“Bugonia”: Lanthimos retorna ao auge com sátira feroz sobre paranoia, poder e desinformação

Pimenta Rosa
há 3 dias
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No filme que estreia no próximo dia 27 (quinta-feira), o diretor grego revisita Save the Green Planet! para construir um retrato contundente de teorias conspiratórias, capitalismo predatório e crise social, conduzido por performances intensas de Emma Stone e Jesse Plemons.

Com estreia marcada o próximo dia 27 (quinta-feira), o longa Bugonia combina ficção científica, humor ácido e sátira social em um formato aparentemente simples, porém repleto de camadas. Baseado no sul-coreano Save the Green Planet! (2003), o filme se ancora no presente, onde fakenews, negacionismo e teorias conspiratórias se infiltram no cotidiano – para construir uma crítica aguda ao mundo contemporâneo.

A trama acompanha os primos Teddy (Jesse Plemons) e Don (Aidan Delbis), dois homens à margem da sociedade que se convencem de que uma raça alienígena vive entre os humanos. Movidos por desinformação e crenças sem fundamento, eles sequestram Michelle (Emma Stone), bilionária e CEO de um conglomerado farmacêutico, acreditando ser ela uma emissária extraterrestre prestes a destruir o planeta.

O roteiro de Will Tracy utiliza essa premissa absurda para articular um olhar sócio-político habilmente construído. Teddy — apicultor devastado pelo desaparecimento das abelhas e pelo histórico de danos causados à sua família pelos medicamentos da empresa de Michelle — encarna a figura do indivíduo seduzido pelo radicalismo digital. Já Don, guiado pela inocência e pela falta de repertório crítico, torna-se cúmplice involuntário. Juntos, representam uma parcela crescente da população global vulnerável ao fluxo de desinformação, cujo impacto se reflete em atitudes extremas.

O título do filme, inspirado no mito das abelhas que emergem de um boi morto, reforça a metáfora central: um mundo em decomposição que continua produzindo ilusões. Essa simbologia perpassa a narrativa, levando Bugonia a oscilar entre o absurdo e o plausível, característica que lhe confere força dentro do gênero do suspense paranoico.

Ao longo do filme, o jogo psicológico entre Teddy e Michelle se intensifica. Plemons entrega uma atuação marcante ao retratar um homem tragicamente enganado pela própria convicção, enquanto Stone explora com precisão a ambiguidade de uma figura poderosa que, mesmo vítima, manipula o tabuleiro. À medida que as tensões crescem, o espectador é levado a questionar continuamente quem realmente detém o controle.

Lanthimos costura esse embate com um cinismo característico, mas também com a percepção de que a sociedade parece incapaz de aprender com seus próprios erros. Bugonia arranca risadas e desconforto em igual medida, refletindo sobre um presente marcado por colapsos ambientais, desigualdades extremas e uma crise cultural alimentada pela desinformação.

Em última instância, o filme se impõe como um retrato mordaz de um mundo em desintegração. Entre as obras contemporâneas que tentam capturar o espírito do século, Bugonia se destaca por conseguir fazê-lo com uma combinação rara de ousadia, crítica e inventividade, reafirmando Lanthimos como um dos cineastas mais relevantes de nosso tempo.