'Homem com H' revela a trajetória íntima e revolucionária de Ney Matogrosso
- Pimenta Rosa
- há 1 hora
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Interpretado por Jesuíta Barbosa, o artista ganha cinebiografia que revisita sua infância, enfrentamentos com o pai militar, o sucesso com Secos & Molhados e a resistência contra a censura e o preconceito
Com uma trajetória marcada por ousadia, arte e resistência, Ney Matogrosso chegou às telas do cinema brasileiro em 'Homem com H', cinebiografia dirigida por Esmir Filho. Interpretado por Jesuíta Barbosa, o longa percorre a vida do artista desde sua infância no interior do Mato Grosso do Sul até os dias atuais, mergulhando nas camadas mais íntimas de sua história — dos amores aos embates familiares, dos palcos iluminados à solidão por trás da máscara.
Provocador desde os anos 1970, Ney Matogrosso desafiou convenções de gênero e comportamento com figurinos ousados, voz potente e performances marcantes. O filme explora justamente esse lado revolucionário do artista, reconhecendo-o como um dos maiores ícones da música e da liberdade artística no Brasil. Da androginia que escandalizava parte da sociedade à força com que encarou o moralismo da ditadura militar, 'Homem com H' é mais que uma cinebiografia — é um manifesto contra os padrões que tentaram silenciá-lo.
Com colaboração direta de Ney, o roteiro revisita momentos de tensão com o pai, um militar rígido que exigia que o filho “se comportasse como homem”, frase que, no filme, ecoa como símbolo do autoritarismo patriarcal enfrentado por muitas infâncias dissidentes. Adotar o sobrenome 'Matogrosso' — herdado justamente desse pai — foi uma das muitas ironias e reinvenções que marcam a personalidade de um artista que se tornou sinônimo de transgressão.
O longa também destaca momentos sensíveis, como a relação afetiva com Cazuza (interpretado por Jullio Reis) e o impacto da epidemia de Aids nos anos 1980, período em que Ney perdeu amigos e colegas de palco. A canção 'Sangue Latino', sucesso do grupo Secos & Molhados, embala cenas que recuperam a potência artística e política daquele tempo — e a dor de viver num país que, até hoje, lidera rankings globais de violência contra pessoas LGBTI+.
Ao lado de Jesuíta Barbosa, o elenco conta ainda com Bruno Montaleone, compondo um retrato plural e sensível do universo afetivo e artístico de Ney. Na CCXP23, Jesuíta declarou: 'É um grande artista, talvez um dos mais performáticos que temos. O jeito que ele traduz o Brasil é desafiador e emocionante'.
Com produção da Paris Entretenimento, 'Homem com H' é também uma homenagem à coragem de quem nunca se curvou diante da norma. Mais do que contar a história de Ney Matogrosso, o filme convida o público a refletir sobre liberdade, arte e identidade — temas ainda urgentes em pleno 2025.