Argentina Caetano: uma voz feminina na ala de compositores da GRES Unidos do Viradouro
- Pimenta Rosa
- 18 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de abr.
Embora colabore com outras escolas, é na agremiação que encontrou um espaço de acolhimento e respeito

No universo do samba, as mulheres têm conquistado espaços de destaque, quebrando barreiras históricas e assumindo papéis de liderança e criação. Compositora apaixonada pelo samba, Argentina Caetano tem se consolidado como uma das vozes femininas mais atuantes da ala de compositores da Unidos do Viradouro. Embora colabore com outras escolas, é na agremiação que encontrou um espaço de acolhimento e respeito.
'Estou em várias outras agremiações como compositora, mas na ala de compositores, eu sou da Viradouro. E o que me encanta é a relação de respeito e parceria entre os integrantes, mesmo durante as disputas de samba', afirma.
Argentina destaca o ambiente fraterno da ala da Viradouro, onde, segundo ela, não há rivalidade agressiva. 'Quando um samba é eliminado, a gente escolhe outro da ala para torcer. É muito família, sem clima de disputa. E eu não me sinto discriminada por ser mulher. Pelo contrário, acredito que a ala da Viradouro é uma das que mais tem mulheres compondo no grupo especial', observa. A compositora também exalta a figura da presidente da ala, Greide Moreno, uma das únicas mulheres a ocupar esse posto no grupo especial. 'Acho isso muito simbólico, pois ainda são raríssimas as alas com presidência feminina”, completa.
Ela lembra com carinho de nomes tradicionais que a acolheram com respeito, como Seu Lambreta, Heraldo Faria, Mocotó e Paulo César Portugal. 'São homens com uma longa trajetória no samba, de um tempo em que o preconceito era ainda mais forte. E mesmo assim, ali dentro, há um respeito verdadeiro por nós mulheres', diz. Embora ainda não tenha visto um samba assinado por uma mulher liderar a disputa e se tornar o hino oficial da escola, acredita que isso acontecerá em breve. 'A gente já conquistou espaço e respeito. Só falta esse detalhe, que uma hora vai chegar', afirma com esperança.
Fora do circuito carnavalesco, Argentina também se dedica ao grupo Samba na Fonte, formado por compositores de sambas autorais e inéditos, que se reúnem quinzenalmente para apresentar suas criações. É um espaço onde o samba é cantado por quem o compôs, o que valoriza ainda mais a criação. Nosso compromisso é com a autenticidade e com a ancestralidade', explica. Além disso, participa da nova escola de samba Império da Resistência, cujo nome já indica sua proposta: resgatar a essência do carnaval, valorizando a cultura popular, a luta contra o preconceito e a memória ancestral do samba.
Questionada sobre o papel das escolas de samba na luta pela diversidade e igualdade de gênero, Argentina é enfática: 'As escolas ainda são os espaços mais democráticos que temos no Brasil. Lá, convivem pessoas de diferentes origens, raças e classes, com respeito e protagonismo. A escola de samba ainda é um lugar onde se valoriza a ancestralidade, a idade e o coletivo', pontua. Ela reconhece, no entanto, que há avanços a serem feitos. 'Ainda falta uma mulher como intérprete principal de uma grande escola. Temos grandes vozes femininas, como Dandara Alves, Wic Tavares, Millena Wainer, Grazzi Brasil, mas nenhuma foi colocada como intérprete titular. Elas só vêm como apoio. E isso precisa mudar.'
A presença de mulheres em cargos de liderança também é tema de sua crítica. 'Contam-se nos dedos as presidentes de escola de samba. No grupo especial, temos a Mangueira e no acesso, o Arranco. E diretora de carnaval? Também quase nenhuma. Mesmo com tantas mulheres talentosas, ainda não ocupamos plenamente esses espaços', diz. Segundo ela, o reconhecimento histórico do papel das mulheres no samba — desde a criação das primeiras alas até a organização dos desfiles — precisa se refletir em oportunidades reais de comando. Mas, apesar das lacunas, Argentina se mantém otimista:
‘As mulheres estão aí, fazendo excelentes sambas, ocupando espaço, mostrando sua força. Eu acredito que esse reconhecimento ainda vai crescer. A gente está conquistando aos poucos, com talento, respeito e muito amor pelo samba’, conclui.
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