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Fause Haten estreia “Eu Sou um Monstro” no Rio

  • Foto do escritor: Pimenta Rosa
    Pimenta Rosa
  • há 32 minutos
  • 6 min de leitura

Em entrevista ao jornal Pimenta Rosa, o multiartista fala sobre a peça inédita na cidade, que mistura artes cênicas e visuais e encerra sua trilogia autoral


Fotos divulgação: Rafa Marques
Fotos divulgação: Rafa Marques

Reconhecido pela trajetória como estilista e por uma carreira transdisciplinar que atravessa a moda, as artes visuais e a cena teatral, Fause Haten conversou com o jornal Pimenta Rosa sobre sua nova criação: o solo Eu Sou um Monstro. O espetáculo estreia nesta quinta-feira (04), no Teatro Poeirinha, onde segue até 26 de outubro, e encerra a trilogia iniciada com A Feia Lulu (2014) e Lili Marlene – Um Anti Musical (2017). Inspirada em um episódio trágico da vida do pintor Francis Bacon, a obra mistura performance, vídeo e artes plásticas, convidando o público a refletir sobre os limites da arte, a força do olhar e as múltiplas formas do amor.

Veja, a seguir ,a íntegra da entrevista:


Você é reconhecido como estilista e multiartista, mas neste espetáculo assume texto, direção e atuação. Como foi esse processo de transitar da moda para o teatro e consolidar uma linguagem tão própria?

O meu trabalho como artista transdisciplinar está sempre no meio do caminho. Então, eu estou entre a moda e as artes visuais, o meu trabalho é entre a escultura e a construção de uma roupa, entre a pintura e a pintura têxtil. E da mesma maneira, esse espetáculo, que na realidade é uma performance, ela tem essa forma que não considera uma direção. O espetáculo teatral tem uma situação de um texto, um diretor, um ator, e uma construção cênica a partir de ensaios, de uma forma teatral de criação.

Esse meu trabalho é uma performance. Sou eu em primeira pessoa que entro em cena para falar um texto que é meu. E o texto tem uma série de aberturas, de improviso que se modificam conforme o público que vai estar lá comigo e conforme o dia desse acontecimento. Então, ele é um acontecimento que a cada dia se renova, de fato, porque ele não tem essa amarração. E nesse sentido, não existe o autor, não existe o ator e não existe o diretor. Existe apenas o performer, que entra lá como artista em primeira pessoa para realizar esse acontecimento.

O meu entendimento de performance dividir com o público essa experiência. Eu entro em cena com um roteiro na cabeça e o que vai acontecer não necessariamente será igual todos os dias. Por isso, que eu chamo esse trabalho de performance e assim é esse trabalho.

Nesse caso, a minha transição da para o teatro e para as artes, de uma maneira mais ampla, acontece num processo que já dura quase 20 anos. Eu entro para a escola de teatro em 2006, eu fiz o Célio Helena, em São Paulo, estudei lá de 2006 a 2010. Estudando teatro eu descobri a performance, quando eu começo a transitar pela performance, eu começo a entender a performance em vídeo, essa performance em vídeo me leva para a fotografia, a fotografia me leva para a pintura, a pintura me leva para a escultura, e aí no final eu acabo sendo essa mistura, que acaba...

Acho que a maior característica do meu trabalho mesmo é estar entre, não é uma coisa ou outra, estou entre as duas e é como se a moda e as artes estivessem borradas no trabalho que eu faço. É como se o teatro e as artes visuais estivessem borrados no trabalho que eu faço. Então, eu entendo isso claramente e acho que demorei até um tempo para entender isso, mas hoje, entendendo isso, eu usufruo dessa possibilidade, e desse não lugar que eu ocupo.


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“Eu Sou um Monstro” encerra uma trilogia que começou com A Feia Lulu e Lili Marlene. De que forma esse novo trabalho dialoga com os anteriores e completa o ciclo?

A Feia Lulu foi o meu primeiro texto para teatro, e tinha um formato de teatro de fato. Era um texto fechado, amarrado, começo, meio e fim. Tinha um pensamento de direção.

Meu segundo texto foi um musical, um antemusical, como eu digo, Lili Marlene, um antemusical, que também tinha esse pensamento. O que eles têm em comum é que sempre existe o Fauzi no contraponto desse texto. Sempre tem um personagem, ou alguns personagens, e esse Fauzi na sombra desses personagens, que muitas vezes causa uma mistura. Isso que está acontecendo é uma história do Fauzi ou é uma história desse personagem.

O primeiro texto, A Feia Lulu, eu contava a vida do Yves Saint Laurent e do Pierre Berger, seu marido. Então eu falava de um estilista. E aí o Fauzi, que era muito conhecido, o Fauzi Rato em estilista, ele entrava ali como um contraponto. Todo o texto eu escrevi com histórias da vida do Yves que pudessem se parecer com histórias minhas. E lá no meio tinha uma outra história minha pessoal.

