Musical sobre Djavan estreia em junho no Rio
- Pimenta Rosa
- há 4 horas
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Espetáculo protagonizado por Raphael Elias celebra a trajetória de um dos maiores nomes da música brasileira. Em entrevista exclusiva, ator conta os bastidores do musical

O tão aguardado espetáculo 'Djavan, o Musical' estreia no próximo dia 5 de junho no Rio de Janeiro, com a promessa de emocionar o público ao lançar luz sobre a trajetória de um dos maiores nomes da música brasileira. No centro da produção, está o ator e cantor Raphael Elias, que dá vida a Djavan. Escolhido entre mais de 250 artistas, o mineiro radicado no Rio concedeu entrevista exclusiva ao Pimenta Rosa, em que compartilha o processo de construção do personagem, as exigências vocais e corporais do papel e o simbolismo de representar, no palco, um Ãcone da música brasileira.
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Idealizado por Gustavo Nunes, o espetáculo tem texto assinado por PatrÃcia Andrade e Rodrigo França. A direção artÃstica é de João Fonseca, com direção musical de Fernando Nunes e João Viana — este último filho do próprio Djavan. A preparação corporal e coreografia estão sob responsabilidade de Marcia Rubin, contribuindo para a construção cênica que alia música, emoção e movimento com delicadeza e precisão.
Com uma equipe criativa de peso e uma encenação que valoriza tanto a musicalidade quanto a trajetória de superação do artista, Djavan, o Musical se apresenta como um retrato sensÃvel, envolvente e inspirador de um homem que atravessa gerações. O público pode esperar uma experiência que revela não apenas o Ãcone da MPB, mas também o ser humano por trás da obra.
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Raphael Elias afirma que foi uma emoção fazer parte do projeto, por ser o primeiro grande papel de sua vida. Segundo ele, trouxe um senso de responsabilidade e disciplina e, ao mesmo tempo, uma alegria imensa de poder entrar nesse universo que já tinha vontade: do teatro musical, e ‘dessa forma linda, que é fazendo esse protagonista, o Djavan, um artista que o Brasil inteiro admira, e que a gente tem como referência de uma pessoa de excelência naquilo que faz. É como se fosse uma coroação de um momento também da minha própria trajetória artÃstica', afirma.
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Um mergulho na alma de Djavan
Radicado no Rio de Janeiro há 11 anos, Raphael Elias se reconhece na trajetória de Djavan. Assim como o cantor alagoano, o ator deixou a cidade de Divinópolis (MG) em busca de realização artÃstica na capital fluminense — uma jornada que agora ganha novo sentido com o papel principal no musical. 'Vim do interior da minha cidade para o Rio em busca dessa realização dentro da arte, revela.
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Desde que foi escalado para o papel, Raphael tem se dedicado a uma imersão profunda na vida e na obra de Djavan. Além de estudar vÃdeos, entrevistas e shows, ele buscou referências em materiais, como o filme ‘Para Viver um Grande Amor’ (1983), em que Djavan contracena com PatrÃcia Pillar. Essa imersão multifacetada, segundo Raphael, foi fundamental para compreender a essência do artista e transmiti-la com sensibilidade ao público.
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'Ali percebo sua expressividade mais contida, mais sutil. Foi uma descoberta bacana, porque pude observar o corpo dele fora do palco ou de uma entrevista tradicional. Mesmo atuando, é possÃvel perceber sua forma de andar, suas expressões, como ele transmite emoções em cena. Esse mergulho tem sido profundo e enriquecido pela preparação do espetáculo como um todo', comemora.
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Técnica, escuta e entrega
Interpretar Djavan no palco exige mais do que talento: requer precisão, sensibilidade e um mergulho profundo na complexidade vocal do artista alagoano. Para essa tarefa, Raphael Elias conta com uma equipe de peso que vem afinando cada nota e gesto de sua atuação. O ator tem feito aulas de violão com João Castilho, que é o guitarrista do Djavan há muitos anos, uma das referências na sonoridade do cantor. Conta também com a presença do filho de Djavan, João Viana, na direção musical do espetáculo, que acrescenta uma camada de intimidade à montagem: 'Ele traz para a gente minúcias que só quem convive com Djavan de perto conhece. Isso enriquece muito o trabalho'.
