Mulheres no fim do ano: violência e outras pautas merecem atenção
- Pimenta Rosa
- há 9 horas
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Por: Graça Duarte*
Apesar do destaque dado à violência contra as mulheres nos veículos de comunicação, especialistas apontam que é preciso ampliar o foco para temas como empreendedorismo, educação, saúde e segurança pública, que afetam de forma distinta a vida feminina no Brasil
A violência de gênero é a pauta principal, mas não esgota os desafios enfrentados pelas brasileiras. Dados e análises de pesquisadores e de órgãos públicos indicam que questões estruturais, como desigualdade salarial, precariedade no mercado de trabalho, lacunas no acesso à saúde e déficits na proteção social, requerem visibilidade e políticas públicas integradas à agenda do fim de dezembro e do ano que se inicia. O debate público, deve avançar do registro episódico de casos para ações sistêmicas de prevenção e promoção da autonomia feminina.
No âmbito econômico, o empreendedorismo feminino tem crescido, sobretudo em micro e pequenos negócios, mas convive com níveis mais altos de informalidade e com desigualdades de acesso a crédito e redes de apoio. Segundo levantamentos recentes, as mulheres representam a maioria dos concluintes do ensino superior e ocupam um espaço crescente no mercado formal, mas ainda recebem em média cerca de 20% menos que os homens em posições equivalentes, um indicativo persistente de desigualdade salarial.
“Investir em capacitação e em instrumentos financeiros adaptados à realidade das empreendedoras é essencial para transformar protagonismo em sustentabilidade econômica”, afirma, sobre a questão, uma pesquisadora em políticas de gênero consultada pela reportagem.
Karla Fassini, Rede Imulheres, também ressalta que, para além de programas pontuais de fomento, é necessário fortalecer políticas públicas que articulem assistência, formação e acesso a mercados, reduzindo a exposição de mulheres à informalidade e à insegurança econômica.
Saúde, educação e segurança, interseccionalidade como eixo das políticas
No campo da saúde, observa-se impacto desproporcional nas mulheres tanto em indicadores de saúde reprodutiva quanto em saúde mental, com aumento de queixas por ansiedade e depressão nos serviços de atenção primária desde a pandemia. A mortalidade materna, tema sensível dos últimos anos, e as dificuldades no acesso a serviços de pré-natal em áreas remotas mantêm-se como prioridades. A educação, embora as mulheres sejam maioria nas universidades, persistem desafios na consolidação de trajetórias profissionais por conta da sobrecarga de cuidados domésticos e da desigual distribuição do trabalho não remunerado.
Quanto à segurança pública, além dos feminicídios e da violência doméstica, especialistas chamam atenção para a subnotificação e para a necessidade de melhorias no atendimento jurídico e de proteção às vítimas. Relatos de profissionais que atuam em delegacias e centros de referência apontam insuficiência de estrutura, formas variadas de implementação da Lei Maria da Penha em diferentes localidades e lacunas na rede de proteção que dificultam a continuidade das medidas de proteção.
Para políticas, a agenda reivindicada por organizações da sociedade civil e estudiosos passa por medidas integradas: ampliação de serviços de atenção psicossocial, programas de qualificação voltados ao empreendedorismo com acesso a crédito, campanhas educativas que envolvam comunidades e ações de fortalecimento da rede de proteção.
“A transversalidade, integrar saúde, educação, assistência social, segurança e diversidade é o caminho para respostas efetivas”, resume Katja Bastos, que acompanha e tem propostas e ações de políticas públicas de gênero, ouvida pela reportagem.
Em perspectiva, a imprensa e os formuladores de políticas têm papel central para incluir na pauta feminina à crise imediata da violência e para dar respaldo a políticas estruturantes que assegurem direitos, autonomia e proteção. Com o novo ano na mira, recorrem às estatísticas e às vozes das próprias mulheres para orientar iniciativas que transformem visibilidade numa mudança concreta.
*Graça Duarte é psicanalista

