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Setembro Amarelo e a Saúde Mental da População LGBTQIAPN+

  • Foto do escritor: Ronaldo Piber
    Ronaldo Piber
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura
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Ronaldo Piber*


Setembro é marcado pela cor amarela, símbolo da campanha nacional de prevenção ao suicídio. Lançado no Brasil em 2015 pela Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina, o Setembro Amarelo busca conscientizar a sociedade sobre a importância de falar abertamente sobre saúde mental e oferecer suporte a quem sofre. Apesar de o suicídio ainda ser um tema tabu, é urgente encarar a realidade: ele é uma das principais causas de morte entre jovens no mundo, e poderia ser prevenido em grande parte dos casos se houvesse diálogo, acolhimento e cuidado.


Quando olhamos para a população LGBTQIAPN+, a discussão ganha ainda mais relevância. Pesquisas apontam que pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, travestis, intersexo e não binárias apresentam índices mais elevados de depressão, ansiedade e tentativas de suicídio em comparação à população geral. De acordo com um relatório da Trevor Project, organização internacional dedicada à saúde mental de jovens LGBTQIA+, mais de 40% deles já consideraram seriamente o suicídio. No Brasil, onde a homofobia e a transfobia ainda estão presentes em diversas esferas sociais, a vulnerabilidade é ainda maior.


É importante deixar claro: não é a orientação sexual ou a identidade de gênero que provocam sofrimento mental. O que adoece é o estigma social: a rejeição familiar, o bullying escolar, a violência verbal e física, a exclusão em ambientes de trabalho e, muitas vezes, a falta de acesso a serviços de saúde preparados para acolher essa diversidade. Esse fenômeno é chamado de estresse de minoria — a sobrecarga emocional constante gerada por viver em uma sociedade que discrimina.


No entanto, há esperança. O Setembro Amarelo nos convida a quebrar esse ciclo de silêncio e solidão. Falar sobre saúde mental não é sinal de fraqueza, mas de coragem. É preciso naturalizar o ato de pedir ajuda, valorizar a escuta sem julgamento e fortalecer redes de apoio, especialmente dentro da comunidade LGBTQIAPN+, que historicamente sempre encontrou na coletividade uma fonte de resistência e sobrevivência.


Também é fundamental olhar para a responsabilidade dos serviços de saúde. Muitos evitam procurar atendimento psicológico ou psiquiátrico por medo de sofrer discriminação. Profissionais de saúde precisam ser formados para atender com respeito, acolhimento e livre de preconceitos, compreendendo as especificidades da vivência LGBTQIAPN+. Criar espaços seguros nos consultórios, ambulatórios e hospitais é uma medida de prevenção tanto quanto qualquer tratamento medicamentoso.


Outro aspecto importante é a rede de apoio fora do ambiente clínico. Famílias, escolas, universidades, locais de trabalho e organizações sociais podem e devem desempenhar um papel essencial na valorização da vida. Uma palavra de incentivo, a aceitação da identidade de gênero ou da orientação sexual de alguém, o combate a atitudes preconceituosas — tudo isso pode reduzir drasticamente o risco de adoecimento mental e de suicídio.


Para além das ações individuais, precisamos de políticas públicas efetivas. É necessário ampliar o acesso à saúde mental no Sistema Único de Saúde (SUS), garantir políticas de inclusão escolar e profissional, combater a violência homotransfóbica e promover campanhas permanentes de valorização da vida. O Setembro Amarelo não deve ser apenas um mês de reflexão, mas um lembrete de que o cuidado é uma luta contínua.


No fim, a mensagem central é clara: a vida sempre vale a pena. A comunidade LGBTQIAPN+ já provou inúmeras vezes sua capacidade de resistir, reinventar-se e transformar a dor em arte, luta e afeto. Cuidar da saúde mental é também um ato político, de resistência e de amor próprio.


Se você, leitor ou leitora, atravessa um momento difícil, lembre-se: pedir ajuda é um passo de força, não de fraqueza. Você não está só. O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito e sigiloso pelo telefone 188, disponível 24 horas por dia. E, sobretudo, há sempre alguém disposto a escutar, acolher e caminhar junto.

Neste Setembro Amarelo, deixemos uma mensagem coletiva: viver é um direito, cuidar da saúde mental é uma necessidade, e respeitar a diversidade é um dever de toda a sociedade.



*Ronaldo Piber é advogado e colunista do Pimenta Rosa


 
 
 
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