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  • Foto do escritorPimenta Rosa

'Quero dar voz a todos os que estão em vulnerabilidade', afirma o ex-BBB Vyni

Em entrevista exclusiva, o bacharel de Direito Marcos Vinicius, o Vyni, falou de projetos, da importância do Big Brother Brasil em sua vida e a missão de combater não apenas a homofobia



O jeito tímido e olhar terno do bacharel de Direito Marcos Vinicius Fernandes de Souza, o ex-BBB Vyni, brilha quando fala da importância da participação na casa mais vigiada do Brasil e dos projetos para o futuro. Em meio a um turbilhão de compromissos, ele tirou um tempo para falar com exclusividade para o PIMENTA ROSA, sempre cercado por milhares de pessoas que querem abraçá-lo e fazer fotos. Nesta quinta-feira (21/04) ele estará vestindo as cores do Império Serrano, fechando os desfiles da Série Ouro do Carnaval do Rio de Janeiro. Pela energia que coloca em tudo, esse será o primeiro grande sucesso nesse momento que promete muitas novidades.


Antes de entrar no BBB 22, Vyni fazia vídeos humorísticos na internet e já chegou a vender doces, trabalhar como monitor de colégio, cantor de velório e professor particular.


Durante sua participação no BBB 22, o brother confessou as dores da juventude, quando sofreu com a discriminação. Ao ser questionado se tinha prestado queixa em alguma delegacia, disse que não, 'pois não daria em nada'. Agora, entretanto, reafirmou a necessidade de não se calar.


Pimenta Rosa - Você acredita que hoje, após ser conhecido, a atitude das pessoas em relação ao Vyni seria diferente?


Vyni - Eu não me sinto nem um pouco diferente com o fato de estar sendo conhecido, ou reconhecido. Eu continuo sendo eu mesmo, continuo sendo a mesma pessoa que eu era dois meses atrás. Quando se trata de preconceito eu acredito que por mais conhecido, por mais famoso que você seja, ele ainda vai subsistir em alguma medida. Não tão escancarado quanto antes, mas ainda vai existir de forma velada. Se o que antes era uma agressão direta, talvez hoje seja um comentário desnecessário, ou pergunta desnecessária, uma piada. Então, ainda assim, o preconceito vai existir.


Pimenta Rosa - Qual a diferença do Vyni que entrou no Big Brother Brasil para o que saiu da casa? Houve alguma mudança significativa em você nesse período?


Vyni - Com certeza houve mudanças. Na verdade não foi só uma mudança. A principal delas foi a descoberta do meu amor próprio. A redescoberta de que eu tenho de me valorizar, que eu posso sim, que eu tenho motivos para me sentir orgulhoso de mim mesmo, pra me valorizar, pra me colocar em primeiro lugar. Priorizar a mim mesmo e não priorizar as outras pessoas e esquecer de mim. Me colocar em primeiro lugar, reconhecendo que isso não é arrogância, Não é errado se colocar em primeiro lugar, mas é uma questão de ser justo, honesto e gentil consigo mesmo. Então, acredito que me amar foi o que mais mudou em mim lá dentro. E, de certa maneira, eu comecei a enxergar coisas sobre mim que antes eu não enxergava. Coisas boas e outras nem tão boas, mas que agora eu posso melhorar.


Pimenta Rosa - Você ainda acredita que ir à delegacia e prestar queixa em casos de homofobia (ou LGBTfobia) não resolve?


Vyni - É muito importante ir à delegacia quando você sofrer qualquer tipo de discriminação. É importante que você preste queixa, que você registre a queixa, Independente se vai ou não ter uma resposta imediata, a sua parte você fez, você não ficou calado. Eu acredito que as pessoas já ficaram caladas tempo demais e não é mais momento pra isso. E já existem delegacias especializadas em crimes de intolerância racial, crimes contra a comunidade LGBT. Então, acredito, independente de você ter uma resposta imediata, ou não, é muito importante você fazer a sua parte. Não deixe de ir.


