura cultural desses veĂculos, nenhum deles publicou uma nota sequer. SĂł consegui espaço na TVE-RS e na FM Cultura, emissoras de televisĂŁo e rĂĄdio pĂșblicas. E olha que um dos temas centrais do livro Ă© justamente as enchentes que assolaram e assolam desde sempre as famĂlias do interior do estado, uma pauta que estĂĄ em toda parte por conta do desastre ambiental ocorrido em maio de 2024. NĂŁo hĂĄ espaço para os autores independentes na grande mĂdia, nĂŁo somos notados, nĂŁo aparecemos nas listas de indicaçÔes Ă s premiaçÔes porque a mĂĄquina do capitalismo nos esmaga e nos apaga â como podemos ser indicados a prĂȘmios se nĂŁo nos notam? Como seremos publicados por grandes editoras se nĂŁo merecemos visibilidade? Ă um ciclo vicioso difĂcil de escapar.
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Em contrapartida, as leituras dos seus diĂĄrios nos stories parecem ter criado uma ponte Ăntima com esses leitores muito fiĂ©is, que te acompanham, te leem e te emocionam. Como Ă© a relação com esse pĂșblico que te acolhe, mesmo Ă distĂąncia? E que tipo de retorno mais te marcou dessas experiĂȘncias?
Esse Ă© um projeto que criei em 2021, durante a pandemia de covid-19, e que venho mantendo com uma certa regularidade no meu perfil do Instagram. JĂĄ fiz nove ediçÔes. Durante uma semana leio trechos dos meus diĂĄrios pessoais nos meus stories para um pĂșblico que me apoia financeiramente. Tenho um carinho muito especial por esse projeto porque ele Ă© absolutamente singular, nĂŁo conheço nenhum autor ou autora que desenvolva algo sequer semelhante, e de certa forma tambĂ©m me parece que esse projeto se infiltra num lugar que estĂĄ entre meu trabalho como ator e meu trabalho como escritor. Ă a minha voz lĂĄ nos vĂdeos, Ă© a presença do meu corpo que faz as leituras â ainda que intermediado pelo celular â, Ă© o meu texto e a minha letra que sĂŁo mostrados, Ă© a minha vida mais Ăntima e particular ali exposta. Tem um carĂĄter muito imediato tambĂ©m que me interessa experimentar naquele espaço, nĂŁo tem a espera pela publicação dos textos em livros, os textos sĂŁo crus, nĂŁo foram escritos tendo uma publicação em vista, a escrita chega no leitor/ouvinte sem a mediação do livro, de certa forma Ă© direta como no teatro. E, no entanto, foram escritos por mim, sem nenhuma ficção, Ă© a minha vida tornada escrita. Alguns desses textos inclusive foram reescritos e se transformaram em algumas das crĂŽnicas de Um rio corre dentro do meu sonho. EntĂŁo tem essa possibilidade tambĂ©m do leitor/ouvinte acompanhar os meus processos de escrita desde dentro, enquanto estĂŁo sendo criados, e sinto mesmo que eles participam dessa criação na medida em que a escuta deles Ă© ativa e participativa. Eu recebo retornos lindos, emocionados e emocionantes a cada edição. Eu acredito que os textos sĂł se ampliam e se desenvolvem quando entram nesse processo de contaminação. Em Um rio eu digo tambĂ©m: âAmo o que nasce dessa experiĂȘncia de partilha, aprendo que as coisas nĂŁo sĂŁo estanques, que aquilo que penso e crio estĂĄ em processo de maturação na troca com os outros.â
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Em Um rio corre dentro do meu sonho, vocĂȘ escreve: âEu quero continuar sendo amado depois que eu morrer e nĂŁo posso morrer agora porque ainda nĂŁo sou amado o suficiente.â Como esse desejo de ser lido e lembrado movimenta a sua escrita e o seu fazer artĂstico?
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Ă o motor e o combustĂvel de todo meu trabalho artĂstico. Eu necessito do outro que me assiste e que me lĂȘ. Eu sou um exibido que se mostra pra ser amado por aquilo que mostra. Em Um rio eu digo tambĂ©m: âNĂŁo tenho tempo de morrer agora quando ainda preciso entrar em cena muitas outras vezes, nĂŁo posso morrer ainda tendo tantos livros para escrever, ainda preciso abastecer as lembranças de quem me ama com muito teatro e muita literatura.â EntĂŁo Ă© isso: a paixĂŁo pela minha vocação artĂstica estĂĄ intrinsecamente entrelaçada ao amor que recebo de quem me assiste e de quem me lĂȘ. O cruzamento desses dois sentimentos sustenta e dĂĄ sentido Ă minha vida.
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VocĂȘ compartilha o cuidado com que envia cada livro pelos Correios, com dedicatĂłria e carinho. O que esse gesto diz sobre o tipo de vĂnculo que vocĂȘ busca construir com quem lĂȘ seus textos?
