top of page
  • Foto do escritorPimenta Rosa

A voz do teatro engajado: entrevista exclusiva com Jitman Vibranovski

O veterano do teatro brasileiro fala sobre sua trajetória, a fundação do Grupo Militantes em Cena e a importância do engajamento político e cultural nos palcos.



No coração pulsante do Rio de Janeiro, um veterano do teatro brasileiro continua a desafiar o status quo com sua arte. Jitman Vibranovski, aos 78 anos de idade e com 60 anos dedicados ao teatro, mantém sua paixão viva e vibrante, dedicando-se integralmente ao Grupo Militantes de Cena. Capixaba de nascimento, mas carioca de coração, Jitman é diretor, ator e criador, sempre buscando provocar reflexões profundas sobre questões sociais e políticas através do palco.


Em uma conversa exclusiva com Pimenta Rosa, Jitman Vibranovski compartilha sua trajetória, as motivações por trás da fundação do Grupo Militantes de Cena em 2016 e a importância do engajamento político e cultural no teatro. O grupo apresentará nos próximos dias 8 e 9 (sábado e domingo), às 19h, na Associação Scholem Aleichem - ASA, a peça 'A cadela do fascismo está sempre no cio', uma montagem poderosa que reúne textos de Bertolt Brecht, Eduardo Galeano, Baruch Spinoza, João Ximenes, Alexandre Lambert, e do próprio Jitman. A peça, com entrada franca, é, segundo Vibranovski, uma convocação à reflexão sobre a ameaça persistente do fascismo, que ressurge com força na atualidade.

Veja a entrevista completa:


Você poderia nos contar um pouco sobre a criação do grupo Militantes em Cena e seu principal objetivo desde a fundação?

O Grupo Militantes em Cena nasceu em 2016, no momento em que a democracia no Brasil estava sendo estuprada com o golpe perpetrado contra a presidenta Dilma. Então, eu senti uma necessidade imensa de usar o que eu tinha nas mãos, que é a minha arte, meu teatro, para fazer alguma coisa. Convidei pessoas, algumas com experiência de teatro, outras com mais experiência, outras com menos. O único requisito para entrar no grupo era estar indignado com a situação no Brasil. Nos reunimos e começamos a trabalhar. O objetivo principal sempre foi produzir um tipo de teatro que provocasse debate na plateia. Em todos os nossos espetáculos, nós sempre batemos um papo com a plateia depois das apresentações. Podemos até discordar, mas sempre democraticamente. Todos são bem-vindos aos nossos trabalhos. Esse sempre foi o objetivo principal e temos mantido isso até hoje.


A peça 'A cadela do fascismo está sempre no cio' reúne textos de vários autores renomados. Como foi o processo de seleção desses textos?

O processo de construção da peça 'A cadela do fascismo está sempre no cio' foi diferente de todos os outros. Após montar '8 de janeiro', um teatro documentário baseado em vídeos de manifestações e prisões recentes no Brasil, pensamos: 'O que vamos fazer agora?' Não sabíamos. Então, sugeri que os atores e eu trouxéssemos textos variados – poderiam ser letras de músicas, discursos, ou qualquer texto que nos chamasse a atenção. Não sabíamos de antemão qual seria o tema. Mas, pelo inconsciente coletivo, os textos que surgiram revelaram uma preocupação comum com o crescente aumento da extrema-direita no mundo e no Brasil. Nossa aflição e angústia sobre essa questão moldaram a peça. Assim, os textos que escolhemos refletem essa preocupação constante e a necessidade de lutar e provocar uma discussão sobre isso.


Qual foi a principal motivação para abordar o fascismo neste momento? Você acredita que estamos vivendo uma nova onda de fascismo global?

Sim, acredito que estamos vivendo uma nova onda de fascismo global. O avanço da extrema-direita em vários países e o que aconteceu aqui no Brasil são evidências claras disso. Em muitos países, a extrema-direita está ganhando cada vez mais espaço nos parlamentos, e temos um governo que enfrenta grandes dificuldades para governar devido a essa influência. A utilização de fake news nas redes sociais também é uma arma poderosa deles. Estamos realmente enfrentando uma nova onda de fascismo global.


