top of page

Zona Norte celebra seus criadores: Bembar recebe entrega da Medalha Pedro Ernesto com programação cultural

  • Foto do escritor: Pimenta Rosa
    Pimenta Rosa
  • há 30 minutos
  • 6 min de leitura

Honraria máxima da Câmara do Rio reconhece as trajetórias de José Araújo e Julinho Terra, referências da arte e da militância cultural nos territórios periféricos da cidade


ree

O Bembar, no Cachambi, Zona Norte do Rio de Janeiro, foi palco, na noite de ontem (14) de celebração, memória e resistência cultural. O espaço recebeu a cerimônia de entrega da Medalha Pedro Ernesto, a mais alta honraria concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, aos artistas José Araújo e Julinho Terra, dois nomes fundamentais da produção artística e da militância cultural nos subúrbios cariocas. A solenidade contará com programação cultural aberta ao público.


Símbolo do reconhecimento do povo carioca àqueles que se destacam na vida social, cultural e política da cidade, a Medalha Pedro Ernesto foi entregue por indicação do gabinete do vereador William Sir (Psol-RJ), com aprovação unânime do plenário da Câmara. A homenagem nasce do compromisso com a valorização de artistas que, embora nem sempre visibilizados pela grande mídia, construíram trajetórias sólidas e transformadoras nos territórios historicamente negligenciados pelo poder público.


Idealizador da homenagem, o historiador e militante cultural Marcos Ribeiro, referência na Zona Norte há mais de três décadas, destaca o caráter reparador do reconhecimento:


“A cidade do Rio de Janeiro precisa reconhecer pessoas fundamentais na história da militância e da cultura. José Araújo é um dos percursores do teatro negro no Rio, com uma trajetória que impressiona quando a gente se aprofunda. E Julinho Terra é um poeta magnífico, com uma militância cultural e social admirável. É uma homenagem justa a artistas da periferia que muitas vezes ficam invisíveis”, afirmou.

O evento também reafirma o papel do Bembar como espaço de resistência cultural na Zona Norte. Embora seja um estabelecimento comercial, o local tem se consolidado como ponto de encontro para atividades artísticas e políticas, suprindo a carência de equipamentos culturais na região. “A Zona Norte é muito abandonada de aparelhos públicos de cultura, de teatro. A gente improvisa, mas improvisando vai sobrevivendo e levando arte para onde ela é necessária”, ressaltou Marcos Ribeiro.


ree

Para o vereador William Siri, a entrega das comendas simboliza o reconhecimento da importância histórica e cultural da Zona Norte para a cidade:


“Homenagear Zé Araújo e Julinho Terra é homenagear décadas de dedicação à cultura, ao samba, ao teatro, à poesia e à política, porque cultura é política. Eu me sinto honrado em poder conceder esse selo de reconhecimento a quem serviu a cidade com tanto amor”, declarou.

Com longa trajetória artística, Julinho Terra celebrou a homenagem como um marco de sua caminhada. Poeta, dramaturgo e ator, ele relembrou o início de sua atuação na década de 1970, levando poesia às ruas, escrevendo peças teatrais e criando o Grupo de Cultura pelo Subúrbio. Autor de livros de poesia e do monólogo Velho Ateu, Julinho prepara para o próximo ano o lançamento de uma obra infantil:


"Essa medalha representa uma vida inteira dedicada à arte feita no chão da cidade. Para mim a importância desse evento é porque são 50 anos fazendo arte, que começou em 74 na UFF (Universidade Federal Fluminense). A gente começou a levar a poesia para a rua. Aí em 77 eu escrevi a minha primeira peça de teatro, que era 'Uma vez um homem chamado João Sem Medo'. E a partir daí a gente criou o grupo de cultura pelo subúrbio, aí eu fiz mais cinco peças e agora estou com esse monólogo, Velho Ateu. Lancei dois livros de poesia, que é o 'Tem um livro para o dinheiro', e o último que foi em 2023, que é 'Frases Capeira com Cheiro de Mexerica'. E ano que vem eu estou lançando um livro infantil”, afirmou.

Já José Araújo, ator, compositor, cantor e roteirista, com mais de 52 anos de estrada, destacou o significado simbólico da comenda como reconhecimento de uma trajetória marcada pela luta:


A medalha representa o reconhecimento de toda a minha luta, de toda a minha história, de vida, de batalha. A gente lutou em batalha para receber uma medalha, a gente batalha para conseguir abrir espaço, ser referência para outras pessoas, é lutar contra essa marginalidade que a sociedade nos coloca, nessa margem. Então a gente luta por inclusão social, inclusive nossa, como negros, como atores, como solidão. Então acho que quando ela vem e tem um reconhecimento, é lógico que a gente se sente feliz, se sente orgulhoso por ter lutado, por ter encontrado tanta gente que acredita no nosso trabalho, que respalda tudo o que é de paz”, garantiu.


José Araújo


ree


Trajetória artística marcada pela persistência, pela versatilidade e pelo compromisso com a cultura negra e popular brasileira, José Araújo é formado em Bacharelado e Licenciatura em Artes Cênicas pela UNIRIO, soma 52 anos de carreira, com atuação consistente no teatro, no cinema e na música, sempre orientado pela emoção, pela verdade cênica e pela dimensão política da arte.


