“O Legado”: Renato Farias revisita Caio Fernando Abreu e celebra 20 anos da Companhia de Teatro Íntimo com amor, memória e vida

Pimenta Rosa
30 de out.
4 min de leitura

Três décadas após “Pela Noite”, de Caio Fernando Abreu, o diretor retoma o diálogo com o escritor e com a geração marcada pela chegada do HIV, em um espetáculo que transforma dor em afeto e celebra o direito de amar sem culpa.

Exatos trinta anos após a estreia de Pela Noite, texto de Caio Fernando Abreu, o diretor Renato Farias retorna à obra do autor gaúcho para criar O Legado – Um diálogo com Caio Fernando Abreu, espetáculo inédito que marca os 20 anos da Companhia de Teatro Íntimo. A montagem, aprovada pelo Sesc RJ Pulsar, fica em cartaz até 9 de novembro, de quinta a domingo, no Teatro de Arena do Sesc Copacabana.

A nova criação parte de uma história real: a presença de Caio Fernando Abreu na estreia de Pela Noite, em 1995, quando escreveu três cartas ao então jovem diretor, duas delas agora reveladas e inseridas na dramaturgia. “As palavras de Caio abrem O Legado. São a voz de um escritor que continua vivo em cada gesto, em cada olhar”, conta Farias.

Nesta remontagem, três homens gays revisitam as décadas de 1980 e 1990 e relembram amores interrompidos pela chegada do HIV. A peça propõe um encontro entre gerações, entre a memória e o presente, entre o medo e a celebração da vida. “O HIV hoje é, como diz minha amiga Márcia Rachid, uma sentença de vida. O que queremos é celebrar essa existência plena, sem culpa e com amor”, afirma o diretor, que também atua no espetáculo.

O reencontro com Caio é, para Farias, mais do que uma homenagem — é uma conversa íntima com o tempo. “Voltar ao Sesc Copacabana, onde também estreamos Os Dragões, em 2005, é retomar um diálogo com esse autor que nunca nos abandonou”, diz ele. “Caio foi uma das primeiras vozes a nos dizer que o amor é resistência.”

Além de seu trabalho no teatro, Farias também atua na Fiocruz, nas áreas de comunicação e saúde, e lembra sua participação na resposta brasileira à epidemia de HIV-AIDS. “O Brasil foi exemplo para o mundo, e ainda é. É importante lembrar que viver com HIV é viver com dignidade e amor”, destaca.

No elenco, estão Alain Catein, Aleh Silva, Dodi Cardoso, Gabriel Contente, João Manoel, Márcio Januário, Orlando Caldeira, Renato Farias e Thiago Mendonça. Eles representam casais de diferentes gerações, costurando o passado e o presente em cenas que mesclam humor, erotismo e ternura.

Para Mendonça, que nasceu em 1980, o espetáculo toca em uma memória afetiva profunda. “Lembro de Lauro Corona nas novelas, de Cazuza, de Renato Russo. Eles me formaram. Hoje, posso viver em um tempo de mais liberdade e direitos — e isso é fruto da coragem da geração que veio antes”, diz o ator e cofundador da Companhia.

A montagem parte da dor para falar de amor — e da morte para falar de vida. “Somos homens gays em cena, mas queremos que essa história fale a todos. Durante muito tempo fomos vistos como os protagonistas de uma tragédia. Agora queremos ser protagonistas da alegria, do cuidado, da saúde e da celebração”, diz Farias.

Com texto e direção do próprio Renato Farias, O Legado faz do palco um espaço de cura simbólica e de partilha. O espetáculo propõe um olhar generoso sobre o passado, sem apagar a dor, mas transmutando-a em memória e orgulho.

“Falar de legado é falar de vida, de amizade, de prazer, de cuidado. É lembrar que sobrevivemos porque estivemos juntos”, resume o diretor.

O Legado é, acima de tudo, um tributo à geração que aprendeu a amar em meio ao medo — e um convite para que as novas gerações celebrem esse amor como ele é: plural, possível e luminoso.

SERVIÇO

“O Legado – Um diálogo com Caio Fernando Abreu”

Temporada: Até o dia 09 de novembro de 2025

Horário: Quinta-feira a sábado, às 20h. Domingo, às 18h

Local: Arena do Sesc Copacabana

Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 - Copacabana - Rio de Janeiro

Ingressos: R$ 30 (inteira); R$ 15 (meia entrada para casos previstos por lei, estendida a professores e classe artística mediante apresentação de registro profissional, convênio e programa Mesa Brasil); R$ 10 (credencial plena); Gratuito (público PCG).

Bilheteria - Horário de funcionamento: Terça a sexta-feira - das 9h às 20h; Sábados, domingos e feriados - das 14h às 20h

Informações: (21) 3180-5226

Classificação Indicativa: 18 anos

Duração: 80 minutos

Instagram: https://www.instagram.com/teatrointimo/

FICHA TÉCNICA