Aprendi a encontrar prazer na labuta diĂĄria pela manutenção da minha carreira artĂstica. O fato de eu mesmo gerenciar a venda dos meus livros me causa uma imensa satisfação: eu adoro fazer minha divulgação, amo repostar os relatos dos leitores, amo fazer as dedicatĂłrias, embrulhar os livros, preencher os envelopes, caminhar atĂ© o Correio mais prĂłximo da minha casa. Amo esse carĂĄter artesanal de pegar o livro com minhas prĂłprias mĂŁos, escrever com minha prĂłpria caligrafia. Fico depois imaginando o livro chegando na casa dos leitores, essa independĂȘncia me aproxima ainda mais deles, me coloca em contato direto com quem me lĂȘ, Ă© uma troca quente, calorosa, do meu corpo para o corpo do outro.
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Como ator e escritor, como vocĂȘ vĂȘ o cruzamento entre teatro e literatura na sua vida? Eles se alimentam mutuamente?
SĂŁo faces distintas e complementares da mesma paixĂŁo: a minha vontade insaciĂĄvel de contar histĂłrias e emocionar os outros. A emoção de emocionar os outros Ă© o meu vĂcio como artista. Eu amo que a natureza do teatro necessite da repetição: eu quero sempre voltar a me emocionar com a emoção de novas pessoas na plateia. E sigo escrevendo tambĂ©m pelo mesmo motivo: me emociono atĂ© Ă s lĂĄgrimas relendo o que escrevi porque sei que atravĂ©s da escrita minha vida e minhas experiĂȘncias serĂŁo validadas e acolhidas por quem me lĂȘ, mesmo que sob o vĂ©u da ficção. Acho tambĂ©m que o fato de ser escritor me torna um ator melhor, e vice-versa: sei quando a frase cabe na boca do leitor porque antes ela passou pela boca do ator que escreve.
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HĂĄ espaço na cena cultural brasileira para quem, como vocĂȘ, que resiste com consistĂȘncia e paixĂŁo? O que seria necessĂĄrio para fortalecer essas vozes independentes?
Somos muitos fazendo esse trabalho de guerrilha, abrimos nossos prĂłprios espaços, resistimos e resistiremos apesar de tudo. Nem que seja nas catacumbas, como diz a Fernanda Montenegro. O acesso Ă arte Ă© um direito nosso, precisamos entender na prĂĄtica que a cultura nĂŁo Ă© algo acessĂłrio ou supĂ©rfluo, pelo contrĂĄrio: Ă© um bem coletivo, ganhamos todos quando o trabalho dos artistas independentes consegue alcançar visibilidade. Como sociedade precisamos fortalecer e ampliar as polĂticas pĂșblicas de incentivo aos artistas e aos projetos independentes. Como leitores tambĂ©m podemos fazer esse trabalho de valorização das pequenas editoras e dos autores independente, e percebo que isso tem acontecido cada vez mais: os leitores tĂȘm comprado livros direto com os autores, tĂȘm compartilhado suas experiĂȘncias de leitura, tĂȘm recomendado nossos livros para outros leitores, tudo isso Ă© maravilhoso e sĂł estimula e fomenta o nosso trabalho.
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Por fim: quem sĂŁo Ariosto, Marla e os seus avĂłs, e o que eles revelam sobre vocĂȘ e sobre a sua literatura?
 SĂŁo personagens com quem tenho uma longa histĂłria de amor, sobre quem dediquei uma parte importante da minha vida, eles seguem me acompanhando a cada vez que meus livros ganham leitores. E sinto que eles continuam sendo recriados a cada vez que sĂŁo lidos, a criação deles sĂł se completa quando alcança o leitor do outro lado da pĂĄgina. HĂĄ pouco tempo reli o meu romance Deixa eu te falar da noite para uma reimpressĂŁo, nunca mais tinha relido o livro desde o lançamento em 2021, e fiquei tĂŁo impressionado com a Marla, com a autonomia dela, gargalhei e me emocionei como se fosse a voz dela mesma quem narrasse e nĂŁo eu por trĂĄs dela. VĂĄrios leitores jĂĄ me disseram que depois da leitura ficaram procurando identificar o prĂ©dio onde ela mora numa avenida aqui de Porto Alegre â isso Ă© tĂŁo incrĂvel, ela existe, e isso sĂł acontece porque o leitor estabeleceu com o livro uma espĂ©cie de pacto ficcional muito forte. Uma leitora muito querida tambĂ©m disse recentemente que meus avĂłs viraram um pouco avĂłs dela depois da leitura de Um rio corre dentro do meu sonho, e isso me comove demais: saber que atravĂ©s da escrita transformei meus avĂłs em algo que transcende a existĂȘncia puramente fĂsica, o meu amor os transformou em pura literatura. Pra mim sĂł faz sentido escrever se sei que serei lido. Ă assim que desejo ardentemente a cada livro colocado no mundo: que meus personagens sejam tanto meus quanto de quem me lĂȘ.