Pimenta Rosa - Você falou que cresceu se sentindo condenado pela palavra de pregadores. As religiões pregam que ‘Deus é amor’. Na sua visão, por que há discriminações nas igrejas?


Vyni - Há discriminação nas igrejas pela mesma razão que há discriminação na sociedade: pelas pessoas. Não é o meu papel questionar a fé de ninguém, a religião de ninguém, a denominação religiosa, dogmas, crenças. Não é meu lugar fazer isso. Mas acredito que, se dentro de uma mesma denominação religiosa existe alguém com uma atitudes homofóbicas, preconceituosas, e nessa mesma denominação existem pessoas que são completamente contra essas atitudes, o problema não está na denominação. O problema está na pessoa. Porque eu acredito que essas pessoas ainda têm essa atitude porque é muito mais cômodo acreditar que esses dogmas antigos são os únicos corretos, são verdades absolutas, verdades universais, quando na verdade não é assim. Se a nossa sociedade não é a mesma de 10 anos atrás, o que dirá de séculos atrás. É muito mais fácil permanecer nesse lugar que acompanhar as mudanças sociais, as mudanças antropológicas e reconhecer que nem tudo é como foi ensinado pra gente. Acho que é por isso que o preconceito ainda existe dentro das igrejas. Não pelo fato da religião em si, mas pelas pessoas que, muitas vezes, nem estão preocupadas com os dogmas, mas muitas vezes usam isso como desculpa para descarregar o ódio sobre pessoas que, simplesmente, estão tentando ser felizes. Buscando ser felizes com quem elas são e, claro, buscando algo mais, buscando essa conexão com o divino.


Pimenta Rosa - Como mudar essa visão de mundo de uma sociedade conservadora e preconceituosa? Esse Brasil que lidera o ranking de violência contra a comunidade LGBT te representa?


Vyni - O Brasil que me representa é um Brasil de respeito, é um Brasil de acolhimento, é um Brasil onde as pessoas abraçam, onde as pessoas se respeitam. Sobre mudar essa visão de mundo, uma vez Einstein falou que é mais fácil desintegrar o átomo que um preconceito. Hoje a gente sabe que é possível desintegrar um átomo, com a desintegração radioativa. Então, porque não também desintegrar um preconceito? E acredito que não exista apenas uma resposta para essa mudança, mas várias respostas. Mas eu defendo muito a empatia e a educação. A empatia para você se colocar no lugar das outras pessoas, para você tentar saber, porque você talvez nunca vá saber, mas tentar entender o que o outro sente, tentar entender em que lugar as coisas atravessam as pessoas, as dores delas, o sentimento de não se sentir aceito, de não se sentir pertencido, e reconhecer que isso não é uma coisa boa, que talvez não seja o que você gostaria para você. E, depois da empatia, a educação. Porque, se a empatia é uma resposta imediata, a educação vai perpetuar essa empatia, ela vai transpor a barreira do tempo e se colocar para as futuras gerações.


Pimenta Rosa - Você acredita que a inserção de personagens LGBT em filmes, série e novelas, fora daquele padrão caricato de décadas atrás, ajuda a discutir a questão de gênero na sociedade?


Vyni - Com certeza! Ajuda e muito. Porque você inserir personagens LGBT fora do padrão ajuda a quebrar na cabeça das pessoas a ideia de que só existe um tipo de pessoa LGBT, que as pessoas LGBT precisam se adequar somente àquele tipo. Não tem que ser assim. As pessoas são como elas são, elas são múltiplas, elas são complexas em sentimentos, complexas em pensamentos, complexas em valores. Então, a gente não pode reduzir as pessoas a uma determinada caixinha, a uma determinada caricatura. As pessoas são quem elas são, quem elas devem ser, quem elas acreditam que devem ser. Mostrar isso na dramaturgia gera um debate, gera um discurso muito importante de que nós somos pessoas comuns. As pessoas LGBT são pessoas comuns, são pessoas como quaisquer outras. Então, porque sempre tem de ficar delimitada a uma caixinha, a um estereótipo. As pessoas não precisam ser sempre alocadas em um mesmo estereótipo!