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Além do acompanhamento instrumental e vocal, o ator também vem sendo orientado por Jules Vandystadt, arranjador vocal, e por Marcia Rubin, preparadora corporal, responsável por ajudar Raphael a incorporar a expressividade contida e elegante que marca a presença cênica de Djavan. Mas a voz de Djavan não se revela apenas na melodia: ela carrega também o sotaque de sua origem. Raphael está trabalhando com a fonoaudióloga Jaqueline Priston para reconstruir a prosódia nordestina presente nas gravações da juventude do cantor.
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'Ela está fazendo esse trabalho de fono e de sotaque dentro do projeto. Estou observando como ele realmente canta cada notinha, cada frase, as palavras que ele estende, outras que ele diminui, é uma escuta diferente para as músicas', explica. O cuidado com os detalhes vocais e corporais revela o compromisso do ator com uma representação autêntica e sensÃvel. Em cena, mais do que reproduzir Djavan, Raphael busca traduzir o que há de mais essencial em sua arte: a beleza dos gestos sutis e a musicalidade das entrelinhas.
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Mas, para interpretar um dos maiores nomes da música brasileira, Raphael Elias precisou ir além da voz: teve que transformar também o próprio corpo em cena. Conhecido por sua personalidade expansiva e bem-humorada, o ator e cantor mergulhou fundo na introspecção de Djavan para construir uma presença cênica fiel à essência do artista.
'Djavan é uma figura muito introspectiva, e eu sou o oposto disso. Sou palhaço, risada fácil, tudo meu é grande: é boca aberta, é riso solto’, conta Raphael. ‘Então, ao longo do processo, tem sido um trabalho intenso de imersão. Precisei entender, dentro da minha própria intimidade, como acessar essa contenção que é tão caracterÃstica dele.'
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A busca por essa linguagem mais contida envolveu uma escuta atenta e liberdade criativa. Embora o público tenha uma imagem consolidada do cantor — geralmente discreto, reservado, pouco afeito a grandes exposições —, a equipe do musical se permitiu explorar nuances e subjetividades que ajudassem a construir uma narrativa cênica singular.
'Como ele não é uma pessoa que se expõe muito, tivemos também uma certa liberdade dentro do que é construir um espetáculo. Buscamos criar uma presença que respeita quem ele é, mas que também comunica com o teatro', explica. Essa transformação corporal, aliada à intensa preparação vocal, marca o compromisso de Raphael com um papel que exige não apenas técnica, mas profunda escuta e entrega emocional.
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Representatividade e descobertas emocionantes
A escolha de Raphael Elias para interpretar Djavan no teatro carrega um significado que vai além do talento: representa uma conexão simbólica e afetiva com a trajetória do artista alagoano. Ator negro e nascido no interior de Minas Gerais, Raphael vê na história do cantor um reflexo da própria caminhada, e deseja que seu trabalho possa refletir essa inspiração em outras vidas.
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'Estou no Rio há 11 anos, vindo do interior, assim como Djavan saiu do Nordeste para tentar a vida artÃstica. Isso me inspira profundamente', garante o ator. 'É uma luta ser artista no Brasil, e ser um artista negro é uma luta ainda maior. Mas pensar na fé que Djavan teve no que fazia, na vocação que ele acreditava, me move.'
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A identificação com a biografia do músico é um dos motores da entrega de Raphael ao papel. Quando pensa em representatividade, assegura, pensa em espelhamento, em quantas pessoas negras, de origem simples, vão olhar para o espetáculo e se ver ali, ver que é possÃvel, que vale a pena acreditar nos sonhos e investir neles com seriedade. 'Espero que minha presença no palco sirva de espelho para quem sonha com a arte, sinaliza.
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Para Raphael, mais do que interpretar Djavan, a missão no palco é carregar o gesto simbólico de uma representatividade real, que afirma corpos negros e periféricos em espaços de protagonismo e arte. Ao longo da preparação, Raphael se emocionou ao descobrir mais sobre a trajetória de Djavan e sua forte ligação com a famÃlia.
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'A persistência dele me tocou muito. Saber que ele abriu mão de tanta coisa me dá força. E a relação dele com a mãe me comove. Tenho isso com a minha também. Meus pais sempre me apoiaram. Esse suporte me deu tranquilidade para me preparar com responsabilidade e dedicação.'
