Vereadora Paolla Miguel: a voz da periferia e da comunidade LGBTQIA+ em Campinas
Atualizado: 20 de mai. de 2024
Engenheira de Computação e ativista, Paolla enfrenta desafios e controvérsias enquanto luta por justiça social e Direitos Humanos na Câmara Municipal
Figura proeminente na luta pelos direitos civis, especialmente no contexto da comunidade LGBTQIA+, dos trabalhadores e das populações periféricas, a vereadora Paolla Miguel (PT-Campinas) é uma mulher da classe trabalhadora, feminista e engenheira de computação formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Criada na Vila União, em Campinas, Paolla teve sua educação completamente fundamentada na rede pública de ensino, antes de cursar a universidade e obter seu diploma técnico em Informática pelo Colégio Técnico de Campinas (Cotuca).
Inspirada pela mãe, uma professora da rede estadual e sindicalista da APEOESP, Paolla sempre esteve envolvida nas lutas dos educadores por melhores condições de trabalho e uma educação pública de qualidade. Desde jovem, sua militância se manifestou no movimento de juventude e estudantil do Partido dos Trabalhadores (PT), culminando em sua filiação aos 16 anos. Seu envolvimento e dedicação a levaram a posições de destaque dentro do partido, incluindo a Secretaria Municipal de Juventude do PT e a participação no Diretório Nacional em Brasília.
Paolla Miguel não apenas acompanhou sua mãe em atos e protestos, mas também se destacou em diversas lutas significativas, incluindo as mobilizações contra o golpe parlamentar na presidenta Dilma Rousseff, e contra o fechamento das escolas em São Paulo. Em 2018, disputou sua primeira eleição para deputada federal e, dois anos depois, foi eleita vereadora em Campinas com 2.728 votos. Atualmente, é a vereadora mais jovem do mandato 2021-2024, e seu trabalho parlamentar é centrado na defesa dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores, das populações periféricas, e no combate ao racismo, machismo e LGBTfobia.
Paolla Miguel está no centro de uma controvérsia recente, com a Câmara Municipal de Campinas votando pela abertura de um processo para cassar seu mandato. Hoje, ela nos concede uma entrevista para discutir essa situação, suas perspectivas sobre os desafios enfrentados e a trajetória que a moldou como uma das principais vozes progressistas de Campinas.
Por que a Câmara Municipal de Campinas votou pela abertura do processo para cassar seu mandato?
Penso que a abertura da Comissão Processante contra o nosso mandato é infundada, promovida por um elemento da extrema-direita de Campinas. Estamos na luta para reverter essa Comissão Processante e contamos com o bom senso dos demais vereadores e vereadoras para que possamos seguir com o nosso mandato, na luta pela população que mais precisa.
Qual é a acusação que motivou a abertura da Comissão Processante contra a senhora?
A destinação de emendas parlamentares via Secretaria de Cultura para uma festa ligada à comunidade LGBTQIAPN+ que já havia sido realizada com caráter público diversas vezes. Apoiamos com palco, som, gradis e banheiros químicos, apenas.
Como a senhora tem lidado com as críticas e os desafios políticos, como a abertura da Comissão Processante contra seu mandato?
Estou tranquila diante da Comissão Processante aberta pela Câmara Municipal de Campinas. Este é um instrumento legítimo da Casa. Me sinto sim atacada e perseguida pelos setores conservadores e extremistas por um episódio absolutamente infundado e sei que vou provar minha inocência nesse caso. Tenho certeza que meus pares vão entender o que aconteceu e encerrar esse caso. A extrema-direita utilizou esse episódio como a fagulha necessária para atacar nossa reputação, que até aqui tem sido de muito trabalho pelo povo, pelas populações periféricas, as mulheres, a juventude negra, a comunidade LGBT. Um ataque orquestrado que tem sido muito comum contra parlamentares com meu perfil: mulher, jovem, negra e LGBT. Uma violência política de gênero, com caráter racista e LGBTfóbico. Um episódio muito semelhante ao que ocorreu com o deputado estadual Renato Freitas, em Curitiba, inclusive, quando ainda era vereador do PT na capital paranaense.
Como a sua trajetória de vida a influenciou na sua atuação política?
Sou uma mulher negra, filha de uma professora aposentada e sindicalista, nascida e criada na periferia de Campinas. Vi e vivi de perto as dificuldades de ser uma mulher preta periférica nesta cidade ainda tão racista e elitista. Nossa atuação política, justamente por isso, tem como foco o combate ao racismo e às desigualdades sociais. Fazemos um mandato de luta, democrático, popular, com diálogo com movimentos sociais e a periferia.
Qual é o seu histórico de militância no
movimento estudantil e sindical, e como isso moldou suas prioridades políticas?
Estive na rua 2013, em meio aos grandes protestos de rua contra o aumento da passagem de ônibus em todo o país; também contra o fechamento de escolas estaduais em 2015; fui secretária de juventude do meu partido, o PT. Todo esse histórico de luta me fez perceber o quanto a juventude ainda precisa de representação na política, para que suas pautas sejam debatidas e levadas aos espaços de poder. Até hoje tenho as demandas dos estudantes como uma das minhas principais bandeiras de luta.
Quais são os principais temas e causas defendidos em seu mandato como vereadora de Campinas?
Defendemos a pauta antirracista, a defesa do povo na periferia, as causas das mulheres, da comunidade LGBTQIAPN+, a distribuição de medicamentos à base de Cannabis no sistema público de saúde, além da cultura e da educação.
Qual é o impacto de sua presença na Câmara Municipal de Campinas, especialmente considerando sua posição como a vereadora mais jovem do mandato?
Sentimos que temos um papel de levantar as pautas da juventude e da juventude negra naquele espaço. De vocalizar suas demandas e protestos. Fazemos isso com muito orgulho e responsabilidade.
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