Pimenta Rosa - Como foi a tua recepção na volta ao Ceará?


Vyni - Minha volta ao Ceará foi algo sem explicação. Por ser eliminado antes da final você, normalmente, fica com receio da reação das pessoas. Se você cometeu algum erro. Se você fez alguma coisa pela qual as pessoas vão te julgar, vão te condenar. Então fui com muito receio, fui sem expectativa nenhuma. Mas, quando cheguei no aeroporto e vi as pessoas gritando meu nome, as pessoas querendo abraçar, querendo tirar foto. E, mais do que isso, falando que se sentiram representadas, agradecendo por eu ter exaltado a nossa cultura. Não só a Ceará, mas a cultura nordestina. Pessoas dizendo que se identificam comigo, me parabenizando pela minha trajetória, porque se sentiram orgulhosos de quem eu fui, isso pra mim valeu mais que tudo. Foi indescritível. Foi sensacional. Não imaginava que seria desse jeito. Não apenas no Ceará, mas nas cidades por onde passo também.


Pimenta Rosa - Quais seus planos para o futuro, como, por exemplo, trabalhar para que jovens iguais a você não passem pelas mesmas dores que você passo, para que eles não tenham medo de andar nas ruas?


Vyni - Entrei naquela casa dizendo que eu queria, além do prêmio de R$ 1,5 milhão, fazer com que as pessoas fossem ouvidas. Eu não queria ser a voz de uma pessoa. Eu queria dar a oportunidade para que essa pessoa mostre a sua voz. Essa é a minha missão, porque acho que quando digo que sou a voz de alguém, eu meio que estou tirando a voz dela. Eu não quero isso, eu quero dar voz às pessoas. Falei isso durante a minha jornada inteira dentro daquela casa e, quis Deus e o público, que eu fosse eliminado na oitava semana, mas esse desejo no meu coração permanece. Quero usar as minhas plataformas, as minhas mídias digitais, que é o meu palco até então, pra falar sobre esses assuntos, para debater, para mostrar que esses assuntos existem. Não apenas na questão da homofobia, mas em várias outras áreas, como crianças em situação de vulnerabilidade, idosos, animais, portadores de necessidades especiais, Enfim, abranger o máximo possível de áreas em vulnerabilidade social que eu vejo para, de alguma forma, tentar colaborar, nem que seja um pouquinho, para essa mudança social.


Pimenta Rosa - Em termos profissionais, além dos contratos pós BBB, você pretende focar na gastronomia e ajudar tua mãe no restaurante, ou tem projetos fora do Ceará?


Vyni - Na gastronomia eu só sirvo para comer, porque eu sou uma negação cozinhando. Inclusive gostaria muito de aprender, vou até buscar fazer isso. Sou terrível cozinhando, gente (muitos risos). Então, a gastronomia nunca foi nem um plano na minha vida. E sobre ajudar Maínha (Dona Quinha, dona do restaurante Pirão de Costela, na cidade de Crato, no Ceará), eu espero que eu possa trabalhar bastante para que ela não precise mais trabalhar. Vai acontecer! Já está acontecendo, na verdade. Para que ela possa se aposentar, aproveitar a vida dela, ter tudo que ela nunca teve. Nem pretendo focar na gastronomia, nem deixar Maínha trabalhando. Logo, logo ela vai estar aproveitando, embora ela é aquele tipo de pessoa que não consegue ficar sem fazer nada. Mas só de tirar esse peso das costas dela, de saber que ela pode aproveitar tudo o que ela quiser, trabalhando ou não, é uma meta para mim. E estou com vários projetos fora do Ceará, claro, incluindo esse também. As pessoas podem aguardar coisas muito boas, porque é incrível como tudo tem dado certo para mim aqui fora. Nunca foi sorte, né, sempre foi Deus. Planos e projetos que estavam na minha mente, quando eu verbalizei, tudo se encaixou, tudo deu certo. Vem coisas muito grandes e boas por ai.

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