Ataque à estátua de Santa Sara Kali no Arpoador gera repúdio e mobilização contra intolerância religiosa

Símbolo de fé e resistência da comunidade cigana, a imagem da padroeira foi destruída na Gruta de Santa Sara Kali, primeiro templo dedicado à Santa na América Latina.

Posicionamento de repúdio da Sacerdotisa Katja Bastos (Conselheira da Secretaria Municipal da Diversidade Religiosa para a Etnia Cigana / Presidente Nacional da Capelania Inter/Religiosa da OCB)

A Capelania Inter/Religiosa da Ordem dos Capelães do Brasil (OCB) e a Secretaria Municipal da Diversidade Religiosa para a Etnia Cigana, por meio da Sacerdotisa Katja Bastos, manifestaram veemente repúdio ao ato de vandalismo e intolerância ocorrido na Gruta de Santa Sara Kali, no Rio de Janeiro. Segundo a nota oficial, o ataque à imagem da padroeira dos povos ciganos fere muito mais do que um símbolo de fé, mas também a dignidade, a cultura e a identidade de milhares de famílias que encontram nesse espaço um lugar de resistência, acolhimento e memória.

A estátua de Santa Sara Kali, padroeira dos povos ciganos, foi destruída na madrugada de sexta-feira (29) na Gruta localizada no Parque Garota de Ipanema, no Arpoador, Zona Sul do Rio. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram a peça em pedaços, espalhada pelo chão do templo, que integra o Circuito da Diversidade Religiosa da Prefeitura do Rio. O local, considerado o primeiro santuário dedicado à Santa na América Latina e patrimônio histórico-cultural, é referência de fé, acolhimento e memória para milhares de famílias ciganas.

A Prefeitura informou que a imagem foi recolhida e será restaurada, destacando que 40% do orçamento anual de manutenção de monumentos da cidade é destinado a reparos de peças vandalizadas.

“Não aceitaremos que atos de ódio destruam o que alimenta nossa esperança. Santa Sara Kali é símbolo de resistência e consolo. Defender sua memória é defender a dignidade de nosso povo”, afirma a sacerdotisa Katja Bastos.

Conheça a íntegra da Nota Oficial:

'Venho a público manifestar meu mais profundo repúdio ao ato de vandalismo, preconceito e intolerância religiosa ocorrido na sexta‑feira, 29 de agosto, na Gruta de Santa Sara Kali, no Rio de Janeiro, quando a imagem da padroeira dos povos ciganos foi violentamente atacada.

A Gruta de Santa Sara Kali é o 1º Templo Oficial do Brasil e da América Latina, localizado no Parque Garota de Ipanema, Arpoador, Rio de Janeiro.

Antes de sua instituição, havia apenas o templo na França, em Saintes‑Maries‑de‑la‑Mer. A data que celebra nossa Santa Padroeira — 24 de maio — vem sendo comemorada na Gruta desde 1998 e, em 2003, Santa Sara Kali foi ali assentada definitivamente. Esse local é, para milhares de fiéis e famílias ciganas, um espaço de fé, resistência, acolhimento e memória.

O ataque à imagem de Santa Sara Kali não é apenas uma agressão a um objeto religioso: é uma afronta à identidade cigana, à nossa cultura, à pluralidade religiosa e ao direito de praticarmos livremente nossa fé.

Precisamos:

• investigação imediata, rigorosa e transparente por parte das autoridades competentes, com apuração dos fatos e responsabilização dos autores na forma da lei.

Convoco as autoridades, as instituições civis, líderes religiosos e a sociedade em geral a se manifestarem em defesa da liberdade religiosa e do respeito às diferenças. Reafirmamos nosso compromisso com o diálogo inter‑religioso, com a construção de pontes de compreensão e com a denúncia veemente de qualquer ato que negue direitos ou menospreze vidas e histórias.

Em nome da Capelania Inter/Religiosa da OCB e da Secretaria Municipal da Diversidade Religiosa para a Etnia Cigana, coloco‑me à disposição para contribuir nas iniciativas de proteção, reparação e diálogo necessárias neste momento.

Não aceitaremos que atos de ódio destruam o que alimenta nossa esperança. Santa Sara Kali é símbolo de resistência e consolo. Defender sua memória é defender a dignidade de nosso povo.'