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Demência e envelhecimento LGBTQIA+: o silêncio duplo da memória e do preconceito

  • Foto do escritor: Pimenta Rosa
    Pimenta Rosa
  • 26 de jul.
  • 2 min de leitura

Pessoas LGBTQIA+ idosas com demência enfrentam barreiras adicionais: solidão, falta de rede de apoio e invisibilidade institucional. É urgente discutir cuidados inclusivos e políticas públicas específicas


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A demência, em todas as suas formas, impõe perdas cognitivas e emocionais profundas. Porém, para parte da população idosa, os impactos do distúrbio ultrapassam os limites neurológicos e se somam a um histórico de exclusão. Pessoas LGBTQIA+ que envelhecem no Brasil enfrentam não apenas a deterioração da memória, mas também o peso do preconceito e da invisibilidade.


Segundo o relatório Envelhecimento LGBTQIA+ no Brasil (ABGLT e SESC, 2023), muitos idosos da comunidade vivem sozinhos, afastados da família de origem e sem filhos, o que dificulta o acesso ao cuidado contínuo exigido por quadros de demência, como Alzheimer. Em contextos de vulnerabilidade, o diagnóstico pode nem sequer ser realizado.


Vidas que foram silenciadas, memórias que se apagam

Durante décadas, muitas pessoas LGBTQIA+ foram forçadas a esconder sua orientação ou identidade de gênero. Com o avanço da demência, esse passado de repressão pode ressurgir: há relatos de pessoas trans, por exemplo, que em fases avançadas deixam de reconhecer seu próprio nome social, retornando involuntariamente a identidades que não representam quem são.


“O apagamento é literal e simbólico. O que já foi negado em vida reaparece na doença, muitas vezes sem suporte adequado”, afirma o psicólogo social Daniel Ribeiro, que atua com envelhecimento LGBT em centros de referência.


Falta de acolhimento e preparo institucional

A maioria dos lares de idosos, públicos ou privados, não possui políticas inclusivas. Há casos de pessoas LGBTQIA+ que, ao serem internadas ou institucionalizadas, sofrem discriminação de outros residentes ou da própria equipe de cuidado. Isso leva muitas a esconder sua identidade mais uma vez — mesmo em situações de extrema fragilidade.


“Enfrentamos uma dupla exclusão: pelo envelhecimento e pela orientação sexual ou identidade de gênero. Isso compromete a saúde mental, o acesso à assistência e a dignidade no fim da vida”, ressalta a ativista trans e assistente social Ana Cecília Moura.


Políticas públicas e cuidado com afeto

Para enfrentar esse cenário, especialistas defendem a criação de protocolos específicos nos serviços de saúde e assistência social, capacitação de cuidadores com enfoque em diversidade e fortalecimento das redes de apoio comunitárias.


Algumas experiências pioneiras, como grupos de convivência LGBTQIA+ da terceira idade, têm demonstrado que o acolhimento afetivo é essencial. “Cuidar da memória também é cuidar da história dessas pessoas, com escuta, respeito e proteção contra o preconceito”, afirma a gerontóloga Márcia Galvão.


O papel da sociedade civil e da imprensa

Dar visibilidade a essa realidade é parte do processo de transformação. Entidades como a ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer) começam a incluir temas sobre diversidade em seus debates. Iniciativas como cartilhas inclusivas, rodas de conversa e formações para profissionais de saúde também ganham força.


Enquanto a ciência busca tratamentos para deter a demência, cabe à sociedade garantir que nenhum corpo seja abandonado por ser quem é. A luta por memória, dignidade e cuidado passa, necessariamente, pelo reconhecimento da diversidade na velhice.


 
 
 

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