Sua aproximação inicial com o universo artístico se deu pela música, ao participar de programas de calouros ainda jovem. Foi nesse contexto que conheceu a montagem de Orfeu Negro, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, encenada no Renascença Clube, espaço histórico de resistência e afirmação da cultura negra no Rio de Janeiro. A estreia como ator aconteceu ali, no início da década de 1970, ao lado de artistas como Zezé Motta, mesmo período em que ingressou na UNIRIO, onde se formou como ator e professor de artes cênicas.


Ao longo da carreira, José Araújo integrou montagens que circularam por diferentes regiões do Brasil e também por Portugal, incluindo espetáculos com textos de Nelson Rodrigues, experiências que, segundo o próprio artista, foram decisivas para sua formação humana e artística.


Nos últimos anos, vive um momento de forte projeção no audiovisual. Em 2024, participou de três curtas-metragens, entre eles Memórias com Vista para o Mar, dirigido por Marton Olympio e exibido no Festival do Rio, que recebeu diversas premiações, entre elas a de Melhor Atorr. Na obra, interpreta Félix, um pintor negro octogenário que revisita sua trajetória em diálogo com o mar, em uma narrativa atravessada por memória e ancestralidade.


Para 2026, José Araújo aguarda novos lançamentos no cinema, como o longa Solina, de Larissa Fernandes, protagonizado por Duda Santos, no papel de Pai Acácio, fundador de uma comunidade quilombola. Integra ainda os elencos dos curtas Atenção Primária, de Daniel Lobo, vivendo Seu Sérgio, ao lado de Joelma Santana, e Raízes em Cena, dirigido por Lucas Peçanha, no papel de Anísio, além do longa Proteção, de Alberto Sena, que aborda racismo estrutural e reparação racial.


Conjuntamente com à atuação artística, José Araújo mantém forte compromisso com a formação cultural, ministrando oficinas de teatro na UERJ, desenvolvendo projetos musicais — como o CD Duas Ilhas (2014) — e preparando a retomada de um monólogo em homenagem a João Cândido, símbolo da resistência negra no Brasil.




Julinho da Terra


ree

Nascido Esmerino Rodrigues Junior, hoje é conhecido pelo nome artisticamente Julinho Terra, construiu uma trajetória marcada pela arte comprometida com o território, a palavra como instrumento de transformação e a atuação permanente na vida cultural dos subúrbios do Rio de Janeiro. Poeta e psicólogo, nasceu em 30 de dezembro de 1949, no bairro de Higienópolis, Zona Norte da cidade, onde iniciou uma caminhada que atravessa mais de cinco décadas de produção artística e militância cultural.


Sua formação acadêmica começou em 1974, na Universidade Federal Fluminense (UFF), período em que passou a integrar o movimento poético “Passa na Praça que a Poesia Te Abraça”, levando versos para o espaço público e ampliando o acesso à literatura fora dos circuitos tradicionais. Três anos depois, em 1977, escreveu, dirigiu e atuou em sua primeira peça teatral, Era uma vez um homem chamado João sem Medo, marco inicial de sua trajetória nos palcos. A partir daí, Julinho Terra consolidou-se como diretor, ator e autor de outras cinco montagens teatrais, sendo a mais recente o monólogo Um Velho Ateu, apresentado em 2025 nas localidades de Lumiar e São Pedro da Serra.


Ainda em 1977, fundou o Grupo Teatral Berro Solto, que, em 1980, se transformou no Grupo Cultural “A Quem Interessa?”, tornando-se referência no subúrbio carioca. O coletivo atuava de forma multidisciplinar, reunindo cinco frentes de ação: teatro, jornal, violadas, cineclube e atividades recreativas voltadas para crianças, reafirmando o compromisso com a democratização da cultura e a formação cidadã.


Ao longo de sua trajetória, Julinho Terra integrou importantes movimentos e espaços de resistência cultural. Participou do movimento “Poeta Saia da Gaveta”, no Méier; do CASARTI – Casa do Artista Independente, em Cordovil, onde organizou saraus de poesia; e esteve presente no Clube do Vinil e no movimento artístico-cultural “Possibilidades”, na Biblioteca Euclides da Cunha, na Ilha do Governador. Em Todos os Santos, na Quina Suburbana, coordenou saraus de poesia e debates políticos, além de participar de diversas antologias e ser premiado em concursos literários.


Na literatura, lançou dois livros de poesia: Tenho em mim um candeeiro e Frases capengas com cheiro de mexerica. Este último foi viabilizado por meio de financiamento coletivo e permitiu ao poeta realizar um de seus maiores sonhos: visitar escolas públicas, ministrar oficinas de poesia e doar exemplares de sua obra, ampliando o alcance social da literatura.


Paralelamente à produção artística, Julinho Terra construiu carreira como psicólogo, com formação reichiana e especialização em psicologia esportiva aplicada a atletas de alto rendimento. Atuou com diferentes modalidades esportivas, unindo o cuidado com a subjetividade, o corpo e o desempenho humano.




 
 
 
White on Transparent.png

Inscreva-se no site para receber as notícias tão logo sejam publicadas e enviar sugestões de pauta

  • Facebook
  • Instagram
  • Twitter
  • YouTube

Obrigado por inscrever-se!

@2022 By Jornal Pimenta Rosa

bottom of page