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Inspiração
Interpretar Djavan nos palcos tem sido, para Raphael Elias, uma verdadeira transformação pessoal. Desde que iniciou a jornada para dar vida ao cantor, o ator, além de experimentar uma nova disciplina em sua vida, também sentiu um fortalecimento de valores espirituais e humanos, uma disciplina muito grande e reforço na sua fé:
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'Eu sou do candomblé, cultuador de Exu, e acredito profundamente nos caminhos que os orixás apontam para mim. Sinto que essa peça é conduzida por Exu, tanto na narrativa quanto na maneira como os encontros se dão, como as conexões que se formam', frisa Raphael. 'Isso me deu ainda mais certeza de que meu caminho está sendo cuidado e de que tudo aquilo em que investimos com verdade retorna de maneira bonita.'
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Ao mergulhar na vida de Djavan, Raphael também se deparou com uma nova dimensão de sensibilidade. Para além do palco, a convivência com a equipe e o espaço de criação coletiva ampliaram seu olhar para a arte do outro: 'Essa experiência me trouxe uma escuta mais generosa. Ver tantos artistas incrÃveis trabalhando juntos me fez lembrar da importância de estar aberto ao que o outro tem a oferecer. A gente ouve tantas histórias de pessoas que se perdem quando chegam a um lugar de destaque. E eu quero continuar atento, interessado na troca, disposto a ouvir.'
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Raphael compartilha que costuma acolher sugestões que surgem nos ensaios, sejam elas vindas do elenco ou da direção. ‘Gosto de ouvir, de entender como aquela cena afeta os outros. A escuta virou uma ferramenta essencial para mim como artista’. Para o ator, a experiência de viver Djavan não só reforçou sua vocação como intérprete, mas reafirmou a crença de que generosidade, espiritualidade e colaboração são pilares fundamentais da arte. 'Aquela máxima de acredite nos seus sonhos nunca foi tão real para mim quanto agora.'
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Expectativa para a estreia
A expectativa nos bastidores pela estreia é alta, e o protagonista Raphael Elias relata que a ansiedade cresce a cada dia. ‘A estreia está cercada de uma energia muito boa. Toda hora recebo mensagens de pessoas dizendo que estão ansiosas para assistir. Acho que o espetáculo vai emocionar, porque oferece a chance de conhecer melhor a vida e a essência do Djavan’, afirma o ator.
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‘A peça se propõe a ir além do artista consagrado, busca revelar o homem por trás das canções. 'Djavan tem uma carreira tão sólida e admirável que nossos roteiristas comentaram como foi um desafio encontrar os conflitos para a narrativa dramática. Sua trajetória é marcada por conquistas e consistência. Mas conseguimos humanizá-lo, mostrar esse artista como alguém que também errou, tentou, persistiu e foi fiel à sua arte.'
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O espetáculo Djavan, o Musical fica até o dia 29 de junho no Teatro Multiplan VillageMall, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. As apresentações ocorrerão às quintas e sextas-feiras, às 20h, e aos sábados e domingos, às 16h. A temporada carioca será sucedida por apresentações em São Paulo, a partir de 9 de agosto, no Teatro Sabesp Frei Caneca, com sessões aos sábados, às 16h e às 20h, e aos domingos, às 15h e 19h. Os ingressos, quase esgotados, estão à venda pelas plataformas Sympla (RJ) e Uhuu (SP).
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'O público pode esperar um espetáculo profundo, sensÃvel, musicalmente impecável. É uma celebração à vida e à arte de Djavan', convida Raphael Elias.

SERVIÇO:
Djavan, o Musical: Vidas pra contar
Rio de Janeiro
De 05 a 29 de junho - quintas e sextas-feiras às 20h e sábados e domingos às 16h
Teatro Multiplan – VillageMall - Av. das Américas, 3900 – piso SS1 – Barra da Tijuca Rio de Janeiro – RJ
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São Paulo
De 09 de agosto a 28 de setembro - sábados às 16h e 20h, e aos domingos às 15h e 19h
Teatro Sabesp Frei Caneca - R. Frei Caneca, 569 - Consolação, São Paulo - SP