Professor Samba” encerra 2025 no Imperator com homenagem vibrante a Ismael Silva
- Pimenta Rosa
- há 3 horas
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Espetáculo premiado revisita a origem do samba no Estácio e destaca a força cultural e política da obra do fundador da primeira escola de samba do Brasil.

O premiado espetáculo “Professor Samba – Uma Homenagem a Ismael Silva” conclui sua temporada de 2025 com apresentações no Imperator, no Méier. Hoje, sexta=feira (12), às 19h, a montagem, que já lotou plateias diversos teatros, celebra a trajetória de Ismael Silva (1905–1978), um dos mais importantes nomes da música brasileira e fundador da lendária Deixa Falar, criada em 1928 e considerada a primeira escola de samba do país. É no universo do Estácio e da Lapa das décadas de 1920 a 1950 que o espetáculo mergulha, conduzindo o público por uma roda de samba repleta de histórias, melodias e a emblemática malandragem boêmia que marcou a cultura carioca.
Escrita por Ana Velloso e dirigida por ela e Édio Nunes, a montagem venceu o Prêmio APTR de Coreografia (Édio Nunes e Milton Filho). Os atores Édio Nunes (indicado ao Prêmio Shell), Jorge Maya e Milton Filho se revezam no papel do compositor, interpretando também outras figuras fundamentais para contextualizar a transformação do samba, do maxixe e das primeiras experiências que moldaram as escolas de samba e a cultura popular brasileira.
A montagem aprofunda temas estruturais da história social do país. Para Édio Nunes, o espetáculo reafirma o legado de Ismael e de outros artistas negros que moldaram o Brasil:
“A transformação do samba, os blocos de carnaval, a virada para a criação da Escola de Samba, o pulsar da bateria, a criação da estrutura não só musical, mas de organização daqueles blocos, cordões, a evolução do maxixe para o samba, são sedimentações feitas a partir do envolvimento de Ismael e seus contemporâneos que transformaram o samba na potência do Rio, num estilo musical que transcende, que é estilo de vida, de cultura, e sociedade que desenha a figura da malandragem, da cabrocha, da cadência, do que se tornou símbolo não só do território fluminense, mas de um país. Assim como o futebol, o Brasil é a terra do samba a partir dele e de outros artistas representados na peça”, diz Édio Nunes.
A reflexão também atravessa a dimensão política dos corpos negros na arte. Ana Velloso reforça que a dramaturgia vai além da biografia:
“Entendemos, Édio e eu, que precisávamos extrapolar o objetivo inicial, de contar a história do sambista do Estácio, que foi um dos criadores da primeira escola de samba. Queríamos traçar um paralelo entre passado, presente e futuro, discutir problemas humanos, enfatizar que corpos negros são corpos políticos, que não podem ser dissociados de sua realidade histórica, social e cultural. Para alcançar esse objetivo, inseri na dramaturgia traços da vida dos atores, que também compõem a cena, ajudando a contar a história de tantos ‘Ismaeis’, artistas brasileiros, negros, que dedicaram suas vidas à construção da nossa cultura”, argumenta a autora e diretora
Narrado com humor, música ao vivo, poesia e emoção, “Professor Samba” resgata a vida do compositor: de sua juventude no Estácio às parcerias com Francisco Alves e Noel Rosa, passando pelos altos e baixos, prisões, reinvenções e consagrações que marcaram sua carreira. O espetáculo reafirma o papel de Ismael como referência incontornável da música brasileira, autor de mais de cem composições que permanecem vivas no repertório nacional.
Ismael Silva (14/09/1905 −14/03/1978)
Nascido em Niterói, Ismael Silva, caçula de um cozinheiro e de uma lavadeira, mudou-se com a mãe e os quatro irmãos para o Rio de Janeiro, após a morte precoce do pai. No Rio Comprido, bairro vizinho ao Estácio, o menino tornou-se o melhor aluno da escola. Começou na rua o interesse pelo samba. O primeiro, Já desisti, ele compôs aos 14 anos de idade. Muito jovem começou a frequentar os bares do Estácio, onde os sambistas se reuniam. Lá conheceu Francisco Alves, um dos principais cantores da época, que procurou o jovem para gravar seus sambas. O compositor aceitou e, ao lado de Nilton Bastos e Francisco Alves, integrou uma das mais famosas parcerias da música popular brasileira, o trio Os Bambas do Estácio.
Ismael foi um dos fundadores da primeira Escola de Samba do Brasil, a Deixa Falar, em 1928, que depois virou a Estácio de Sá. Tornou-se parceiro frequente de Noel Rosa. Mas, após a morte do amigo, em 1937, Ismael passou por momentos de extrema dificuldade: foi preso por uma briga de bar, teve problemas financeiros e ficou um tempo isolado. A volta triunfal ocorreu em 1950, quando seu samba Antonico foi gravado por Alcides Gerardi, com grande sucesso.
Nas décadas de 60 e 70, foi reverenciado por diversos artistas como Chico Buarque, Vinícius de Moraes e os integrantes do Zicartola. A vida de Ismael, cheia de altos e baixos, e sua obra genial, são a inspiração de nossa homenagem. O artista morreu em março de 1978, aos 73 anos, deixando mais de cem composições, que fazem parte da cultura musical brasileira.
Autora premiada
Atriz, produtora e autora, Ana Velloso participou de espetáculos como Dolores (direção De Bonis), Clara Nunes – Brasil Mestiço (Dir. Gustavo Gasparani), Estatuto da Gafieira e Vianinha (ambos dirigidos por Aderbal Freire Filho), Aurora da Minha vida (dir. Naum Alves de Souza), A Revista do ano (dir. Sergio Modena) e Sambra – 100 Anos de Samba (dir. Gustavo Gasparani) entre outros. Assinou, em parceria com Vera Novello, as peças: Você não passa de uma Mulher, Rio de que sempre Rio, Atlântida – O reino da Chanchada, Clara Nunes – Brasil Mestiço, Estatuto da Gafieira e É a Mãe.
Idealizadora e autora da trilogia Sambinha, Bossa Novinha e Forró Miudinho, recebeu o prêmio de melhor autora por Sambinha e Forró Miudinho. Ganhou premiação similar, ao lado de Vera Novello, pelo musical O Choro de Pixinguinha. Foi indicada ao prêmio de melhor Autora por Kid Morengueira – Olha o Breque!, juntamente com Andrea Fernandes, e Atlântida – Uma Comédia Musical, com de Vera Novello. Autora da série Brasileirinho, estreou na TV em 2025. É autora e foi produtora do espetáculo Copacabana Palace – O Musical, com estreia em 2021, no Teatro Copacabana Palace.
Serviço
Professor Samba – Uma Homenagem a Ismael Silva
Datas:
12 e 18 de dezembro
Horário: 19h
Local: Imperator – R. Dias da Cruz, 170 – Méier, Rio de Janeiro
Ingressos: R$ 5 (inteira) / R$ 2,50 (meia)
Duração: 80 minutos
Classificação: 14 anos