O Lili Marlene era uma história sobre um ator transformista, o Lili, e o Fauzi estava bem lá atrás. É o trabalho onde o Fauzi estava mais escondido. Esse era um texto sobre abusos infantis eu fiz uma pesquisa sobre casos de abusos infantis, enfim com várias pessoas e ali eu tinha uma violência sexual, um abuso sexual, um abuso de violência. Existiam ali três ou quatro casos de abuso que não eram necessários meus, mas eu tenho um histórico de abusos infantis. Eu sofri abusos, eu não tratava especificamente do meu, mas a hora que eu falava aquilo, eu assumia aqueles assuntos e aquelas falas. Também existia esse Fauzi por trás.

E o Monstro agora fala de um artista, de um artista visual. É o texto onde mais claramente assumo o formato da performance, ou seja, esse é um trabalho que tem uma série de espaços vagos ali para se adaptarem com os acontecimentos do dia, e de fato o Fauzi está ali em primeira pessoa se colocando.

Então, tem um caminho que faz com que esses três textos sejam uma trilogia, que eu acho que está se encerrando agora, onde tem esse artista, o Fauzi, em primeira pessoa, que primeiro conta a vida ficcional de um estilista, depois, no segundo, a vida ficcional de um artista transformista, e na terceira, de um artista visual.


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O ponto de partida da peça é um episódio trágico da vida de Francis Bacon. O que nesse acontecimento específico o impactou a ponto de virar inspiração para uma obra teatral?

Um dia eu estava assistindo um documentário sobre a vida do Francis Bacon e nesse documentário eles, de maneira rápida, citam um acontecimento na véspera da primeira grande exposição dele em Paris, no Petit Palais. Era a primeira exposição de um inglês na França. Na véspera dessa exposição o namorado se mata, e ele, o Francis, e a agente dele encontram esse corpo e decidem não encontrar o corpo para não ofuscar a abertura da exposição. Achei aquela história muito louca, fiquei meio em choque com aquilo, fiquei pensando como seria aquilo e na mesma hora eu escrevi um conto sobre um artista que encontra o seu namorado morto na véspera da exposição, decide não encontrar esse corpo e nesse mesmo dia vai para essa exposição onde todos os quadros são retratos desse grande amor. E a partir daí que surge esse texto.


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A performance mistura ficção, realidade, artes visuais e interação com o público. Como você pensa essa experiência para que o espectador seja afetado não só intelectualmente, mas também emocionalmente?

Essa performance é um trabalho de olho no olho, é um trabalho de contar uma história olhando no olho das pessoas. A experiência se dá pela presença, pelo contato. Esse é um trabalho feito para poucas pessoas, são 30 pessoas no máximo, porque tem essa intimidade. E acho que a beleza do trabalho está justamente na simplicidade, na objetividade, numa relação muito simples e pura que estabelece uma mágica e que faz esse público entrar nessa viagem.


Depois de temporadas em São Paulo e Salvador, a peça chega ao Rio. Qual é a expectativa de apresentar esse trabalho para o público carioca e que mensagem você espera que ele leve consigo após o espetáculo?

Desde que eu escrevi o primeiro texto, sempre sonhei em apresentar meu trabalho no Rio. O Rio é uma cidade muito especial para mim, que eu tenho muitos amigos. Enfim, cheguei agora e chego num momento muito especial, num lugar muito especial, porque se eu tivesse que escolher um lugar de desejo, esse lugar seria o Teatro Poeira, que é um lugar que eu acho incrível, eu admiro muito o trabalho de todos aqui, e a forma como esse teatro foi criado, pela Marieta, Andréia e a Derbal. Eu tenho maior respeito e carinho pelo lugar.

Estar aqui para mim é muito significativo. A gente vem de temporadas de sucesso. Por onde tem passado, tem conseguido deixar o público muito tocado com o trabalho, e acho que a minha expectativa para o Rio é a melhor de todas. A gente vem para uma temporada boa, são dois meses. As expectativas ótimas! Estou muito feliz de estar aqui.




Ficha técnica:

Diretor, ator e autor: Fause Haten

Desenho de luz original: Caetano Vilela 

Adaptação de luz Rio de Janeiro: Leandro Barreto 

Coordenação de produção: Henrique Mariano 

  


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SERVIÇO:

Espetáculo: “Eu Sou um Monstro”

Local: Teatro Poeirinha (Rua São João Batista, 104 – Botafogo)

Tel.: (21) 2537-8053

Temporada: 04 de setembro a 26 de outubro de 2025

Dias e horários: de quinta a sábado, às 20h. Domingo, às 19h.

Classificação indicativa: 14 anos

Duração:  50 min.

Ingressos: R$ 50 (meia-entrada) e R$ 100 (inteira)

Horário de funcionamento da bilheteria: de terça a sábado, das 15h às 20h. Domingo, das 15h às 19h.


 
 
 
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