Olhando para a sua carreira, quais foram os momentos mais marcantes e desafiadores como ator e diretor?

É difícil apontar um único momento marcante em 60 anos de teatro. Cada trabalho é um desafio e marca profundamente. Sou muito apaixonado pelo que faço, e cada projeto em que mergulho é especial. Atualmente, estou envolvido em dois trabalhos ao mesmo tempo: um solo chamado 'Édipo Eu', uma adaptação de 'Édipo Rei', e 'A Cadela do Fascismo Está Sempre no Cio', que eu dirijo e também faço uma pequena participação. Sou muito apaixonado pelo grupo e pelo trabalho que fazemos, pela criatividade e pela possibilidade de transformar minhas aflições, angústias, desejos e alegrias em cenas teatrais. Tento fazer uma direção democrática, para que os atores não sejam meras marionetes, mas sim, parte ativa do processo criativo. Cada momento é o mais importante.


O grupo realiza apresentações gratuitas em diversos espaços, como escolas e sindicatos. Como essas apresentações itinerantes contribuem para a democratização do acesso ao teatro?

Temos uma sede na ASA, Associação Scholem Aleichem, em Botafogo, que nos acolhe com total liberdade. As nossas apresentações são sempre gratuitas, mas passamos o chapéu ao final para contribuições voluntárias. Nossos espetáculos são simples, sem cenários elaborados, para serem facilmente apresentados em qualquer lugar. Isso permite que levemos o teatro a diversos públicos, contribuindo não só para a democratização do acesso ao teatro, mas também para a promoção da democracia através do debate e da reflexão.


Você tem uma vasta experiência tanto no teatro quanto na TV. Como essas duas áreas se complementam na sua trajetória profissional?

O teatro é muito mais prazeroso porque você tem tempo para construir o personagem e estudar a peça em profundidade. A televisão, por outro lado, exige rapidez. Acabei de fazer três novelas no SBT, o que me deu uma agilidade maior para resolver cenas rapidamente. Essas duas experiências se complementam. A televisão trouxe uma rapidez e uma praticidade que se refletiram no meu trabalho teatral, enquanto o teatro proporciona uma profundidade que enriquece meu trabalho na TV.


Para finalizar, que mensagem você gostaria de deixar para os nossos leitores sobre a importância do engajamento político e cultural através do teatro?

A mensagem que deixo é que o engajamento político é fundamental em qualquer atividade. Não há atividade que não seja política, pois estamos todos inseridos na sociedade. No teatro, isso é ainda mais evidente. A arte chega não só pela cabeça, mas também pelo coração, e é fundamental que seja usada para promover discussões e reflexões sobre temas sociais e políticos. Qualquer pessoa, em qualquer atividade, pode e deve buscar um engajamento político, mesmo que de forma sutil, como minha esposa fazia ao ensinar produção de texto. Engajamento e consciência política são essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.



SERVIÇO:

Peça 'A Cadela do Fascismo Está Sempre no Cio'

  • Militantes em Cena: Alexandre Lambert, Betina Viany, Evanize Kliegerman, Lucia Farias, Jitman Vibranovski (direção), Miriam Gontijo,  Monica Ramalho, Nicolai Nunes, Rossana Lourenço e Sergio Andrea

  • Dias: 8 e 9 de junho (sábado e domingo)

  • Horário: 19h

  • Local: ASA – Associação Scholem Aleichem - Rua São Clemente, 155 - Fundos,

  • Estacionamento rotativo

  • Entrada franca

  • Duração: 50 minutos seguido de debate.

241 visualizações

2 commenti


Gui Oliveira
Gui Oliveira
04 giu

Os Militantes em Cena enriquecem a razão da cidadania com a emoção que só o Teatro produz. E a cidadania emocionada tem capacidade transformadora amplificada. Parabéns aos Militantes em Cena!

Mi piace

Miriam Gontijo de Moraes
Miriam Gontijo de Moraes
04 giu

Maravilha de matéria e conteúdo. Jornalismo de primeira linha

Modificato
Mi piace
bottom of page